Brasão de Armas da Fé

De D. António Carrilho Brasão de Armas da Fé De azul, faixa de prata ondada, carregada com uma faixeta ondada de verde, entre três peixes de vermelho bem ordenados, os superiores em cortesia, acompanhada de chrismon de ouro, contido em aro do mesmo, e de estrela de oito pontas de prata. Chapéu negro forrado de verde. Cordões e seis borlas por lado de verde. Listel de branco com a legenda a negro: FAZ-TE AO LARGO. Cruz episcopal de ouro sotoposta ao escudo e ao listel. As peças do escudo: a faixa ondada carregada com os peixes representa o mar e os peixes o Povo de Deus. A sua escolha articula-se com a legenda “Faz-te ao largo”, tirada do Evangelho segundo S. Lucas (5,4); simboliza também o mar do Algarve, donde o prelado é natural, e alude à igreja da sua ordenação episcopal: S. Pedro do Mar, em Quarteira. A posição dos peixes superiores – em cortesia, isto é voltados um para o outro – é a usual, quando no escudo figura, como é o caso, algum símbolo representativo de Cristo, obrigando a que, por respeito, os animais se voltem para este símbolo. O chrismon de ouro representa Cristo, ocupando o lugar mais honroso do escudo, o chefe. Encontra-se dentro de um aro a significar que a acção apostólica do Bispo se orienta para colocar Jesus Cristo no centro do mundo. A estrela de prata é por excelência um símbolo mariano, aludindo às padroeiras da Sé de Faro e da Sé e da Cidade do Porto, onde o prelado iniciou o seu múnus como Bispo Auxiliar, e ainda a Nossa Senhora da Piedade, a Mãe Soberana, Padroeira da Cidade e do Concelho de Loulé, donde é natural. Também a Diocese do Funchal é especialmente dedicada à Virgem Santa Maria, tendo-a como Padroeira, sob invocações diversas, 48 das suas 96 paróquias, e a própria Diocese, sob o título de Nossa Senhora do Monte. Faz-te ao largo… (Lc 5,4) Quando, na tarde do dia 10 de Fevereiro deste ano de 1999, me soube “chamado” pelo Santo Padre para ser Bispo Auxiliar do Porto, fiz silêncio dentro de mim e numa atitude de oração, procurei situar-me diante de Deus, pedindo-lhe luz – talvez um “sinal” para uma resposta humilde e fiel. É que a palavra do Santo Padre, que o Senhor Núncio Apostólico me transmitia, era mais do que um simples convite: era um novo “chamamento” a seguir Jesus Cristo e a amar como Ele, até ao fim. E, de imediato, senti-me transportado, com o pensamento e o coração, ao Lago de Tiberíades: vi o Mestre que, uma vez mais passava e chamava pelo próprio nome, um a um, os Seus “Apóstolos” – aqueles a quem chamou para ficarem consigo, para aprenderem d’Ele a servir, para serem enviados em missão a anunciar o Reino já presente desde que o Verbo incarnou para nos revelar o Amor que o Pai nos tem. Senti-me, também eu, chamado a fazer parte dessa “comunidade dos doze”, desse “colégio apostólico” que, ao longo de vinte séculos de Igreja, tem procurado ser fiel ao “ministério do serviço” na “comunhão da caridade”. A experiência mais forte que vivi nessa hora persiste sempre mais clara: é um chamamento que me é feito e me exige uma resposta. A perplexidade interior do primeiro momento é, afinal, a de todos os “chamados” de todos os tempos… E repassava tantas vocações bíblicas que sempre iluminam momentos como o que eu vivia! Detive-me, sobretudo, na “anunciação” do mensageiro de Deus a Maria de Nazaré: avivou-se em mim a consciência de que, quando Deus chama, não falta a “sombra” e a força do Espírito Santo que leva a assumir, a abraçar a missão que nos é proposta, na certeza de que “a Deus nada é impossível”. Com serenidade, pude, então, dizer o meu Sim como um eco do SIM de Maria, humilde e confiante, para o serviço do Reino de Deus. Para ajudar a nascer Jesus no centro e no coração do Mundo que o Pai tanto ama. Entre outras “anunciações” e “chamamentos” recebidos ao longo da minha vida, destaca-se, sem dúvida, o chamamento à graça do sacerdócio. Acolhida com os olhos no Mestre, esta graça ficou indelevelmente marcada pelo gesto humilde do lava-pés e pelas palavras de Jesus que o iluminaram: “Dei-vos o exemplo para que, como Eu vos fiz, o façais vós também” (Jo 13, 15). Daí, o lema escolhido para a minha Ordenação Sacerdotal: “Como Jesus, vim para servir” – um lema que agora renovo, vendo na missão episcopal uma exigência de maior entrega, de uma mais profunda dedicação e serviço à causa do Evangelho, da Igreja e do Homem. Um lema que, nesta hora, completo, lembrando as palavras de Jesus a Simão Pedro, no contexto da sua vocação: “Faz-te ao largo” (Lc 5,4). Foi, afinal, esta palavra que inspirou o SIM da confiante determinação, por parte de Pedro: “Porque Tu o dizes, lançarei as redes” (Lc 5,5) e a clarificação da missão, por parte de Jesus: “Não tenhas receio: de futuro serás pescador de homens” (Lc 5,10). Ao assumir o múnus episcopal, tenho presente quanto a Igreja tem vindo a dizer sobre a identidade e missão do Bispo, desde o Concílio Vaticano II, especialmente na Constituição Dogmática sobre a Igreja – Lumen Gentium – e no Decreto sobre o Múnus Pastoral dos Bispos – Christus Dominus. A insistência numa missão que deve ser exercida em espírito de serviço e em solicitude fraterna: “… comportem-se os Bispos no meio dos seus como quem serve, como bons pastores que conhecem as suas ovelhas e por elas são conhecidos, como verdadeiros pais que se distinguem pelo espírito de amor e de solicitude para com todos (…) Reúnam à sua volta a família inteira da sua grei e formem-na de tal modo que todos, conscientes dos seus deveres, vivam e operem em comunhão de caridade”. (CD 16). Renovando, assim, como Bispo, o meu desejo de servir em simplicidade e alegria, procurarei fazer-me ao largo, lançando as redes da missão que me é confiada, para glória do Pai, do Filho e do Espírito Santo. (Da Mensagem de D. António Carrilho, na Eucaristia da sua Ordenação Episcopal, na igreja de S. Pedro do Mar, em Quarteira – Algarve, na tarde do dia 29 de Maio de 1999 – Liturgia da Solenidade da Santíssima Trindade).

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