Cinema português continua em foco

Prosseguindo a produção regular e a correspondente estreia que se tem verificado em relação ao cinema português, chegou agora a vez de “O Mistério da Estrada de Sintra”, que traz de novo Jorge Paixão da Costa à actividade na longa metragem. A sua realização de “Adeus Princesa” (1994), segundo o romance de Clara Pinto Correia, deixou promessas que se gostariam de ver confirmadas. “O Mistério da Estrada de Sintra” foi um acto de coragem assinalável por parte do cineasta, já que levar a bom termo um filme de época com os limitados recursos em geral disponíveis no cinema nacional poderá sempre provocar a queda em anacronismos ou em cenários tão limitados que dificilmente dão vazão a um argumento complexo, como o deste filme. Não se conte com a narrativa linear do folhetim ou romance de Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão, uma vez que se preferiu, e bem, dar prioridade às relações entre os dois escritores e ao cruzamento da sua personalidade com trechos do conto que laboriosamente foram construindo, com publicação no Diário de Notícias em 1870. Ficamos com um retrato vivo da época e do confronto de personalidades entre Eça e Ramalho Ortigão, bem como das dificuldades editoriais no Diário de Notícias, em que o seu fundador, e então director, Eduardo Coelho se confrontava com o peso que o romance – em estilo folhetim e narrado como realidade – não deixava de encontrar na opinião pública. O papel de Eduardo Coelho dá a Nicolau Breyner uma excelente oportunidade de confirmar o seu talento, mesmo que a sua presença seja relativamente breve ao longo do filme. Seguramente que estamos perante um filme que encontrará dificuldades junto da crítica, em geral exigente e pedindo aos cineastas mais do que é possível. Mas tendo em conta as circunstâncias da produção – que se arrastou ao longo de alguns anos – e o resultado obtido, pode dizer-se que se trata de uma obra satisfatória e merecedora da atenção do público. Francisco Perestrello

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