Começou Semana Missionária na Amazónia

Igreja do Brasil reflecte sobre a realidade do maior estado do país.

Começou neste Domingo no Brasil a Semana Missionária para a Igreja Católica na Amazónia. O objectivo desta iniciativa, que se repetirá anualmente, é chamar a atenção para o maior Estado do país e para a realidade social e ambiental em que vive o seu povo.

Até 31 de Outubro serão promovidos fóruns e seminários dedicados ao tema “Cristo aponta para a Amazónia”, expressão proferida em 1972 pelo Papa Paulo VI. O evento, que ocorre em Belém, terá reflexos em todas as dioceses brasileiras.

A Comissão dos Bispos para a Amazónia, que organiza esta Semana, recorda que “as primeiras comunidades cristãs testemunhavam o amor de Cristo, sendo solidárias com as mais carentes”. Por isso, “a colaboração com as Igrejas da Amazónia que enfrentam imensos desafios na evangelização, é tarefa e missão de toda Igreja no Brasil”. Por isso “é necessária uma experiência de conhecimento da realidade”.

Encontrar alternativas ao modelo económico e deter o crime

O modelo económico que domina a Amazónia “privile­gia o lucro acima da vida do povo e do respeito à natureza”, afirma o documento que enquadra a assembleia.

Ao desmatamento, às queimadas, às centrais hidroeléctricas e à actividade das madeireiras, mineradoras e explorações agrícolas de grande dimensão, é preciso contrapor um “projecto alternativo de desenvolvimento”, constituído por “experiências cooperativistas, economia solidária ou de mercado alternativo, onde os trabalhadores não apenas produzem, mas também industrializam e comercializam”.

Perante diferentes perspectivas de progresso, a Igreja expressa a sua preocupação pelas “declarações de organismos estatais e de polí­ticos, afirmando que os Povos Indígenas são empecilhos no desenvolvimen­to da região”.

O crescimento das capitais dos estados e das cidades de média dimensão tem implicado o “esvaziamento demográfico do interior, não só do campo, mas também das cidades e vilas”, pelo que “a população sofre os efeitos de uma migração desordenada (…) e vive em situa­ções precárias”, indica o texto da Comissão Episcopal.

O transporte de drogas, que encontra na Amazónia um dos seus “maiores corredores”, tem como consequência a detenção de pequenos traficantes, “jovens e pobres”, “enquanto que os grandes andam impunes e soltos”. Para a Igreja, os planos do Governo para o combate ao narcotráfico são “insuficientes”, e a polícia “parece despreparada” para enfrentar o fenómeno.

A desestruturação da família, a violência, a prostituição, o abuso sexual de menores, a escravatura no trabalho agrícola e a “conivência escandalosa de certas autoridades” com determinados tipos de crimes são igualmente referidos no documento que contextualiza a Semana Missionária.

Duas ou três missas por ano

A disseminação de organismos de participação eclesial, uma inculturação vivida “muitas vezes num espírito de resistência”, a evangelização em rede e as experiências comunitárias são algumas das características das Igrejas locais.

Apesar do trabalho dos leigos, que “assumem os grandes desafios da Igreja da Amazónia”, as comunidades não cessam de elevar o seu clamor pela celebração eucarística. Inúmeras são aquelas que só têm esta oportunidade, quando muito, duas ou três vezes ao ano”, lê-se no texto.

Os esforços que as dioceses e comunidades locais têm desenvolvido não são ainda suficientes para a conquista da autonomia, pelo que “há ainda um longo trabalho a realizar. Sem a ajuda de outras Igrejas é impossível, actualmente continuar a realizar o trabalho de evangelização de forma adequada na Amazónia”.

“As distâncias enormes, a esparsa população em muitas regiões, os meios de transporte que exigem manutenção frequente, a formação e sustento dos seminaristas e a realização dos cursos de formação para as lideran­ças, exigem despesas muito além das possibilidades da Igreja local”, refere o documento.

Ainda no âmbito da fé, a Comissão Episcopal assinala a importância da religiosidade popular e da espiritualidade mariana, alertando para a necessidade de valorizar as “expressões emotivas, afectivas e corporais”, no seguimento da relevância do “pentecostalismo”, que está presente sobretudo em contexto urbano.

Além da evangelização, a tarefa da Igreja inclui a promoção dos necessitados, para que, segundo as palavras de João Paulo II proferidas na cidade de Manaus em 1980, passem de “situações de miséria e abandono indignas de filhos de Deus a condições mais humanas de vida”.

Neste sentido, é preciso “educar para um estilo de vida de sobriedade e austeridade solidárias”, apoiando os esforços dos ameaçados pelo desenvolvimento “predatório” para conseguir uma distribuição equitativa de terra, água e espaços urbanos.

Para a Comissão Episcopal, “é causa de imensa alegria ver os Povos Indígenas crescerem nas suas organizações e assumindo o papel de protagonistas sociais da Amazónia”.

Os bispos pedem à Igreja que favoreça a cooperação no domínio teológico, intelectual e económico, ajudando desta forma a “superar o preconceito que existe em muitos lugares do país sobre essa região”.

A Amazónia, que se estende por diversos países, corresponde a 5% da su­perfície da Terra, 40% da América do Sul e 59% do Brasil. Contém 20% da disponibilidade mundial de água doce não-congelada e 80% da água disponível no território brasileiro. Abriga 34% das reservas mundiais de florestas e possui uma gigantesca reserva de minérios.

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