Cinquentenário da Obra Católica Portuguesa de Migrações

Frei Francisco Sales Diniz

O ano de 2012, no contexto da Igreja, será marcado pelas celebrações dos 50 anos da Obra Católica Portuguesa de Migrações (OCPM).

O acompanhamento da diáspora portuguesa por parte da Igreja, com o envio de sacerdotes aconteceu desde o início da expansão portuguesa. Esta presença acentua-se a partir de finais do século XIX, prolongando-se por todo o século XX, encontrando-se em algumas partes do mundo comunidades de emigrantes portugueses que contam com a presença de sacerdotes que os acompanham espiritualmente. O fortalecimento da pastoral das migrações nessa altura surge dentro do contexto das orientações do Papa Leão XIII, o qual pediu um acompanhamento sistemático dos emigrantes e a promoção das paróquias nacionais nos países de acolhimento.

Devido ao grande êxodo dos portugueses para a Europa, particularmente para França e Américas, em 1962 a Igreja sentiu necessidade de criar uma estrutura para o trabalho da pastoral das migrações que já vinha sendo feito. Trata-se de uma estrutura para garantir o apoio espiritual a todos os emigrantes, para promover relações de proximidade entre Igreja de origem e de acolhimento, e para acorrer às necessidades pastorais que fossem surgindo nas comunidades. Por iniciativa do Patriarcado de Lisboa surge, assim, a Obra Católica Portuguesa de Migrações.

Pode dizer-se que o trabalho promovido pela OCPM, ao longo dos anos, foi uma autêntica epopeia. Em tempos difíceis, onde não existiam outras respostas para apoiar e defender os direitos dos nossos compatriotas nos países de acolhimento, foram as missões portuguesas que desenvolveram este papel. Neste trabalho destacaram-se inúmeros sacerdotes e agentes pastorais que, em situações muitas vezes dramáticas, se mantiveram firmes junto dos emigrantes, sendo um ponto de referência para mesmos.

Nos últimos anos a OCPM teve também de voltar o seu olhar para tantos homens e mulheres, que chegaram a Portugal a partir das mais diversas proveniências. Portugal, de país de emigração tornou-se muito rapidamente também em país de acolhimento de imigrantes. A Igreja tem tido, e continua a ter, um papel fundamental neste acolhimento e no acompanhamento de tantas fragilidades e dramas humanos protagonizados pelos imigrantes, procurando, desta forma, ser manifestação da caridade de Cristo que sempre acolheu os mais pobres e fragilizados na sociedade do seu tempo.

A celebração dos 50 anos da OCPM é o momento de celebrar a memória do trabalho realizado e, sobretudo, de evocar e homenagear aqueles que foram os seus protagonistas, que souberam estar lado a lado com os emigrantes, como sinais de esperança e defensores dos seus direitos inalienáveis, escrevendo, com a própria vida, a história da identidade cristã lusa, tornando-a presente nos mais diversos recantos do mundo.

O programa das celebrações está a ser delineado, contudo, podemos adiantar que a abertura solene acontecerá em janeiro de 2012, em Fátima, durante o encontro de formação de agentes sócio-pastorais das migrações e terá o seu encerramento em dezembro, possivelmente em Lisboa.

Dos diversos eventos já programados, salientamos dois momentos centrais: a celebração de um encontro internacional que abrangerá a Igreja em Portugal e a da diáspora portuguesa. Este encontro acontecerá em Lisboa, no mês de julho e juntará em partilha, reflexão e celebração, os Secretariados Diocesanos de Migrações, as Capelanias de Imigrantes que estão em Portugal e as Missões Católicas de Língua Portuguesa espalhadas pelo mundo. O Encontro será aberto a outros setores da Igreja e convidaremos, de forma particular, as Igrejas de acolhimento dos nossos emigrantes e as Igrejas dos países de origem dos imigrantes que estão em Portugal.

As celebrações serão marcadas por diversas publicações comemorativas, de todas as que estão projetadas, salientamos a publicação da História do cinquentenário, que está a ser elaborada pela Doutora Maria Beatriz Rocha Trindade e Dra. Eugénia Costa Quaresma, a qual pensamos que será um excelente contributo para perseverar a memória e divulgar o trabalho da Igreja em prol dos migrantes, e que continua desconhecido em muitos setores da própria Igreja.

A celebração da memória só tem sentido se for celebrada numa perspetiva de futuro, por isso, o olhar que queremos lançar ao passado pretende reavivar a memória da Igreja perante os enormes sucessos de evangelização nas comunidades emigrantes, a fim de a desafiar, no contexto do mundo da mobilidade atual, a promover um novo vigor na pastoral das migrações do presente e do futuro.

Frei Francisco Sales Diniz, diretor da OCPM

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