Cabinda: Violência prossegue no enclave, acusa Igreja Católica

Fundação Ajuda à Igreja que Sofre recorda campanha em Portugal para denunciar a situação Esta semana, a Imprensa Portuguesa fez eco de declarações do vigário-geral da diocese de Cabinda à Rádio Ecclesia, em que este sacerdote afirma que “as populações continuam a sofrer abusos graves da parte das Forças Armadas de Angola”. O padre Raul Tati afirma o clima de absoluta impunidade que decorre das actuações dos militares: “desde que começou esta guerra, nós estamos a fazer denúncias de casos flagrantes de abusos dos direitos humanos e não houve um único caso em que tivessem sido responsabilizados criminalmente os seus autores”, afirma. As declarações do padre Raul, proferidas no passado fim de semana, indiciam um aumento global do clima de tensão neste enclave, “com o aumento significativo de forças (armadas) e isto quer dizer que a guerra continua em Cabinda, contrariamente àquilo que o discurso oficial do Governo pretende dar a entender”. A Igreja tem sido, nos tempos que correm, uma das instituições que mais denuncia o clima de medo que se vive em Cabinda. O padre Casimiro Congo, da paróquia da Imaculada Conceição, em declarações proferidas na passada segunda-feira à Rádio Renascença, em Lisboa, afirma sem rodeios que “o Governo angolano tem a boca virada para o mundo internacional, mas tem as mãos de ferro pousadas sobre o dorso do povo de Cabinda”, dando como exemplo mais recente o caso de Celina, esposa de Marcelino Saens, que terá sido “assassinada por um militar” no passado sábado. Estas acusações acontecem na mesma altura em que a organização de direitos humanos “Human Rights Watch” divulga um detalhado relatório onde se dá conta do desaparecimento de rendimentos de petróleo, em Angola, no valor de cerca de 3,1 mil milhões de Euros, no período compreendido entre 1997 e 2002. O relatório, de 93 páginas, liga a questão do desaparecimento destes fundos com a violação dos direitos humanos. Recorde-se que o território de Cabinda é extremamente rico em petróleo, produzindo actualmente cerca de 700 mil barris diários, ou seja, praticamente dois terços das receitas totais do Estado Angolano. Recorde-se que no decorrer do ano passado, a Fundação Ajuda à Igreja que Sofre lançou uma campanha em Portugal de denúncia da situação em Cabinda e em apoio à formação de sacerdotes e seminaristas para Angola. Intitulada “A indiferença é um crime!”, esta campanha dá conta do drama que se vive no enclave de Cabinda, com “execuções sumárias, espancamentos e torturas, destruições de casas e pilhagens de bens dos aldeões”. Para se compreender melhor a situação de Cabinda é preciso recuar até 1885, altura em que o território passou a ser um protectorado português através do tratado de Simulambuco. É na reivindicação desse estatuto especial, que os movimentos de libertação existentes no território têm mantido um conflito aberto com as autoridades de Luanda. Angola, por sua vez, considera Cabinda com território seu e não reconhece legitimidade histórica àquele documento, apesar de já ter admitido a possibilidade de uma eventual solução autonómica no quadro da soberania angolana. Paulo Aido, Departamento de Informação da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre

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