Cinema: um novo filme de Eric Rohmer

Aos 88 anos Eric Rohmer continua a ser um cineasta inspirado e detentor de um estilo muito pessoal. Muitos anos depois da série de grande fôlego “Seis Contos Morais” e passada também a época de “As Quatro Estações”, Rohmer continua a ter como linha central dos seus filmes uma filosofia da vida tratada com muita leveza e com suporte em diálogos bem construídos que dominam a maior parte de cada obra. “Os Amores de Astrea e de Celadon” mantém ou reforça este percurso. Situa-se a acção no Século XVII, numa zona rural francesa. Não naquela em que no original se passou este conto, uma vez que se encontra hoje urbanizada, mas na mais semelhante que Rohmer conseguiu encontrar. E aí joga com a beleza das paisagens, com uma reconstituição de época exemplar e, como já referido, com diálogos de grande conteúdo que nos permitem avaliar em profundidade os sentimentos dos interlocutores. Passado no campo deixa que se cruzem os pastores e os membros das grandes famílias, nascendo assim amores combatidos por uma das partes, conduzindo a caminhos abertos à tragédia bem no estilo de Romeu e Julieta. Mas com Rohmer abrem-se alternativas, atraindo o espectador para caminhos mais felizes, recheados de situações dúbias e românticas, sem recurso a verdadeiros sobressaltos. Esta forma de fazer cinema, com base numa forte componente estética, é hoje pouco habitual. As imagens são sempre de grande beleza, com muita luz, intercaladas com os planos das personagens nos seus diálogos, com expressão muito sólida. Não será uma forma ao gosto de muitos dos espectadores, uma vez que obriga a uma certa lentidão na narrativa para permitir uma total descrição de cada uma das situações. Mas para os apreciadores deste cineasta esta é mais uma obra capaz conduzir a uma verdadeira satisfação, sendo notável como tem sido possível a um cineasta manter o mesmo estilo ao longo de tantos anos. Francisco Perestrello

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