Celebrar o Advento

A celebração festiva do mistério da Encarnação exige um tempo de preparação, que nos disponha a vivê-lo convenientemente: o Advento. Trata-se de um período curto de quatro domingos, que começa no Domingo mais próximo do dia 30 de Novembro e prolonga-se até ao Natal. A palavra “advento” (do latim adventus) significa “vinda” ou “chegada”. Os romanos acreditavam que, uma vez por ano, as divindades vinham ao templo que lhes era dedicado; o termo “advento” servia para designar esse acontecimento. Mas o termo era usado igualmente para designar a visita do imperador a uma cidade. Compreende-se, pois, que na linguagem cristã a palavra tivesse sido adoptada para referir a “vinda de Cristo, o Senhor” no fim dos tempos (em grego parusia) e a sua vinda até nós, assumindo a nossa humanidade. O tempo do Advento é, assim, o tempo de preparação da vinda do Senhor: vinda na Encarnação (Natal), mas também a sua vinda gloriosa no final dos tempos (parusia). Trata-se, no fundo, de uma única realidade: a vinda histórica de Jesus, há dois mil anos, no seu nascimento, foi o começo da contínua vinda do Senhor, até ao fim dos tempos. O Advento não é um tempo penitencial, como a Quaresma. É tempo de sobriedade, mas é também “tempo de piedosa e alegre expectativa”. É claro que há um apelo contínuo à conversão, mas no sentido de nos prepararmos interiormente para a vinda do Senhor, que veio, vem e virá. Três figuras principais emergem da liturgia do Advento: o profeta Isaías, João Baptista e Maria. Isaías é o grande profeta da esperança messiânica. S. Jerónimo diria que Isaías era “o evangelista do Antigo Testamento”. Maria é o melhor modelo de vivência do Advento, precisamente por ter sido ela a viver de modo mais intenso o primeiro Advento. Na Anunciação, Maria manifesta toda a sua disponibilidade ao plano de Deus, mostra uma confiança total na Palavra de Deus, apesar de não compreender “como será”. João Baptista é uma das figuras marcantes do tempo de Advento: é o Precursor do Messias, o arauto da sua chegada, aquele que prepara os corações para acolher o Senhor que vem. Filho de uma estéril, o seu nascimento fora já sinal da chegada iminente dos tempos messiânicos. O momento alto da sua vida foi, contudo, o da realização da sua missão de Precursor, convidando no deserto à conversão e à espera vigilante, tal como testemunham os quatro evangelistas. “Convertei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo”. A voz profética de João, o profeta no limiar do Antigo e do Novo Testamento, clama: “Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas”. O apelo à conversão é o núcleo da sua mensagem, como será depois o início da pregação de Jesus. P. Carlos Cabecinhas

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