Cinema: Tropa de Elite 2 – O inimigo agora é outro

Foi tão grande o sucesso de “Tropa de Elite” em 2008 que,  na maior parte do mundo que percorreu, transitou de forma não oficial nem legal pelo circuito cibernáutico muito antes de chegar às salas de cinema.

Portugal não foi exceção e, antes de apresentado no pequeno e curioso “Hola”, festival de cinematografias de língua oficial portuguesa, o primeiro grande ecrã nacional a projetá-lo, já o filme andava nas bocas dos mais expeditos cinéfilos das redes virtuais.

Arrecadado o Urso de Ouro em Berlim, José Padilha passou definitivamente a realizador brasileiro com eco mundial, merecendo especial atenção a sua muito particular dedicação aos temas fraturantes do Brasil mais negro, não em termos étnicos mas éticos, políticos, financeiros, sociais. A comprová-lo, desde 2002, “Autocarro 174”, o documentário televisivo que um bom par de anos mais tarde daria origem à longa de Bruno Barreto.

Berlim não esconde a sua predileção por temas políticos incisivos, e se um radar mais sensível detetar alguma propensão política particular em José Padilha, tal não pode iludir a mensagem urgente, universal e essencial que cada um dos seus filmes lança sem qualquer hesitação: não há mudança sem vontade, perseverança ou coragem. E para fazer a diferença um só homem conta.  Se não basta, é um princípio.

Com a valente dose de violência a que o tema obriga e uma quantidade inaudita de linguagem vernácula por sequência, “Tropa de Elite 2” segue a escalada de um punhado de homens do BOPE (Batalhão de Operações Policiais Especiais) com vontade de mudar o mundo corrupto e criminoso que os rodeia. À cabeça desta manobra de coragem está o Coronel Nascimento que pagou um preço demasiado alto por se questionar sobre a justiça, a ética do seu papel. E por perceber que a luta contra o crime e o tráfico de droga não se trava (tanto) nas favelas do Rio de Janeiro como nos meandros das próprias forças políticas e de segurança do Estado.

Com 21 anos de polícia, divorciado e em risco de perder o respeito do filho, Nascimento não sabe já porque mata nem em nome do que mata, mas sabe que não há futuro risonho para as novas gerações se não impedir as que vigoram de as hipotecar. E isso pede mudança. Sua e dos que a põem em risco.

Margarida Ataíde

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