Em 2008, o ICOMOS (Conselho Internacional dos Monumentos e Sítios) elegeu como tema estruturante para assinalar este dia comemorativo o tema “Património Religioso e Espaços Sagrados”, com o objectivo de contribuir para o reconhecimento, protecção e valorização dos edifícios e obras de arte religiosas, bem como de todos os espaços investidos de valor sagrado pelas respectivas comunidades. Seguindo esta directiva, o município de Cascais preparou o seguinte programa de actividades: 15h00 – Visita guiada à Igreja Matriz de Cascais, que tem como orago Nossa Senhora da Assunção, a orientação da mesma ficará a cargo de José Meco. 18h00 – Apresentação do livro «O Paraíso no “Fim do Mundo” ou o Culto de Nossa Senhora do Cabo». Da autoria de Luís Marques, este livro, com a chancela da Sudoeste Editora, trata da vivência religiosa no Santuário do Cabo Espichel, local de culto e romaria por parte das populações das duas margens do rio Tejo, fazendo larga referência aos círios (confrarias populares) que o frequentavam e frequentam, entre eles o Giro Saloio, no qual se incluem freguesias de Cascais. A apresentação ficará a cargo de Vítor Serrão e decorrerá no Centro Cultural de Cascais, antigo Convento de Nossa Senhora da Piedade dos Carmelitas Descalços, junto à Igreja Matriz. A Igreja Matriz de Cascais Dedicada a Nossa Senhora da Assunção no século XVI, e reconstruída na segunda metade do século XVII de onde lhe vem a actual configuração. Voltada a poente, com 35 metros de comprido de uma só nave, e com duas torres na frontaria. No primeiro de Novembro de 1755, sofreu vários estragos causados pelo terramoto. O Prior de então somente refere ter a Igreja ficado toda rachada, com o coro alto em baixo e todo o frontispício ameaçando ruína. Do recheio artístico destaca-se a pintura, retábulos de talha dourada do estilo nacional e o revestimento azulejar. As pinturas a óleo sobre madeira e tela atravessam o expoente máximo da pintura nacional. Em primeiro lugar as quatro pinturas “primitivas” pintadas em madeira de carvalho do primeiro quartel do século XVI e atribuídas ao Mestre da Lourinhã, que representam a “Natividade”, a “Adoração dos Magos” a “Virgem da Anunciação” e “Anjo S. Gabriel”, sugerem ter pertencido ao antigo retábulo-mor. Numa abrangente componente de misticismo, sobressai em seguida as oito obras pintadas sobre tela datadas de 1672 e 1673, e que são devidas à célebre pintora mística Josefa d’Óbidos, que representam a “Sagrada Família ou Virgem do Leite” o “Menino Jesus Salvador do Mundo” a série “Vida de Santa Teresa de Jesus” e “Visão de São João da Cruz”. Entre outras, uma pintura sobre tela inserida no retábulo da antiga Capela do Santíssimo Sacramento da transição do século XVIII para o XIX, do pintor Pedro Alexandrino de Carvalho, que representa a “Ceia de Cristo com os Apóstolos”. Na abóbada da nave, pintada em grande perspectiva uma tela datada de 1900, executada por José Malhoa, que representa a “Assunção da Virgem”. Diz a tradição ter sido mandada fazer pela Rainha D. Amélia. Os retábulos de talha dourada (ou altares) de estilo chamado nacional são seis e datáveis do segundo quartel do século XVIII. Ergue-se majestoso na sua Capela o Altar-mor com o seu trono e colunas salomónicas. Seguem-se colocados no corpo da nave os outros cinco com suas colunas e nichos para colocação de imagens. Também no corpo da nave do lado da Epístola depois do altar colateral, a antiga Capela do Santíssimo Sacramento que detém além da já mencionada pintura de Pedro Alexandrino, um retábulo de talha dourada e marmoreada da transição do século XVIII para o XIX de estilo D. Maria, e uns cancelos em talha dourada à sua entrada. Destacam-se colocadas nos nichos dos retábulos, imagens de madeira estofadas e policromadas do século XVIII de considerada dimensão e beleza. Nos retábulos do lado do Evangelho, colateral e corpo da nave, “S. José”, “Nª Sr.ª do Carmo” e “S. Pedro na Cátedra”, sendo esta última uma das raras iconografias na estatuária cristã pela sua dimensão. No retábulo do lado da Epístola no corpo da nave, “S. Miguel”. No revestimento azulejar do século XVII, revelam-se as paredes da capela-mor e o frontal do altar-mor, o baptistério com a sua abóbada de berço e paredes, e os frontais dos altares no corpo da nave. Merecendo um olhar mais atento, o frontal de altar do lado da Epístola no corpo da nave. Este apresenta a tradicional composição formada por uma sanefa superior, com franja, e os dois sebastos laterais, com decoração que imita bordado a fio de ouro, e o pano central preenchido por uma decoração maneirista de ferronerie, de inspiração flamenga, incorporando três pequenas representações, São Miguel ao centro, numa moldura rectangular, e duas Almas do Purgatório dos lados, em cartelas elípticas. Do século XVIII, destaca-se o revestimento integral das paredes da sacristia sul. Os azulejos foram realizados em1720, segundo legenda sobre uma das portas: “ESTA OBRA MANDARAM FAZER ASVA CVSTA OS IRMAÕS PESCADORES NA ERA DE 1720”, o revestimento apresenta cenas do antigo testamento (retiradas do Êxodo, Livro dos Reis, e do Livro de Josué), é de notar a representação da Travessia do Mar Vermelho e as cenas da Arca da Aliança. Lateralmente ao arcaz representações de um barco de pesca recolhendo as redes e uma imponente caravela com uma custódia. No corpo da nave azulejos datados de 1748 revestem as paredes. Os painéis dispostos sobre um silhar alto de albarradas representam Cenas da Vida da Virgem e do Apocalipse. Do lado do Evangelho o “Apocalipse”, a “Anunciação” e o “Nascimento do Menino”; do lado da epístola o “Nascimento da Virgem”, a “Apresentação de Nossa Senhora no Templo”, os “Esponsais da Virgem” e o último defronte do apocalipse é uma composição de 1908 pintado por Pereira Cão, que apresenta uma cena do antigo testamento retirada do Livro dos Juízes. Actualmente decorrem na Igreja obras de conservação e restauro (na antiga Capela do Santíssimo Sacramento), ao nível do retábulo, respectiva pintura e os cancelos. Consiste na desinfestação, consolidação e limpeza. João Loureiro