Carnaval: paróquia nas ruas, jovens em oração

O Carnaval, que se vive nos próximos dias um pouco por todo o mundo, é uma festividade popular colectiva, cíclica e agrária. Teve como verdadeiros iniciadores os povos que habitavam as margens do rio Nilo, no ano 4000 a.C., e uma segunda origem, por assim dizer, nas festas pagãs greco-romanas que celebravam as colheitas, entre o séc. VII a.C. e VI d.C.

A Igreja viria a alterar e adaptar práticas pré-cristãs, relacionando o período carnavalesco com a Quaresma. Uma prática penitencial preparatória à Páscoa, com jejum começou a definir-se a partir de meados do século II; por volta do século IV, o período quaresmal caracterizava-se como tempo de penitência e renovação interior para toda a Igreja, inclusive por meio do jejum e da abstinência

Tertuliano, São Cipriano, São Clemente de Alexandria e o Papa Inocêncio II foram grandes inimigos do Carnaval, mas, no ano 590, a Igreja Católica permite que se realizem os festejos do Carnaval, que consistiam em desfiles e espectáculos de carácter cómico.

No séc. XV, o Papa Paulo II contribuiu para a evolução do Carnaval, imprimindo uma mudança estética ao introduzir o baile de máscaras, quando permitiu que, em frente ao seu palácio, se realizasse o Carnaval romano, com corridas de cavalos, carros alegóricos, corridas de corcundas, lançamento de ovos, água e farinha e outras manifestações populares.

Sobre a origem da palavra Carnaval não há unanimidade entre os estudiosos, mas as hipóteses “carne vale” (adeus carne!) ou de “carne levamen” (supressão da carne) levam-nos para o início do período da Quaresma. A própria designação de Entrudo, ainda muito utilizada entre nós, vem do latim “introitus” e apresenta o significado de dar entrada, começo, em relação a esse tempo litúrgico.

Carnaval paroquial

Na paróquia da Glória, Aveiro, os foliões irão percorrer (dia 14 e 16 de Fevereiro) as ruas da cidade e transportar consigo um “carnaval trapalhão” – disse à Agência ECCLESIA Carlos Pires, da comissão organizadora deste evento aveirense.

Com mais de duas décadas de existência, o carnaval desta paróquia tem uma longa tradição. Actualmente, o Pe. João Gonçalves já não é pároco da Glória, mas foi um dos pais desta iniciativa. “Participei em mais de vinte” – referiu. Outrora, o ex-líbris da cidade, a ria, servia também de palco carnavalesco. Alguns dias antes do carnaval, o rei do corso “chegava de moliceiro”. “Dava um cunho muito característico à iniciativa” – explicou o Pe. João Gonçalves.

Aveiro engalanava-se nesses dias e recebia “multidões”. “Era o evento que congregava mais pessoas na cidade” – recorda o antigo pároco da Glória. Com um percurso longo, o cortejo percorria as ruas aveirenses. “Era um carnaval muito popular onde todos podiam desfilar”. E acrescenta: “apesar do perigo da ria, nunca tivemos nenhum incidente”.

Depois de dois anos de interregno, o corso da Glória volta, novamente, animar as ruas citadinas. A comissão do carnaval da Glória está a preparar três carros alegóricos, mas conta com a participação dos foliões que aparecem. “Temos garantida a presença do grupo das Barrocas” – referiu Carlos Pires. Os mascarados e fantasiados darão brilho e cor ao carnaval da paróquia. Fruto do voluntariado, os elementos da comissão andam numa azáfama: “Trabalhamos todos os dias, menos ao Domingo”.

Este ano os símbolos aveirenses (sal, marnotos, moliceiros e ovos moles) não estarão em destaque no corso. “Irá reinar o tema da justiça, «face oculta», sucatas e instituições bancárias” – confidenciou este elemento da organização. E avança: “a justiça que não há”.

O rei e a rainha do cortejo são dois elementos da paróquia que levarão “trajes adequados” e que “fazem parte do nosso património”. Um carnaval gratuito, “não cobramos bilhetes”, onde a ironia e o lado trocista não faltarão. No entanto – ressalva Carlos Pires – “proibimos pessoas que ofendam a Igreja”. Nos outros anos “aconselhámos pessoas a sair do cortejo”.

Propostas alternativas

A Comunidade Cristo de Betânea, em Fátima, organiza um carnaval alternativo. Marta Pereira salienta que a comunidade “aproveita este tempo de férias dos jovens para lhes proporcionar momentos diferentes”. Em declarações à Agência ECCLESIA, esta responsável realça que é um “tempo de discernimento e divertimento”.

Um carnaval alternativo (de 13 a 16 de Fevereiro) com dramatizações, jogos e canções. “Depende dos dons dos participantes” – reconhece Marta Pereira. Segundo o programa está previsto “caminhadas pela zona de Fátima, a visita ao Centro João Paulo II (tem deficientes profundos) e a ida a um lar de idosos”.

Com mais de dez anos, o carnaval nesta comunidade já “tem tradição e costuma juntar algumas dezenas de participantes”. Após estes momentos de divertimento, Marta Pereira disse que formam também os presentes sobre o tempo quaresmal. “Temos ensinamentos esclarecedores sobre a Quaresma”.

Também nos dias de Carnaval, embora não sendo uma celebração específica desta quadra, a Diocese do Porto será “invadida” por milhares de jovens para o Encontro Ibérico da Comunidade ecuménica de Taizé.

De 13 a 16 de Fevereiro, portugueses, espanhóis e jovens de mais de 20 países vão procurar as fontes da alegria através: de uma experiência de hospitalidade proporcionada pelas famílias da Invicta; da beleza de uma comunhão com Deus celebrada em orações comunitárias; da descoberta de iniciativas que visam dar um rosto mais humano à sociedade; do encontro com jovens vindos de horizontes muito diversos; da reflexão bíblica e sobre a relação da fé com temas sociais, culturais ou artísticos e de uma vivência concreta em Igreja, em espírito de simplicidade, partilha e acolhimento.

LFS/OC

Partilhar:
plugins premium WordPress
Scroll to Top