Texto do Antigo Testamento aborda época de «grandes convulsões sociais e políticas» para o povo de Israel
Lisboa, 01 dez 2022 (Ecclesia) – A Comissão que coordena a nova tradução da Bíblia da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) lançou hoje o texto provisório do livro do profeta Oseais, do Antigo Testamento, que aborda a prática da idolatria, numa “época de grandes convulsões”.
“Oseias denuncia a violência que degrada o tecido social e que afeta especialmente os mais frágeis; critica o perigoso jogo das alianças militares com as nações estrangeiras (os reis de Israel parecem confiar mais nos exércitos estrangeiros do que no Deus da Aliança); censura os cultos idolátricos realizados nos santuários pagãos ou ‘lugares altos’; acusa o povo de ir atrás de Baal e esquecer Javé”, assinala a nota enviada à Agência ECCLESIA, para apresentar a nova proposta de tradução.
Os especialistas convidados pela CEP explicam que Oseias exerceu a sua missão profética no Reino do Norte (Israel): a sua intervenção começa nos últimos anos do reinado de Jeroboão II (783-743 a.C.), e vai até muito perto da data em que a Samaria foi tomada pelos assírios (721 a.C).
Os tradutores precisam que, após a morte do rei Jeroboão II, Israel “entrou numa fase de instabilidade e anarquia: golpes de estado, usurpações, violência institucionalizada, degradação das instituições, rutura do tecido social”.
Ao mesmo tempo, “a política imperialista da Assíria ameaçava os pequenos países da zona e obrigava-os a um jogo de alianças que, na prática, punha em sério perigo a sua sobrevivência”; a Samaria seria conquistada por Salmanasar V.
“Javé continuava a ser, para os israelitas, o Deus nacional; mas, a nível popular, era frequentemente preterido em favor dos deuses dos cananeus”, acrescentam os tradutores.
O livro aborda uma época “caótica e desordenada”, do ponto de vista da fé judaica, por causa da “atração dos israelitas pelos rituais religiosos dos povos cananeus, a popularidade dos cultos de Baal e Astarte, há muito que ameaçavam a pureza da fé javista”.
No entender do profeta, a vida dos israelitas desenrola-se num cenário de infidelidade e de pecado, que está em contradição com os compromissos assumidos no âmbito da Aliança”.
Apesar das críticas do profeta, indicam os especialistas, “o tom geral da mensagem de Oseias deixa a porta aberta à esperança: o profeta crê que Israel vai acabar por reconhecer o amor de Javé e vai voltar ao encontro de Deus”.
O texto sublinha que “o reconhecimento de que a Assíria é incapaz de garantir a salvação implica a rejeição das suas práticas religiosas, das suas estratégias de defesa e da força dos cavalos”
Volta, Israel, para o SENHOR, teu Deus, pois tropeçaste por causa dos teus pecados. Tomai convosco palavras de arrependimento e convertei-vos ao SENHOR. Dizei-lhe: «Retira-nos toda a iniquidade e aceita o bem que é o fruto dos nossos lábios. A Assíria não nos salvará, não montaremos mais a cavalo, não voltaremos a chamar nosso deus ao que é obra das nossas mãos, pois é em ti que o órfão encontra compaixão»” (Os 14, 2-4).
A temática e as imagens do profeta “serão, depois, retomadas e desenvolvidas por Jeremias, por Ezequiel, pelos teólogos do livro do Deuteronómio e por outros autores bíblicos”.
A versão está disponível na página de internet da Conferência Episcopal Portuguesa e os comentários, os contributos dos leitores, no sentido de aperfeiçoar a sua compreensibilidade, podem ser enviados para o endereço eletrónico biblia.cep@gmail.com.
Desde agosto de 2021, um novo livro da Bíblia é disponibilizado mensalmente em formato digital.
Em março de 2019, a Conferência Episcopal Portuguesa apresentou o primeiro volume da nova tradução da Bíblia em português feita por 34 investigadores a partir das línguas originais, com a publicação da edição de ‘Os Quatro Evangelhos e os Salmos’.
OC