Cada vez mais pessoas recorrem à Cáritas

Responsáveis de Leiria e da Guarda falam num agravar da crise, com falta de bens de primeira necessidade São crescentes os pedidos de ajuda que os serviços Cáritas estão a receber. Em textos inseridos num dossier da Agência ECCLESIA dedicado à «Fome», os responsáveis da Cáritas Diocesana de Leiria e também da Guarda dão conta de um agravar da crise e de um aumento de pedidos de ajuda para bens de primeira necessidade. Uma realidade que percorre o país, de Norte a Sul, que nos relatos dos dois responsáveis diocesanos ganha contornos de precisão. Leiria precisa um crescimento contínuo, “primeiro mais discreto e silencioso”, que vem de “há cerca de um ano, mas que cresce de dia para dia, principalmente na procura de bens alimentares”. A Guarda indica o mês de Novembro de 2008 como a altura em que “as solicitações de ajuda e a procura de algum tipo de apoio na Cáritas têm vindo a sofrer um aumento bastante significativo”, aponta Paulo Neves, Secretário da Cáritas diocesana da Guarda. Este responsável traça um quadro do que diariamente lhe chega. “Pessoas que se caracterizam como sendo beneficiários do Rendimento Social de Inserção com gastos elevados em saúde e habitação, desempregados sem subsídios ou com subsídios muito diminutos, famílias/indivíduos que recorrem à Segurança Social solicitando ajuda a vários níveis (para alojamento/medicação/roupas), sendo depois encaminhados para os serviços da Cáritas, alguns casos de sem-abrigo sem qualquer tipo de apoio, trabalhadores com empregos muito precários e com rendimentos muito baixos, muitas vezes estando só um dos elementos do agregado familiar a trabalhar, frequentadores de cursos de formação com bolsas reduzidas, famílias monoparentais, mulheres em situação de abandono por parte dos companheiros, ficando com todos os encargos (despesas/filhos/dívidas) sob a sua responsabilidade”. Ambrósio J. Santos, da Cáritas Diocesana de Leiria indica que são, na sua maioria, portuguesas as pessoas que mais recorrem a Cáritas. “Mas também um bom número de imigrantes. O crescente afluxo de pessoas do sexo masculino, não anula a predominância das mulheres, com algumas jovens mães imigrantes”. Para além da ajuda alimentar À ajuda alimentar, a Cáritas de Leiria tem uma valência que designa por «banco de bens móveis». Vestuário, agasalho, roupa de cama, calçado, móveis e equipamentos domésticos, material escolar entre outros bens foram entregues a cerca de 400 pessoas, num total de 34 000 bens entregues em 2008. As necessidades apontada por Leiria estendem-se ainda a custos fixos da vida como “renda de casa ou do quarto, despesas com água, electricidade, gás, transportes”, demandas igualmente atendidas. Ambrósio Santos apresenta ainda o Programa Comunitário de Ajuda Alimentar a Carenciados (PCAAC), uma proposta gerida pela Segurança Social no concelho de Leiria, que ajudou “perto de 800 famílias (2000 pessoas) e 36 instituições (1100 pessoas) com cerca de 65 toneladas de bens alimentares disponibilizados antes do Natal”. A diocese da Guarda apresenta também respostas múltiplas, dentro das também diferentes solicitações. Paulo Neves refere serviços e valências da Cáritas Diocesana como o Centro de Apoio à Vida “Nas©er” “que se destina a apoiar grávidas adolescentes ou puérperas em situação de dificuldade e respectivas crianças. Para “apoiar crianças, adolescentes e jovens com dificuldades de vária ordem e respectivas famílias” foi criado o Projecto “Crescer.Com”, do Programa para a Inclusão e Desenvolvimento. A área da formação é contemplada dentro do Programa Operacional Potencial Humano relacionada com “Apoio à Família e à Comunidade”, “Criação do Próprio Emprego”, e “Saúde da Pessoa Idosa”. A Cáritas tem também o Projecto “SUBTIL” ligado ao Programa Operacional de Respostas Integradas, do Instituto da Droga e Toxicodependência, como Programa de Redução de Riscos e Minimização de Danos a nível de comportamentos aditivos. No âmbito do apoio à terceira idade, há ainda o Serviço de Apoio Domiciliário a Idosos “como valência de combate à solidão”. Apoio com o Roupeiro da Cáritas Diocesana da Guarda e os atendimentos Sociais e Psicológicos compõem as restantes valências deste serviço. Ganância na origem da crise A Cáritas Portuguesa denuncia a ganância e o egoísmo que conduziram à actual crise financeira. O comunicado final da reunião do Conselho permanente deste serviço da Igreja Católica, indica que “a cartilha de valores que só se satisfaz na busca da riqueza, na aquisição de bens supérfluos, na vida superficial, sem valores espirituais nem solidariedade”, está na origem deste situação que a Caritas denunciou em Maio de 2008, quando “a situação de crise se anunciava com gravidade”. A Cáritas manifesta a sua preocupação a partir de situações que conhece “baseadas na informação recebida de instâncias internacionais credíveis e do conhecimento adquirido no terreno, paróquia a paróquia, diocese a diocese”. Famílias atingidas pelo desemprego, pelos salários em atraso, pelo aumento do custo de vida, a falência da classe média que contribuiu para o recrudescimento da designada «pobreza envergonhada» são situações apontadas pela Caritas que indica ser dever do poder público criar “condições efectivas e atempadas conducentes à revitalização da economia”. O comunicado indica ser de “elementar justiça”, apoiar todos os que “perderam o emprego ou por endividamento excessivo vivem no desespero”, pois “muitos deles e delas vítimas de uma cultura consumista desregulada”. A Comissão Permanente da Cáritas Portuguesa pede à classe política que crie condições para o reforço dos meios dissuasores de falências oportunistas e fraudulentas. Este serviço pede “empenho na criação e manutenção de emprego” e frisa a importância de apoiar quem possa criar próprio posto de trabalho. A Cáritas frisa que continuará presente, em cada diocese, em cada paróquia, “junto de todos os homens e mulheres de boa vontade, para ajudar todos os que estão verdadeiramente empenhados em construir uma sociedade mais humana e mais justa”.

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