«Cabaz de Conversas»: «Seria do coração da Serra da Estrela que viriam os pastores para o nosso presépio» – António Bico (c/vídeo)

Jovens de Fernão Joanes, na diocese da Guarda, agarram as tradições e “projetos iniciados pelos pastores”

Guarda, 23 dez 2002 (Ecclesia) – António Bico, presidente da Associação Cultural e Recreativa de Fernão Joanes, na diocese da Guarda, partilhou com a Agência ECCLESIA as tradições natalícias da Serra da Estrela e destaca que os pastores passam a sua “sabedoria às gerações mais novas”.

“Seria do coração da Serra da Estrela, gente de trabalho, habituada a artes e ofícios, que viriam os pastores para o nosso presépio, de forma diferenciadora, que tão bem caracteriza os pastores da serra”, destaca António Bico. 

O entrevistado, também responsável pelo grupo juvenil paroquial, defende que a sabedoria dos pastores que ainda existem na serra é “passada todos os dias aos mais novos”, essencialmente a netos e bisnetos. 

“Aprendemos lições para a vida, por mais que os jovens que saiam e vão estudar, nem tudo se aprende na vida académica, as outras coisa é no quotidiano e na sabedoria dos mais velhos… E eu não tenho dúvidas que estes jovens destas aldeias, que andam nesta iniciativas de cariz religioso e dimensão associativa têm aspetos marcantes nas suas vidas profissionais”, aponta.

Os pastores de hoje “transmitem muita confiança” aos mais novos sublinhando que “estão ali para ajudar no que precisarem”.

O tempo do Natal é vivido na serra com grande alegria porque há muita gente que “regressa às origens” e os mais novos que por ali permanecem fazem de tudo para manter vivas as tradições. 

“O Natal era momento de regressar às origens, conviver-se ao relento, e no quente que é estar na casa dos avós, junto à lareira como é aqui na beira; a vida mudou muito do que era antigamente e não temos pastores novos”, lamenta.

António Bico ainda se lembra, na paróquia de Fernão Joanes, a missa da noite de Natal ser especial, com a Igreja cheia e os pastores vestidos a preceito.

“Ainda me recordo de cantarmos na eucaristia e ter a presença dos pastores, vestidos a rigor, com cajado e manta e traziam os chocalhos, estavam na missa de Natal”, conta.

Devido a vários aspetos, seja a idade avançada e o número reduzido de pastores, a celebração da noite de Natal já não é assim e agora os pastores, da “freguesia e aldeias vizinhas”, marcam presença na festa da transumância, em maio. 

“Enchemos a Igreja com a alegria deles, lembramos os que já faleceram, há muito simbolismo e até temos também a presença do cão da serra, companheiro fiel do pastor”, refere.

Os jovens que ali ainda permanecem, segundo António Bico, agarram os “projetos iniciados pelos pastores” e têm toda a sua confiança. 

“Eles é que iniciaram estes projetos e agora os mais novos agarraram, sendo um legado que nos foi deixado e continuaremos a trabalhar nesta iniciativas que são muito comoventes para a freguesia”, explica. 

Desde “dar alegria através da música na animação da eucaristias”, seja a “habitual fogueira de Natal” ou o “pinheiro da serra que iluminam no centro da freguesia”, todas são iniciativas que marcam que lá vive e, este ano tão difícil, pretendem “dar um pouco de alegria”.

O ‘Cabaz de Conversas’ é uma partilha da realidade e das tradições de Natal nas dioceses portuguesas e também uma iniciativa solidária com a Agência ECCLESIA e as dioceses a organizarem um cabaz que vai ser entregue às Irmãs Dominicanas do Rosário.

SN

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