Centenário da morte do apóstolo dos migrantes

Abertura Solene do Centenário de João B. Scalabrini Foi há 100 anos! A Abertura Solene do Centenário de João B. Scalabrini assinalou-se, ontem, com uma Eucaristia presidida pelo Card. Ângelo Sodano, em Roma, na Catedral dos Santos Ambrósio e Carlos ao Corso. Scalabrini morreu a 1 de Junho de 1905, aos 66 anos, em Itália –Piacenza. Um dos primeiros apóstolos e insignes teólogos da mobilidade humana, apaixonado por Deus e pela Igreja. Marcou profundamente a vida espiritual da sua diocese e da Europa do século XIX. Fundou os Missionários de S. Carlos Borromeu – Scalabrinianos para a evangelização dos “filhos da miséria e do trabalho” (os migrantes), organizou Cooperativas operárias e Obras de previdência. Em sintonia com o movimento laical europeu da época, instituiu a Sociedade de “São Rafael”, para proteger os direitos e as liberdades dos emigrantes e suas famílias. Em conjunto com Santa Francisca Cabrini e o bispo Jeremias Bonomelli, o beato João Scalabrini deixou-se interpelar pelo clamor dos diocesanos ausentes e dos 50 milhões de europeus que, em menos de um século, deixaram a Europa num dos maiores êxodos que a história conhecera. A maioria dos emigrantes, vítimas da miséria e do desemprego causado pelas consequências nefastas da industrialização, eram forçados a rumar às Américas sujeitando-se aos numerosos “mercadores de carne humana” que, durante as viagens marítimas, nos portos, traficavam pessoas, com a cumplicidade dos agentes de viagens, “angariadores de mão-de-obra” e todo o tipo de intermediários clandestinos. Do coração de sacerdote e bispo brotou uma rede de respostas sociais e pastorais, nacionais e internacionais adequadas à condição operária e à situação vulnerável dos emigrantes. Carisma de grande actualidade que o Espirito Santo deu à Igreja e ao povo migrante para a união da família humana. Do seu pensamento social, marcado pela reconciliação e pela justiça destacam-se algumas Cartas pastorais sobre o Socialismo, a Emigração e o Trabalho, entre outras; os Sínodos Diocesanos sobre a Eucaristia, as Conferências Públicas sobre o Vaticano I; uma série de projectos de lei e regulamentos de índole humanitário para a Emigração reforçados por Conferências de norte a sul da Itália e no estrangeiro; e, as Visitas Pastorais aos Estados Unidos, Brasil e Argentina para se inteirar pessoalmente a situação dos emigrantes e dialogar com as Igrejas locais em dimensão ecuménica. A convocação do primeiro Congresso de Catequese organizado pela Igreja e a publicação da primeira revista catequética valeram-lhe o título de “Apostolo da Catequese” atribuído pelo Papa Pio IX. Em 1905, ao regressar do Brasil, poucas semanas antes de falecer, apresentou ao Papa um “memorial” com a descrição de um projecto pastoral articulado, para assistência aos migrantes de todas as nacionalidades. Só por altura do Concilio Vaticano II foi tirado da gaveta e deu origem ao Conselho Pontifico para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes. O “pai dos migrantes” tinha intuído nas migrações, não um fenómeno transitório, mas um dos aspectos mais estruturais e estruturantes dos primórdios da sociedade da globalização laboral. Proclamado beato em 1997 por João Paulo II, os migrantes passam a não estar sós nas peregrinações de dignidade. Após décadas de silêncio devido à vasta e controversa acção sócio-política, apresentou-se à Igreja um padroeiro para os migrantes, refugiados e um exemplo de santidade “incarnada”, testemunhada entre êxodos e exílios dos trabalhadores migrantes e suas famílias. Ao longo de 2005, a Igreja, os seguidores de modo particular, e todos os defensores da vida dos migrantes, são convidados a conhecer melhor a vida do percursor da atenção da Igreja para com a mobilidade. Sobretudo, ao celebrar, com gestos de solidariedade concretos, o Centenário da morte do apóstolo incansável da libertação dos migrantes, pastor da unidade da família humana e profeta intrépido da Igreja Peregrina! 2005 é o Ano da Eucaristia, para ir além da acção social e apostar mais na dimensão religiosa, evangelização e formação das comunidades migrantes, para uma Igreja e sociedade integradas. São convidamos, todas as Dioceses, Comunidades Portuguesas, Capelanias de Imigrantes, Centros de Apoio aos Migrantes e Refugiados, Secretariados Diocesanos da Pastoral das Migrações e Organizações de defesa dos direitos dos migrantes, a viver as iniciativas, ao longo do ano, sob o olhar protector e intercessão libertadora do santo dos migrantes: João Batista Scalabrini. A OCPM associa-se à feliz e oportuna efeméride da Igreja, profundamente comprometida com a mobilidade providencial de pessoas, famílias, culturas e religiões Lisboa, 30 de Janeiro de 2005 Pe. Rui M. da Silva Pedro Director nacional da OCPM

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