Cometemos adultério quando nos desviamos dos compromissos

Na noite de ontem, dia 12 de Setembro, 61 grupos de peregrinos vindos de catorze países participaram nas celebrações nocturnas da Peregrinação Aniversária de Setembro, presididas por D. Ilídio Leandro, Bispo de Viseu. Até às 20h00 (de ontem), de acordo com informações da secretaria da Associação de Servitas de Nossa Senhora de Fátima, 1327 peregrinos foram atendidos, nas diversas secções de acolhimento: Posto de Socorros – 61; Confissões – 902; Lava-pés – 155; Promessas – 65; Admissão de Doentes para a Bênção do Doente – 104. Terminada a Eucaristia e após o regresso da Imagem de Nossa Senhora de Fátima à Capelinha das Aparições, a Vigília de Oração continuou, como habitualmente nas peregrinações Aniversárias, por toda a madrugada do dia 13, das 00h00 até às 7h00. Todos os momentos de oração; que usualmente ficam a cargo de grupos de peregrinos, de movimentos religiosos ou de instituições católicas; foram desta vez orientados pelos capelães do Santuário de Fátima e contaram com a participação dos funcionários do Santuário, dos voluntários e seus familiares, que, pela primeira vez nesta celebração, se juntaram, de forma organizada, aos peregrinos do Santuário. “A vigília de oração durante toda a noite é um dos grandes sinais de Fátima. Desde o início, o povo vinha de véspera. Muitos por fervor espiritual, alguns por não terem onde descansar, sempre as grandes noites de Fátima se caracterizaram pela oração e pela penitência: primeiro na igreja paroquial, depois no recinto do santuário, nas colunatas e na basílica. Eram e são noites de Deus, noites de Céu, que não podemos deixar de renovar, até como reparação pelos males que vai semeando entre nós a multiplicação de noitadas de paródia, onde tantos desprezam a sua dignidade humana, esquecem a família, e perdem a graça divina”, escreveu o Reitor do Santuário no convite endereçado aos funcionários e voluntários do Santuário. “Noites de Fátima são para alguns de nós noites de trabalho, e devem ser para todos noites de vigília. Seremos generosos, que Nossa Senhora também o tem sido para connosco. Uns virão só para orar e meditar. Os que têm o dom da música ajudarão nos cânticos. Todos sairemos mais ricos espiritualmente. Todos mais decididos a amar este santuário, onde até irmãos de outros países longínquos passam também a noite connosco, apesar de nada compreenderem da nossa língua”, afirmou Mons. Luciano Guerra no seu apelo, acolhido por 65 funcionários e colaboradores voluntários do Santuário. Homilia da Eucaristia da noite de 12 de Setembro «Celebramos o Preciosíssimo Sangue de Jesus Cristo. O mesmo é dizer que celebramos a interioridade da vida, na sua fonte e totalidade. Celebramos o próprio núcleo do coração, enquanto símbolo e expressão da vida e do amor. Jesus Cristo é de uma unidade e coerência extremas no cumprimento da vontade do Pai, entendendo-a como total entrega no Amor: sendo o Pai a fonte da Vida e do Amor; sendo Jesus Cristo, Deus com o Pai – a visibilidade e a Palavra do Amor – Jesus ama não com palavras humanas, mas como Palavra de Deus. Ama tomando-Se a prova e o sinal visíveis do Deus, Amor e Fonte de vida, dando o sinal máximo – o Seu Preciosíssimo Sangue… Temos neste gesto a síntese, o cumprimento e a plenitude; o ágape e a coroa de toda à Redenção. Temos aqui a gramática e, ao mesmo tempo, a referência e a chave interpretativa para a nossa vivência do amor. Porque, sendo humanos, somos, por vontade e amor de Deus, Seus filhos; precisamente porque filhos, somos chamados à plenitude da pertença no Amor. Então, e por isso, devemos aprender esta gramática e ter em conta esta referência e chave interpretativa, sem o que desperdiçamos a Cruz e o Sangue de Cristo que, derramado por nós, nos purifica e nos embebe, transformando-nos n’Ele. O amor cria uma relação. Na 1ª leitura que ouvimos, a relação é selada com o sangue aspergido sobre o povo, traduzindo a obrigação de fidelidade às palavras dadas e aceites – a base e os princípios da relação. Na 2ª leitura, S. Pedro lembra-nos que esse sangue de sacrifícios