Cazaquistão: Papa diz que religiões nunca podem justificar violência em nome de Deus

Francisco discursa em congresso internacional, sublinhando importância de investir na educação para construir a paz

Foto: Vatican Media

Nur-Sultan, 14 set 2022 (Ecclesia) – O Papa disse hoje na capital do Cazaquistão que as religiões “nunca” podem justificar a violência em nome de Deus, apelando à rejeição de “extremismos e fundamentalismos”.

“Nunca justifiquemos a violência. Não permitamos que o sagrado seja instrumentalizado por aquilo que é profano. Que o sagrado não seja suporte do poder e o poder não se valha de suportes de sacralidade”, declarou, no discurso que proferiu na abertura do VII Congresso de Líderes de Religiões Mundiais e Tradicionais.

Francisco falava no Palácio da Independência, em Nur-Sultan, perante dezenas de representantes religiosos, a quem pediu a coragem de assumir a necessidade de uma “purificação do mal”.

Purifiquemo-nos da presunção de nos sentirmos justos e de não termos nada a aprender com os outros; libertemo-nos das conceções redutoras e ruinosas que ofendem o nome de Deus com rigidezes, extremismos e fundamentalismos, e o profanam por meio do ódio, do fanatismo e do terrorismo, desfigurando inclusive a imagem do homem”.

O Papa sustentou que todos os crentes são chamados a assumir o desafio global da paz, num mundo que vive “o flagelo da guerra”, num “clima de confrontos exasperados”.

Foto: Vatican Media

“É preciso, irmãos e irmãs, um abanão da nossa parte. Se o Criador, a quem dedicamos a existência, deu origem à vida humana, como podemos nós – que nos professamos crentes – consentir que a mesma seja destruída?”, questionou.

Francisco destacou que as grandes religiões constituem “a alma de tantas culturas e tradições”, pelo que se devem empenhar “ativamente” pela paz.

“Recordados dos horrores e erros do passado, unamos os esforços para que o Omnipotente nunca mais acabe refém da vontade de potência humana”, prosseguiu.

O discurso sublinhou que a paz é mais do que o “frágil resultado de frenéticas negociações” e tem como base um “constante empenho educativo”.

“Invistamos, por favor, nisto, não nos armamentos, mas na educação”, desejou.

Deus é paz e conduz sempre à paz, nunca à guerra. Por isso empenhemo-nos ainda mais a promover e reforçar a necessidade de que os conflitos sejam resolvidos não com as razões inconclusivas da força, com as armas e as ameaças, mas com os únicos meios abençoados pelo Céu e dignos do homem: o encontro, o diálogo, as negociações pacientes”.

‘Mensageiros de paz e de unidade’ é o lema da viagem internacional de Francisco ao Cazaquistão.

“Não procuremos falsos sincretismos conciliatórios, mas guardemos as nossas identidades abertas à coragem da alteridade, ao encontro fraterno. Só assim, nos tempos sombrios que vivemos, poderemos irradiar a luz do nosso Criador”, pediu o Papa aos participantes no VII Congresso de Líderes de Religiões Mundiais e Tradicionais.

O encontro desta quarta-feira começou com um momento de oração, em silêncio.

Na intervenção inaugural, o presidente cazaque, Kassym-Jomart Tokayev, apelou a um “novo movimento global para a paz”.

O congresso internacional reúne mais de uma centena de delegações, de 50 países, incluindo a participação, entre outros, do grande imã de Al-Azhar, Ahmad Al-Tayyeb, do rabino-chefe sefardita de Israel, Yitzhak Yosef, e do responsável pelo Departamento das Relações Externas do Patriarcado de Moscovo, metropolita António.

Ahmad Al-Tayyeb defendeu, no seu discurso, a importância do diálogo, evocando a experiência dos últimos anos, na relação com o Papa Francisco.

O metropolita António, por sua vez, alertou para o risco de uma “guerra nuclear”, apresentando a fé como último bastião da humanidade contra a “catástrofe”.

Os participantes receberam uma mensagem, em vídeo, do secretário-geral da ONU, o português António Guterres, que falou em “tempos desafiantes” para o planeta, realçando o papel das religiões para construir um “mundo melhor”, no qual todos vivam como “uma única família humana”.

OC

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