Catequese deve ser como uma família

Entrevista ao diácono João Manuel Carapito, director do Departamento da Catequese da Infância e Adolescência da Arquidiocese de Évora O semanário “A Defesa”, da Arquidiocese de Évora, entrevistou o diácono João Manuel Carapito, de 54 anos, que é director do Departamento da Catequese da Infância e Adolescência da Arquidiocese de Évora há 4 anos. Professor do ensino primário aposentado, pai de 4 filhos e avô de 2 netos, reparte o seu tempo entre o departamento e as paróquias de Nossa Senhora de Machede, São Miguel de Machede e Azaruja. Conhecedor profundo do ensino primário da Arquidiocese pelo cargo que desempenhou, durante 8 anos, de destacado pelo ministério para a educação moral e religiosa católica (EMRC) no primeiro ciclo, e conhecedor da realidade dos casais, tendo sido um dos impulsionadores dos Cursos de Preparação para o Matrimónio (CPM) na Arquidiocese, fala dos desafios que se colocam à catequização das crianças e dos jovens do século XXI. “a defesa” – Que balanço faz destes quatro anos à frente do departamento? João Carapito (JC) – Comecei com uma equipa de quatro elementos que muito me têm ajudado na dinamização da catequese, particularmente dos catequistas. Aquilo que temos feito tem passado por uma aposta na formação dos catequistas que julgamos prioritária, pois ainda temos cerca de 50% dos catequistas sem o curso de iniciação de catequese. Portanto, este tem sido um trabalho que temos, feito a nível de vigararia e de paróquia. “a defesa” – Há muitas crianças na catequese? JC – Sim. Hoje em dia sente-se que há um grupo significativo de crianças que frequenta a catequese, sendo que em muitos sítios ronda os 90% das crianças que andam no primeiro ciclo. Ainda que muitos pais não pratiquem, inscrevem os seus filhos na catequese, com a intenção de serem baptizados, porque verificamos que existe um número significativo de casais que casaram numa altura de conturbação social e política, que não lhes dava a visão de baptizarem os filhos em pequenos. Por exemplo, conheço grupos de 10 crianças, em que 7 não estavam baptizadas, na altura da primeira comunhão. No entanto, tem-se verificado realmente um aumento na procura da catequese, em alguns casos para pedir coisas à Igreja, como por exemplo, os sacramentos. Mas de facto existe uma procura. “a defesa” – Qual é a aposta no arranque deste novo ano de catequese? JC – Neste arranque estamos apostar na formação dos catequistas, a nível metodológico, pedagógico, teológico e espiritual, visto que muitos dos catequistas não têm outro meio de formação. Para este ano decidimos também como prioritário a relação entre a catequese e a liturgia. “a defesa” – Qual é o objectivo nesta aposta na relação entre catequese e liturgia? JC – O objectivo passa por envolver as crianças e as famílias na Assembleia, pelo menos, Dominical, visto que hoje há de facto uma diminuição da participação na Eucaristia. Por exemplo, verificamos que muitas crianças vão à catequese, mas se esta não for no mesmo dia da Eucaristia, poucas participam. “a defesa” – Em termos de números, o que nos pode adiantar sobre a catequese na Arquidiocese? JC – Nos últimos anos procurámos recolher o máximo de informação possível para fazermos um apuramento estatístico, a nível da Arquidiocese. Obtivemos respostas de cerca de 80% dos catequistas, o que nos permite afirmar que: a Arquidiocese tem cerca de 10 mil crianças na catequese e cerca de 850 catequistas. Sinto pena que em algumas paróquias da Arquidiocese a catequese ainda não funcione. Perante esta situação, penso que temos de dar um passo qualitativo na aposta pela pastoral de evangelização. “a defesa” – Como caracteriza as crianças e adolescentes que participam no diferentes grupos da Arquidiocese? JC – Apoiando-me na Carta Pastoral que os nossos bispos escreveram em 2005, “Para que acreditem e tenham vida”, onde se faz uma análise dos catequizandos que chegam às paróquias, penso que se pode aplicar essa análise