Chegou a minha hora!

Pe. Amaro Gonçalo, Pároco de Nossa Senhora da Hora, Matosinhos

“Missão 2010” é uma expressão já bastante familiar à Paróquia de Nossa Senhora da Hora. Chegado à nova Paróquia, em Setembro de 2008, com a incumbência ainda de secretariar na Diocese o Ano Paulino em 2009, procurei despertar a comunidade, na pregação dominical e nas reuniões com os diversos grupos pastorais, e no seio do Conselho Pastoral, para a necessidade imperiosa de “aprender a missão com São Paulo”.

Quando olhamos para o baixíssimo número e para a muito alta média etária dos chamados “fiéis praticantes” percebemos que a “Missão” é mesmo uma questão de vida ou de morte, para a afirmação desta comunidade cristã, muito generosa no seu estrito âmbito paroquial, mas algo medrosa, na sua pública manifestação de fé. Ou saltamos o muro, que ainda nos separa do mundo, ou atravessamos a estrada, para propor, com alegria, a fé às novas gerações, ou então, morreremos sozinhos, no calor da nossa “fogueira” paroquial.

As paróquias urbanas, de que esta não será excepção, tendem, quanto percebo, a ser um espaço caloroso, para quem nelas se abriga! Mas a tentação de isolamento dos seus fiéis, no seu próprio “aquecimento”, é muito frequente. Para silenciar o evangelho na praça, invocam-se sempre respeitos humanos e enormes desconfianças, em urbanizações, onde falta quase sempre o espírito de vizinhança. Mas o que salta à vista, mesmo entre os mais activos cooperadores paroquiais, é uma fé demasiado acomodada, sem audácia missionária. Aquilo a que chamo o “complexo de betão”, isto é, a tendência a esconder-se no seu próprio canto, no meio desta capital das cooperativas habitacionais, precisa de ser superado, por uma fé, que há-de expandir-se por contágio! Perante a vastidão urbanística e demográfica da cidade, hoje com mais de 33 mil habitantes, o complexo de betão tem de ser vencido, com uma proposta mais pessoal, mais ousada e mais feliz da fé!

E há que fazê-lo, portanto, pessoa a pessoa, casa a casa, coração a coração. Mais do que muitas outras iniciativas, que enchem o olho e preenchem o calendário, neste Ano de missão, aquilo para que temos orientado a nossa comunidade, e em cada um dos seus fiéis leigos, é para a sua missão peculiar e secular, de testemunho cristão mais ousado e fermentado, nos diversos lugares deste mundo. O anúncio da fé não se confunde com propaganda do evangelho, mas com uma vida claramente sinalizada, contagiada e contagiante, pela alegria do encontro com Cristo.

As várias iniciativas, mês a mês, que pensamos, sempre em comunhão com o projecto diocesano 2010, vão todas no sentido de superar o nosso deficit missionário e de abrir aos gentios a porta da fé. Os diversos grupos paroquiais estão envolvidos e empenhados, nas propostas que a Diocese lança em cada mês. Procuramos agarrá-las, uma a uma, concretizando-os no nosso espaço. Preparamos e vivemos o tempo de Natal sob o signo da Estrela da Missão. Cantámos as Janeiras, vencendo o frio da cidade. Entrámos a cantar, no Norte Shopping sem intuitos comerciais. Acolheremos, em grande número, os jovens para o encontro ibérico de Taizé. Andaremos, em via pública, com a nossa via-sacra, sinalizando os lugares da compaixão com a cruz, que serve de fundo à missão 2010. Chamaremos os universitários à reflexão da fé. E por aí adiante, com acções de rua, na visita pascal e no mês de Maio, até sair em marchas de alegria, nas festas populares.

Mas, em tudo isto, vamos, não sem dificuldade, não sem temer nem tremer. Porque, na sua maior parte, qualquer destas acções pastorais, exige ir mais longe, mudar alguns hábitos, superar alguns vícios. Mas, teimosamente, persistiremos em não passar ao lado do vento da Missão 2010.

Estou convicto de que aquilo que mais vale, na Missão 2010, não é qualquer “folclore” encenado, para quem vê ou “TV”. A mais-valia desta proposta diocesana é educar-nos para uma prática pastoral, mais alegre, mais inclusiva e mais aberta, mais interactiva, obrigando-nos a contactos e movimentações, a conversas e implicações, com pessoas e instituições, com quem não estamos habituados a caminhar juntos.

Estamos já no final do primeiro mês. Sacudimos o frio, que sentimos, lá por fora, com a alegria das Janeiras. A grande surpresa é que não andávamos a pedir, para nada, nem para coisa nenhuma. Apenas, a causa do evangelho e por causa dele! E vamos agora, mês a mês, responder ao desafio. O que é preciso, nesta Paróquia de Nossa Senhora da Hora, (como em tantas outras) é dar-se conta do tempo novo e do vinho novo, que já não se aguenta, em antigas práticas e odres velhos. Lembro a todos, que é preciso dizer, lá no seu íntimo: “Chegou a minha Hora”. É a minha vez! Comigo, com os outros, para os outros, “Igreja é Missão”!

Pe. Amaro Gonçalo, Pároco de Nossa Senhora da Hora, Matosinhos

Partilhar:
plugins premium WordPress
Scroll to Top