Responsável pelo setor na Igreja em Portugal lamenta a falta de políticas eficazes – «Pensar só não chega, o que é preciso é fazer e ter resultados», diz Francisco Monteiro
Lisboa, 05 abr 2019 (Ecclesia) – Mais de 100 responsáveis e agentes pastorais que trabalham com as comunidades ciganas, em cerca de 20 países da Europa, começam hoje em Trogir, na Croácia, a abordar os desafios da Igreja Católica neste setor.
Em entrevista à Agência ECCLESIA, o diretor executivo da Obra Nacional da Pastoral dos Ciganos em Portugal, Francisco Monteiro, abordou o encontro deste ano do Comité Católico Internacional dos Ciganos, que se vai prolongar até domingo.
Aquele responsável destacou a oportunidade de “partilhar experiências” e “afinar estratégias” para responder da melhor forma às necessidades de um setor que “não é nada fácil”, porque tem estado desde sempre “nas margens da Europa” e das suas políticas.
Atualmente, dos cerca de 10 a 12 milhões de pessoas provenientes dos vários grupos de etnia cigana ou roma na Europa, cerca de 80 por cento vivem em risco de pobreza, devido a dificuldades de integração social, por exemplo de acesso à habitação, à educação e ao emprego.
Francisco Monteiro salientou que esta é uma realidade transversal aos vários países e que, no caso do trabalho da Igreja Católica, implica “lidar com a dicotomia entre uma minoria desprezada e discriminada” e uma “visão muito cínica dos poderes públicos, que primeiro dizem que fazem, mas depois não fazem”.
“A exclusão dos ciganos nas várias áreas começa na habitação. Pessoas que vivem em barracas, que não têm água, que são sistematicamente escorraçadas do sítio onde estão”, apontou aquele responsável, que alertou para o facto de se estar a perpetuar todo este ciclo.
“Se crianças não podem ir à escola, se não há escolarização, não há educação, e sem educação não há emprego”, acrescentou.
O diretor executivo da Obra Nacional da Pastoral dos Ciganos em Portugal lamenta a falta de um maior envolvimento de todas as entidades responsáveis, “que não intervêm e não colocam em ordem quem devia ter mais respeito pelas pessoas que são mais pobres e estão mais abandonadas”.
Recentemente a Obra Nacional da Pastoral dos Ciganos em Portugal enviou à Secretaria de Estado da Cidadania e da Igualdade um relatório sobre a comunidade cigana e toda a problemática da habitação, “sobre os ciganos que vivem em barracas em Portugal”, que permitiu constatar a persistência de “uma panorâmica muito negativa”.
O responsável português pela Pastoral dos Ciganos espera que este documento contribua para o desenvolvimento de soluções que tragam mais possibilidades de integração social das populações ciganas no país.
“Pensar só não chega, o que é preciso é fazer e ter resultados e é nisto que nós batalhamos sistematicamente”, sublinhou Francisco Monteiro.
Que tem a consciência de que esta mensagem, de ação, de proatividade, também deve ser dirigida aos próprios líderes das comunidades ciganas, que também têm responsabilidades em todo este processo.
“Para que os ciganos sejam eles próprios atores e proporcionadores do seu desenvolvimento, da sua inserção e inclusão”, completou.
Entre esta sexta-feira e o próximo domingo, o encontro do Comité Católico Internacional dos Ciganos tem como tema ‘A missão em retorno: fonte de mudança’.
No programa da iniciativa destaca-se uma conferência do teólogo Tomas Halik sobre a importância de ir ao encontro do outro, de quem é diferente; e a divulgação de uma comunicação do presidente do Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral, da Santa Sé, o cardeal Peter Turkson.
JCP