Bispos lamentam «quebra de confiança» na educação

CEP deixa recados ao Governo e pede recuperação do clima de diálogo A 168ª Assembleia Plenária da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) encerrou-se esta Quinta-feira em Fátima com um apelo dos Bispos para alunos e professores do nosso país, lamentando a “quebra de confiança” que se verifica entre Governo e professores. Em conferência de imprensa, D. Carlos Azevedo, Secretário da CEP, frisou que “o grande problema da educação é o Estado”, destacando que “a razão de ser das escolas são os alunos, aqueles de quem nós estamos ao lado, porque os professores são por causa dos alunos e aos pais pedimos um papel de mais acompanhamento dos filhos”. A posição dos Bispos, refere o secretário da CEP, fica claramente demarcada no comunicado final, com críticas implícitas “a uma confiança que foi quebrada entre professores e governo”, esperando que a mesma seja recuperada “o mais rapidamente possível”. No documento, os Bispos dirigem-se directamente aos professores, com “uma palavra de estímulo e de confiança”. “A educação escolar, antropologicamente fundamentada e apostada no desenvolvimento integral da pessoa humana de todos e cada um dos alunos é uma exigência absoluta para o futuro da sociedade portuguesa”, pode ler-se no documento. A CEP destaca “o que já se faz bem feito e com bons resultados, tanto em escolas estatais como em escolas particulares”, indicando que a vocações dos professores “deve ser reconhecida e incentivada por toda a sociedade”. “Só num clima de confiança e de exigência mútuas e de esperança é possível melhorar a educação”, aponta o comunicado. D. Jorge Ortiga, presidente da CEP, repetiu uma afirmação de D. José Policarpo, frisando que os professores são essenciais para “o futuro do nosso país”. Retomando outra das ideias manifestadas durante a assembleia, “passámos de uma paixão pela educação a um histerismo”, o Arcebispo de Braga diz que “os fenómenos de violência são factos, mas também um sintoma de que a própria sociedade precisa de se alicerçar em valores”. Assinalando que a educação “é uma exigência absoluta para o futuro da sociedade portuguesa”, o comunicado da CEP defende um “ambiente de disciplina” entre os alunos, que convida ao “esforço e dedicação ao estudo”. Falando “num tempo de profundas mutações e incertezas”, os Bispos pedem das novas gerações “sólidos conhecimentos de base”, “espírito crítico e criativo” e “activa participação cívica”. D. Carlos Azevedo sublinha que esta posição não se deve a qualquer polémica recente, mas procura dar “aos professores, pais, estudantes e movimentos católicos uma palavra de orientação e de confiança, para que sejam agentes de confiança nas suas escolas”. Segundo este responsável, “deve haver uma reflexão mais aprofundada” e “um clima de ponderação” sobre a educação, pedindo que sejam debatidas questões “que dizem respeito a toda a sociedade portuguesa”. “Na nossa reflexão foi tido em conta como é hoje difícil ser professor”, aponta, lamentando que “muitos desistam de ser professores dada a dificuldade em ser bom”. D. Jorge Ortiga referiu que, no caso de ser pedida a mediação da Igreja “e for útil, não deixaremos de prestar esse serviço”, admitindo que não perspectiva esse cenário “na sociedade em que vivemos”. Por último, ambos pedem um “projecto educativo original e específico” às escolas católicas. Igreja-Estado O comunicado refere-se ainda à necessidade da “rápida e ponderada concretização” do processo de regulamentação da Concordata de 2004. “Toda e qualquer lei supõe uma regulamentação suplementar e posterior”, lembrou D. Jorge, lamentando que essa regulamentação não tenha acontecido no caso da Concordata. O presidente reeleito da CEP recordou o encontro que foi mantido, em 2007, com José Sócrates, no qual foram elencados alguns dos assuntos que exigiam maior atenção. “No início deste ano, em Janeiro, pedimos uma audiência ao ministro da presidência, onde recordámos o memorando que fora deixado ao Primeiro-ministro”, afirmou, revelando que foi garantido que, neste primeiro semestre, essas questões seriam resolvidos ou, pelo menos, encaminhadas. O Arcebispo de Braga admite que, antes do Verão, possa ser solicitada uma nova audiência para, “no diálogo”, abordar os temas que preocupam os Bispos. Entre os temas mais relevantes estão a escola católica, a EMRC, a assistência hospitalar, a UCP e a segurança social dos sacerdotes. Neste caso, disse D. Jorge Ortiga, têm surgido “alguns incómodos” por causa do cruzamento de dados com as Finanças. Na ausência de regulamentação da nova Concordata, os Bispos defendem que deva ser utilizada a regulamentação anterior. Desde 2006, os sacerdotes já fazem declaração dos seus vencimentos (a rondar os 800 Euros, na maioria dos casos), como qualquer cidadão, mas no caso dos descontos para a Segurança Social ainda não há nova regulamentação, ao contrário do que acontece com o IRS. Na Arquidiocese de Braga foram mesmo seleccionados 25 sacerdotes, por um alegado “débito” à Segurança Social. Os Bispos lançam também um olhar sobre as “iniciativas legislativas referentes ao casamento e ao divórcio”, lembrando aos católicos a doutrina da Igreja sobre o tema. A CEP, é afirmado, “preocupa-se com tudo o que fragiliza ainda mais a estabilidade social, que tem no casamento e na família o seu fundamento”. O presidente da CEP disse que é “absolutamente falso” que as homilias do próximo Domingo tenham de abordar o tema, como foi hoje referido por alguma imprensa. D. Jorge Ortiga admite que a questão do divórcio “não estava na agenda”, mas frisa que a mensagem dos Bispos é “particularmente dirigida aos cristãos”, reafirmando a “inquietação” perante as mudanças legislativas, “não no sentido de travar uma guerra, mas de alertar os nossos cristãos”. “Verificámos que há um conjunto de iniciativas que fragilizam, por simplificarem demasiado, a estabilidade e a unidade familiar e conjugal”, apontou, sem apontar explicitamente quais as medidas a que se referia. Notícias relacionadas • Comunicado Final da Assembleia Plenária da Conferência Episcopal Portuguesa

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