à nossa Arquidiocese. Dizem os bispos que: chegam muitas crianças à catequese sem os rudimentos mínimos da fé cristã, que antigamente recebiam na família; chegam também muitos miúdos marcados pela ignorância religiosa que existe hoje em dia; muitas crianças frequentam a catequese, mas não a eucaristia dominical, porque a essas horas, na maior parte dos sítios, há outras ofertas, como desporto, meios de comunicação social, hipermercados; e a grande maioria que ainda vem à catequese é para fazer os sacramentos, porque estes ainda têm uma forte componente social. Na reflexão que provocámos nas reuniões com o clero da Arquidiocese no último mês, verificámos que a raiz do problema está na catequese de adultos. Na realidade a maioria das crianças, cujos pais praticam, também fazem toda a caminhada e são praticantes. “a defesa” – O que fazer perante isto? JC – Tenho desafiado as paróquias a fazerem mais reuniões com os pais. Há algumas paróquias que à hora da catequese começam a oferecer aos pais também uma formação. Penso que será por aqui o caminho. “a defesa” – Que actividades estão projectadas para este ano? JC – Um grande momento deste ano, foi o sábado. Por outro lado, teremos o retiro da quaresma para os catequistas que será no Seminário de Évora. Estamos também a pensar desenvolver este ano uma escola de catequistas. Vamos fazer dois encontros, em cada zona pastoral com o mesmo tema e em sítios diferentes para atingir todos os catequistas, sobre a relação entre a catequese e a liturgia. Neste sentido, queremos motivá-los para que, no próximo ano, possam já acontecer três encontros em cada zona pastoral. Estamos também disponíveis para fazer cursos de iniciação de catequistas a nível paroquial, porque temos muitos catequistas jovens. “a defesa” – Fala que existem muitos catequistas jovens. Não é difícil arranjar? JC – Não é difícil arranjar catequistas jovens. O difícil é conseguir que eles tenham abertura e disponibilidade para fazer formação. Portanto, vontade de dar catequese há, disponibilidade para a formação é mais difícil. E dar catequese implica haver formação do catequista. No entanto, vejo com satisfação que os catequistas queiram mais formação. Portanto, o meu desejo é fazer acções a nível local e regional, para dar respostas às dificuldades dos catequistas. “a defesa” – Como pensa que deve ser a catequese para as crianças e adolescentes de hoje? JC – Penso que é necessário tirar toda a carga escolar que a catequese ainda tem, para passar a ser como uma família, em que se educa, que se reúne para rezar, cantar, conviver e participar na eucaristia. Transformar a catequese em algo mais apetecível, que não seja para as crianças e adolescentes uma obrigação, porque é um serviço que a Igreja oferece com gosto para que eles se sintam bem. “a defesa” – Como lê o progressivo abandono da aula de educação moral e religiosa católica nas escolas do primeiro ciclo da Arquidiocese? JC – É preciso ter em conta, que foi no sul do país, em que as aulas de EMRC no primeiro ciclo tiveram mais implementação, sendo que quase todos os párocos da nossa Arquidiocese iam às escolas, e a grande maioria dos professoras assumiam a aulas de moral. A partir do momento em que os professores deixaram de assumir a aula de moral e passaram a ir professores de fora, houve alguma quebra. O que se agravou quando o Governo pôs a aula de moral na 26.ª hora, em que não havia disponibilidade dos alunos, dos professores, nem dos auxiliares da educação. Nos últimos anos ainda havia uma dúzia de escolas da arquidiocese em que os párocos iam. Agora com o prolongamento de horário, que é organizado pelas autarquias, que na maior da boa vontade preencheram os horários, sem que a Igreja tivesse sido consultada, a situação ficou mais complicada. Penso que não terá sido má vontade, mas foi colocar à parte uma área que, segundo a lei, é uma área disciplinar, ainda que fora do horário curricular.

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