Cinema: África… os seus Conflitos

As guerras locais ou regionais que, com frequência, se desencadeiam em África, sob a forma de revolução ou confronto entre diferentes grupos étnicos, têm muitas vezes origem em interesses estranhos a esse continente, situando-se nos países desenvolvidos e na sua ambição de controlar o lucro, seja lícito ou ilícito. “Diamante de Sangue”, narrando o percurso de uma pedra preciosa de grande valor a transaccionar no mercado clandestino, consegue inserir o seu argumento na situação verificada na Serra Leoa em 1990, deixando perceber a crueldade da guerra, a inconsciência dos grupos étnicos, a crueldade dos mercenários e das empresas que os contratam e a inconsciência dos aventureiros, que arriscam a vida na mira de uma reforma dourada. Mas há também quem ambicione recuperar a família, dispersa pelas sucessivas incursões de um grupo revolucionário que, como todos os outros, diz que tem por objectivo a defesa do povo. Mas, na realidade, o que muitos procuram é o dinheiro ou o poder, ou ainda, se possível, os dois devidamente conjugados. É sobre esta situação que o experiente cineasta Edward Zwick desenvolve um trabalho de forte crítica, pondo em relevo a desumanidade que domina todos estes interesses e a dificuldade em combater as sinuosas vias de contrabando há muito montadas. De África vemos mais a guerra e a miséria que as belezas naturais, intencionalmente deixadas para segundo plano, não só em termos de escolha de cenários como em função do tratamento fotográfico por parte do director de fotografia Eduardo Serra, profissional já por duas vezes nomeado para o Oscar. Leonardo DiCaprio, Djimon Hounsou e Jennifer Connelly, nos principais papéis, dão um bom contributo com desempenhos eficientes e de grande dignidade. Um filme sólido, suportado por uma violência justificada pelos muitos valores em causa e a situação de guerra que os envolve. Francisco Perestrello

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