Papa polaco recordado pela sua ligação ao Santuário da Cova da Iria
Fátima,12 mai 2021 (Ecclesia) – O Papa Francisco recordou hoje no Vaticano o atentado contra a vida de São João Paulo II, atingido a tiro na Praça de São Pedro, a 13 de maio de 1981, acontecimento que mudou a relação do pontífice polaco com Fátima.
Um ano após os disparos do turco Ali Agca, João Paulo II veio à Cova da Iria reconhecer publicamente a sua convicção de que houve uma intercessão de Nossa Senhora de Fátima na sua recuperação.
Logo na primeira audiência após o atentado, a 7 de outubro de 1981 – memória litúrgica de Nossa Senhora do Rosário – o santo polaco assumia esta convicção.
Poderia esquecer que o acontecimento na Praça de São Pedro se realizou no dia e na hora, em que, há mais de 60 anos, se recorda em Fátima, em Portugal, a primeira aparição da Mãe de Cristo aos pobres e pequenos camponeses? Porque, em tudo aquilo que sucedeu exatamente nesse dia, notei aquela extraordinária proteção maternal e solicitude, que se mostrou mais forte do que o projétil mortífero”.
Em maio de 1982, no aniversário desse primeiro atentado contra a sua vida, Karol Wojtyla (1920-2005) chegava a Fátima.
Antes de partir, em Roma, João Paulo II explicava que queria ir à Cova da Iria, “lugar abençoado, também para escutar novamente, em nome de toda a Igreja, a Mensagem que ressoou há 65 anos nos lábios da Mãe comum, preocupada com a sorte dos seus filhos”.
Em Fátima, o Papa falou para “agradecer à Divina Providência neste lugar que a mãe de Deus parece ter escolhido de modo tão particular” (homilia do 13 de maio). Simbolicamente, a bala que lhe atravessou o abdómen repousa hoje na imagem da Virgem na Cova da Iria.
Diante dos peregrinos, na Capelinha das Aparições, agradeceu a “especial proteção materna de Nossa Senhora”.
“E pela coincidência – e não há meras coincidências nos desígnios da Providência divina – vi também um apelo e, quiçá, uma chamada à atenção para a mensagem que daqui partiu, há sessenta e cinco anos, por intermédio de três crianças, filhas de gente humilde do campo, os pastorinhos de Fátima, como são conhecidos universalmente”, acrescentou.
A devoção à oração do Rosário e a preocupação com as “ameaças” ao mundo foram outros temas centrais das intervenções de João Paulo II, que proferiu uma oração de Consagração a Nossa Senhora, a 13 de maio, na qual deixou, entre outras, a seguinte invocação: “Da guerra nuclear, de uma autodestruição incalculável e de toda espécie de guerra, livrai-nos!”
Na Cova de Iria, viria a ser vítima de um novo ataque contra a sua vida, perpetrado pelo espanhol Juan Fernández Krohn, padre tradicionalista que usava um punhal.
Já depois da morte de João Paulo II (2 de abril de 2005), o cardeal Stanislaw Dziwisz, que foi seu secretário particular, assegurava que este tinha sido ferido, embora de forma ligeira.
A 25 de março de 1984, o Papa presidiu à consagração do mundo ao coração de Maria, no Vaticano; a mesma imagem que, em 2000, colocou entre os bispos de todo o mundo, consagrando-lhe o terceiro milénio.
Ainda a 25 de março de 1984, o Papa oferece ao bispo de Leiria-Fátima a bala do atentado que, mais tarde, seria colocada na coroa preciosa da imagem de Nossa Senhora venerada na Capelinha das Aparições.
João Paulo II voltou a Portugal em 1991, passando, inevitavelmente, pelo Santuário de Fátima, nos dias 12 e 13 maio; durante quatro dias, proferiu 12 intervenções e enviou ainda uma carta, desde a Cova da Iria, aos bispos católicos da Europa, que preparavam uma assembleia especial do Sínodo dos Bispos, dedicada ao Velho Continente.
Ao despedir-se do país, o Papa disse que “Fátima é sempre nova para quem repete a subida à Serra de Aire e procura penetrar, cada vez mais fundo, nos mistérios da Mensagem de Nossa Senhora, ‘a toda vestida de branco’, nas Aparições de 1917 aos três Pastorinhos”.
O Santuário assinala a data com um texto dedicado a São João Paulo II e Fátima, “uma relação que se estreitou a partir do atentado da Praça de São Pedro”.
“Completam-se 40 anos sobre o atentado que haveria de mudar o conhecimento da história de Fátima e abriria caminho à revelação da terceira parte do Segredo”, pode ler-se. |
A 12 e 13 maio de 2000, já com um estado de saúde debilitado, João Paulo II regressou a Portugal, para presidir à beatificação dos pastorinhos Francisco e Jacinta Marto.
Uma decisão assumida contra os serviços burocráticos do Vaticano, que chegaram a agendar a cerimónia para 9 de abril, na Praça de São Pedro.
O Papa proferiu um discurso à chegada, no aeroporto internacional de Lisboa, a homilia na Missa do 13 de maio e uma saudação aos doentes reunidos na Cova da Iria; na mesma ocasião deu-se o anúncio da publicação da terceira parte do chamado “Segredo de Fátima”.
“Desejo uma vez mais celebrar a bondade do Senhor para comigo, quando, duramente atingido, fui salvo da morte”, disse, na sua homilia.
Já de regresso a Roma, na audiência geral de 17 de maio de 2000, João Paulo II defendeu que “o apelo que Deus fez chegar mediante a Virgem Santa conserva intacta ainda hoje a sua atualidade”.
Em 2000, o agora Papa emérito Bento XVI era prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé (cardeal Joseph Ratzinger) e assinou o “comentário teológico” à terceira parte do segredo, no qual se fala de um “Bispo vestido de branco” que caminha no meio de ruínas e cadáveres, imagem associada ao atentado sofrido por João Paulo II.
O texto relativo ao Segredo de Fátima (uma mensagem anunciada por Nossa Senhora aos Pastorinhos em julho de 1917 e escrita por Lúcia na década de 40 do século XX) pode ser consultado no sítio do Vaticano.
O portal de notícias da Santa Sé evoca hoje o atentado de 1981, com testemunhos de vários colaboradores de São João Paulo II e do próprio Papa.
OC
Vaticano: Papa assinala 13 de maio e evoca atentado contra São João Paulo II