de animais, aspergido sobre o povo, era apenas o sinal da redenção plena e total, feita com o sangue que nos iria purificar definitivamente – o de Cristo. A nossa fidelidade já não é atestada por um sangue qualquer, mas vale o sangue de Jesus Cristo, o Cordeiro imaculado e sem defeito algum, que Se manifestou por nosso amor. O Evangelho apresenta um exemplo dessa fidelidade – o amor no matrimónio. O amor verdadeiro supõe a rejeição de qualquer divórcio; condena qualquer repúdio do outro, mesmo que não leve ao divórcio, pois significa sempre uma entrega a viver na doação e na entrega fiéis. O outro – todo o outro – é importante demais e vale o Sangue preciosíssimo do Senhor, de modo que, o repúdio no coração, mesmo sem a concretização exterior de actos visíveis, é ofensa ao outro e é repúdio, também, do Sangue de Jesus. De facto, a promessa do cumprimento de tudo o que diz o Senhor e que nós aceitamos, em juramento que nos compromete – nos sacramentos do baptismo, do matrimónio ou da ordem ou noutras promessas, mais ou menos solenes essa promessa é quebrada, sempre que deixamos de viver o que prometemos, sempre que não somos fiéis aos compromissos assumidos… Cometemos adultério quando nos desviamos dos compromissos e quando traímos a confiança que, sobre a nossa palavra e a nossa pessoa, os outros têm legitimidade de ter e de esperar. Isto porque, como nos diz o Senhor no Evangelho, “no começo não foi assim”… No começo do plano de Deus sobre o amor; no começo do meu enamoramento por tudo o que me levou a tomar uma opção decisiva na vida – pela pessoa do outro, no matrimónio ou pela pessoa de Jesus Cristo, na consagração… No começo está o amor; no começo está a fidelidade ao amor; no começo está a entrega ao amor; no começo está a confiança mútua e recíproca, assente no amor; no começo está um projecto para toda a vida, selado com a nossa vontade e o nosso compromisso e abençoado com o Preciosíssimo Sangue do Senhor Jesus Cristo… Esta e não outra pessoa; este e não aquele caminho de consagração; este e não aquele estilo e projecto de vida feliz… pessoa, caminho e projecto que foram tão fortes na minha decisão que me levaram a aceitar e a fazer “tudo o que o Senhor disse”… são eles o “começo”, o “princípio”, a que eu preciso de dar vigor todos os dias, renovando o compromisso firme e determinado que o Sangue do Senhor me ensina e me estimula a respeitar, a acolher e a amar… A palavra “adultério” significa, na sua raiz, ir para outras opções, diferentes das assumidas, seja na fé, seja na doutrina, seja na ética – do baptismo, do matrimónio, da ordem ou de qualquer outro caminho de comportamentos humanos ou cristãos… Estamos habituados a radicalizar em determinados campos e a facilitar noutros… Porém, quem se desvia dos irmãos a quem deve amor e serviço fraterno, seja nos hospitais, nas políticas, nos direitos humanos, na vida sacerdotal, na vida familiar, no sector público ou no sector privado… está a cometer adultério, deixando compromissos e obrigações assumidas para beneficiar da negligência, da preguiça, do esquecimento ou da injustiça… deixando-se orientar por interesses e fugindo a compromissos… Pergunto: estarei a diminuir a gravidade de um tipo de adultério por enumerar outros? Não nos pede o preciosíssimo Sangue de Jesus Cristo uma purificação e uma conversão de todas as nossas incoerências, hipocrisias e mentiras, assumindo a nossa unidade e integridade de vida? Senhor Jesus Cristo, Tu que derramas o Teu Preciosíssimo Sangue sobre todas as minhas fraquezas, que eu me purifique de toda a minha timidez e que assuma, com coragem e valentia, todos os meus compromissos, vivendo-os na alegria do amor e da entrega aos irmãos. Que eu viva a fidelidade da palavra, a interioridade da decisão e da responsabilidade e a coerência do amor e das atitudes, imitando a Bem-aventurada Virgem Maria, Tua e nossa Mãe, a sempre fiel à Palavra que és Tu, vinda do Pai e a Quem somos chamados a escutar com a assistência e com os dons do Espírito Santo. AMEN». D. Ilídio Leandro, Bispo de Viseu

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