Bento XVI volta a lamentar «surdez» à voz divina

Racionalidade da fé em destaque na Universidade de Regensburg Bento XVI voltou esta tarde a apresentar algumas das principais preocupações que levou consigo para a visita à sua Baviera natal, lamentando que a sociedade ocidental cultive “uma razão que é surda diante do divino e remete a religião para o âmbito da subcultura”. O resultado desta atitude é uma razão “incapaz de inserir-se no diálogo das culturas”. Falando diante dos “representantes da ciência” na aula magna da Universidade de Regensburg, onde ensinou Teologia, o Papa criticou a tendência difundida no Ocidente de considerar como universais apenas a “razão positivista e as formas de filosofia daí derivantes”. Como no Domingo, Bento XVI falou de “culturas profundamente religiosas” que vêem nesta atitude ocidental “um ataque às suas convicções mais íntimas”. Nas “grandiosas possibilidades” que o desenvolvimento abriu ao ser humano é preciso ver, segundo o Papa, “as ameaças que emergem destas possibilidades e questionar como podemos dominá-las”. “Vamos conseguir tão só que a razão e a fé se encontrem unidos de um modo novo; superar as limitações autodecretadas pela razão a tudo aquilo que é verificável na experimentação e voltar a abrir-nos a ela com toda a sua amplitude”, pediu. Neste sentido, a Teologia, “não tanto como disciplina histórica e humano-científica, mas como própria e verdadeira Teologia – uma interrogação sobre a razão da fé -, deve ter o seu lugar nas universidades e no vasto diálogo das ciências”. “Interrogar-se sobre Deus, por meio da razão”, disse, é cada vez mais necessário e razoável. Deus é apresentado como “problema acientífico ou pré-científico”, o que implica o primado da discricionalidade pessoal, com a consciência subjectiva a tornar-se única instância ética”. “Esta é uma condição perigosa para a humanidade”, alertou Bento XVI. É preciso, por isso, abrir-se à amplitude da razão e não recusar a sua grandeza. Uma lição sobre o Islão Esta lição do “professor Ratzinger” passou pela relação entre o Cristianismo e o helenismo, as religiões do mundo moderno e o Islão. Sem nunca aludir ao 11 de Setembro, Bento XVI fala de religião e violência, defendendo que “a difusão da fé através da violência é irracional”. Partindo do relato de uma conversa entre um imperador bizantino do séc. XIV e um persa culto, sobre o Cristianismo e o Islão, o Papa citou o tema da jihād (guerra santa), frisando que a violência “está em oposição à natureza de Deus”. O Islão, apontou, é uma doutrina segundo a qual Deus é absolutamente transcendente e a sua vontade não está ligada a nenhuma das nossas categorias, mesmo a da razão”. Bento XVI citou igualmente um teólogo muçulmano dos séc. X e XI, Ibn Hazn, segundo o qual “Deus não seria sequer ligado pela sua própria palavra e nada o obrigaria a revelar-nos a verdade”. Falou depois do Logos, que no prólogo do Evangelho de João é Deus, e analisou as tentativas de romper “a síntese entre o espírito grego e o espírito cristão”, passando por Duns Scoto, Kant, Adolf von Harnack ou Pascal. O Papa afastou a hipótese de uma fé ancorada exclusivamente numa razão prática ou um Jesus como “pai de uma mensagem moral humanitária”, afastado de “elementos aparentemente filosóficos ou teológicos, como a fé na divindade de Cristo e na Trindade”. O encontro entre a fé bíblica e as interrogações filosóficas foram, disse Bento XVI, a origem da Europa e permanecem como o fundamento daquilo que podemos chamar Europa.

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