Bragança-Miranda: Festas de Inverno são «vividas com intensidade»

Roberto Afonso destaca «Festa dos Máscaras» em Ousilhão, celebrada no primeiro dia depois do Natal

Vinhais, 26 dez 2021 (Ecclesia) – O professor e investigador Roberto Afonso destacou que as Festas de Inverno, no território da Diocese de Bragança-Miranda, são “vividas com intensidade”, dando o exemplo de Ousilhão, no município de Vinhais, neste dia 26 de dezembro.

“Em Ousilhão, o Natal que é como chamam à ‘Festa dos Máscaras’ deles ou a festa de Santo Estêvão faz com que dezenas de máscaras vão a todas as casas da aldeia dar as boas festas”, disse à Agência ECCLESIA.

Segundo Roberto Afonso, neste dia 26 de dezembro, quando a Igreja Católica celebra tradicionalmente Santo Estêvão, diácono e primeiro mártir, em Ousilhão as pessoas “sentem e vivem o verdadeiro espírito de Natal”, em termos “de fraternidade, de juntar, unir, as pessoas”.

“Esta visita feita pelos máscaras, com os gaiteiros, pelos moços que vão a encabeçar esse cortejo, permitem ver que as portas estão todas abertas, as pessoas são recebidas com uma dança ritual à volta da mesa, e depois de dar as boas festas comem e bebem e seguem para a casa do lado”, desenvolveu o investigador.

Roberto Afonso destaca que Vinhais é “riquíssimo em festas de inverno”, que também marcam o nordeste transmontano, sendo o solstício marcado pelos caretos que, “com os seus chocalhos com funções apotropaicas”, tentam “expurgar os males, expulsar a invernia, a escuridão e as trevas” que estão presentes no dia-a-dia destas gentes.

A partir de 31 de outubro, “a primeira festa de inverno, com o primeiro mascarado a sair” é em Vinhais, numa aldeia em Cidões, e continuam, a partir de 13 de dezembro, no dia de Santa Luzia, com a ‘Festa do Velho e da Galdrapa’, em Mirando do Douro.

“Depois as máscaras assumem grande força no ciclo dos 12 dias entre o Natal e a Epifania, quando são dedicadas principalmente a Santo Estêvão, continuam no Carnaval, ainda fazem parte deste ciclo de inverno, e culminam na Quarta-feira de Cinzas, primeiro dia da Quaresma”, acrescenta Roberto Afonso.

O entrevistado recorda que, em Vinhais, depois da Missa de imposição de cinzas, “centenas de diabos vagueiam pelas ruas acompanhados pela morte”, e “vão apanhando os transeuntes desprevenidos e vão chicoteando as raparigas, principalmente”.

Neste ritual, quando apanhadas, são rezadas umas “ladainhas semipagãs” – “salvé rainha, mata a rainha, mete-a no pote, unta o bigode; Credo, creio em Deus todo-poderoso, o folho do rei criou um raposo; Padre-nosso, rilha o osso, rilha-o tu que eu já não posso” – “uma junção entre orações e um pouco do paganismo”, associadas às festas do ciclo de inverno e que culminam na Quarta-feira de Cinzas.

Roberto Afonso, que também é colecionador, tem atualmente patente a exposição ‘Entre Deus e o Diabo’, com cerca de 170 peças, no Centro Cultural Solar dos Condes, em Vinhais, até 31de maio de 2022.

São essencialmente peças em barro do figurado português “de grande tradição nalgumas zonas do país”, principalmente no Minho e em Barcelos, figurado de Estremoz, no Alentejo, e que encontram paralelo no concelho de Vinhais nas máscaras de inverno, que são usadas em Rebordelo, Travanca, Ousilhão, Vale das Fontes.

“Na exposição há alguns presépios, com a cena da natividade e que permitem a quem vem visitar conseguir encontrar este paralelo entre o bem e o mal. O presépio é uma das imagens mais queridas pelas pessoas”, salienta Roberto Afonso.

Segundo o colecionador, o tema da mostra concilia os “dois conceitos de bem e de mal, que caminham lado a lado”, existe a festa “que é a parte profana”, a parte que não é considerada sagrada, e a parte da Missa.

“Está aqui o sagrado e o profano representado, com cabras, com animais imaginados pelos artesãos, tirados da sua criatividade, e também alguns santos associados a estas festas – São João, São Pedro, o Santo António, a Santa Barbara, a padroeira contra as trovoadas”, salientou.

Roberto Afonso é o autor do conto ‘Ver para Crer’, da Diocese de Bragança-Miranda, que integra a edição digital “Contos de Natal”, sobre tradições e vivências desta quadra natalícia nas diferentes regiões de Portugal, publicado pela Agência ECCLESIA.

CB/OC

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