D. José Cordeiro fala em «processo de purificação», pedindo perdão às vítimas
Braga, 02 out 2022 (Ecclesia) – O arcebispo de Braga enviou uma mensagem à comunidade paroquial do Divino Salvador de Joane, após a denúncia de casos de abusos sexuais por membros da mesma, manifestando “profunda tristeza e imensa dor”.
“Às vítimas e a toda a comunidade paroquial, que se sente provada na fé e escandalizada, desejo manifestar o meu carinho e a minha proximidade e pedir humildemente perdão”, escreve D. José Cordeiro, que tomou posse a 12 de fevereiro deste ano.
A Arquidiocese de Braga informou este sábado, em comunicado, que impôs “medidas disciplinares” ao cónego Manuel Fernando Sousa e Silva, após acusações de abusos contra o sacerdote em Joane.
“Foi com profunda tristeza e imensa dor que recebi a notícia de que alguns membros da comunidade estão a sofrer e que o seu sofrimento chegou aos meios de comunicação social, através da denúncia de abusos cometidos durante a celebração do Sacramento da Reconciliação”, referiu este domingo o arcebispo primaz, em nota divulgada online.
D. José Cordeiro destaca a “forte exposição mediática” a que esta comunidade paroquial tem sido exposta, assinalando que “esta experiência pode contribuir para o aprofundamento de um processo de purificação”.
É preciso reconhecer que, neste caso, a Igreja falhou no seu dever de proteger os mais frágeis e vulneráveis. Desejo criar as condições para que todas as vítimas possam ser acolhidas, escutadas e acompanhadas”.
O arcebispo de Braga presta homenagem ao “percurso” e “história de fé admirável” da Paróquia do Divino Salvador de Joane, antes de elencar os passos dados, até ao momento, para “apurar a verdade e acolher as vítimas”.
Retomando o comunicado de sábado, D. José Cordeiro explica que, a 21 de novembro de 2019, chegou à Comissão de Proteção de Menores e Adultos Vulneráveis da Arquidiocese de Braga (CPMAV) uma denúncia por parte de uma vítima, relatando ter sofrido abuso sexual por parte do referido sacerdote; dois anos mais tarde, chegou à Comissão mais uma denúncia.
Em sintonia com o Dicastério para a Doutrina da Fé (Santa Sé), em julho de 2022 foram impostas medidas disciplinares ao sacerdote em causa: “a necessidade de se abster de exercer publicamente o seu ministério sacerdotal e, de modo particular, a celebração pública dos Sacramentos da Eucaristia e da Reconciliação, devendo recolher-se num clima de oração, reflexão e penitência”.
“Reconheço que não conseguimos ser mais céleres no tratamento das denúncias e mais eficazes no acompanhamento das vítimas, o que lamento profundamente. No entanto, estamos ainda a caminho e quero dizer-vos que darei todos os passos necessários no sentido de promover um processo de cura e reconciliação”, aponta o arcebispo primaz.
D. José Cordeiro anuncia ter pedido à CPMAV a criação de um “Serviço de Escuta”, destinado a quem deseje partilhar as suas experiências.
“Peço veementemente a todos os que possam ter conhecimento de situações de abuso que façam chegar o seu testemunho à Comissão (comissao.menores@arquidiocese-braga.pt ou 913 596 668). Sei que é doloroso recordar e partilhar experiências de abuso, mas este é um passo indispensável no processo de cura e apuramento da verdade”, acrescenta.
O responsável católico fala num “momento difícil da vida da Igreja em Portugal” e deixa uma mensagem de esperança.
“Confio que o processo de purificação que estamos a iniciar abrirá para a Igreja um novo futuro, marcado pelo reconhecimento humilde e transparente dos seus erros e pecados, pelo acolhimento das vítimas e pela criação de uma cultura de prevenção e cuidado”, realça.
OC
Braga: Arquidiocese impôs «medidas disciplinares» a sacerdote, após acusações de abusos em Joane