Cardeal Ratzinger revela detalhes da eleição de João Paulo I

Numa altura em que aumentam as especulações em torno do estado de saúde do actual Papa, o cardeal Joseph Ratzinger fez revelações inéditas sobre a eleição de Albino Luciani, o Papa João Paulo I, que faleceu trinta dias depois de se tornar Papa, há 25 anos. Em uma entrevista concedida à revista mensal «Trinta Dias», o prefeito da congregação para a Doutrina da Fé, que conheceu Luciani quando este era patriarca de Veneza, revela a sua experiência pessoal no Conclave de 1978. «É verdade que alguns cardeais de língua alemã se encontravam algumas vezes – explicou-. Participavam nesses encontros os cardeais Joseph Schroffer, antigo prefeito da Congregação para a Educação Católica, Joseph Hoffner, arcebispo de Colónia, Franz Konig, arcebispo de Viena, e Alfred Bengsch, arcebispo de Berlim. Encontravam-se também Paulo Evaristo Arns e Aloísio Lorsheider, cardeais brasileiros de origem alemã, mas era um grupo pequeno.” “Não queríamos forçar nada. Somente queríamos conversar. Eu deixei-me guiar pela Providência, escutando os nomes e vendo como se formava finalmente um consenso em torno do patriarca de Veneza”, revelou. Na Constituição Apostólica “Universi Dominici Gregis”, de 1996, João Paulo II recomenda aos cardeais que, durante a eleição do Papa, “se abstenham de todas as formas de pactuação, convenção, promessa, ou outros compromissos de qualquer género, que os possam obrigar a dar ou a negar o voto a um ou a alguns. Todavia, não é meu intento proibir que, durante o período de Sé vacante, possa haver troca de ideias acerca da eleição” (nº 81). Após a eleição de João Paulo I, Ratzinger reconhece ter-se sentido “muito feliz”. “Ter como pastor da Igreja universal um homem dessa bondade e dessa fé luminosa era uma garantia de que tudo ia bem. Ele mesmo se sentiu surpreendido e sentia o peso de sua grande responsabilidade; via-se que sofreu algo por causa disto. Não esperava a eleição e não era um homem que procurava fazer carreira”, assegura. «O facto de a Providência ter dito “não” à nossa eleição foi verdadeiramente um golpe duro, mas a eleição de Luciani não foi um erro. Esses 33 dias de pontificado tiveram um papel na história da Igreja. Não foi somente o testemunho de sua bondade e fé alegre, a sua morte imprevista abriu também as portas para uma opção inesperada: a de um Papa que não era italiano».

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