Bento XVI consulta os Cardeais sobre a actualidade da Igreja

Começou esta manhã, no Vaticano, o encontro entre Bento XVI e os Cardeais de todo o mundo, em vésperas do primeiro consistório do presente pontificado. Os trabalhos, à porta fechada, decorrem ao longo de todo o dia e abordarão os temas mais importantes da actualidade eclesial. Dos membros que fizeram parte do Colégio Cardinalício no último Conclave, em Abril do ano passado, contam-se hoje menos quatro. Amanhã, os Cardeais serão 193, dos quais 120 com direito a voto. Um breve comunicado da Santa Sé limita-se a dar conta do encontro entre o Papa e os Cardeais “para um momento de reflexão e oração”. No início dos trabalhos, o Cardeal Angelo Sodano, Decano do Colégio Cardinalício, agradeceu a Bento XVI a oportunidade de debater “os grandes desafios pastorais da hora presente”. A convocação do Consistório, acrescentou o Cardeal Sodano, demonstra a importância que o Papa atribui ao Colégio Cardinalício. Entre os temas a serem discutidos estarão as relações com o Islão e o avanço do terrorismo, as seitas e a Nova Evangelização, a possível aproximação à Fraternidade São Pio X e a reforma da Cúria Romana. Ao contrário do que acontecia com João Paulo II, a reunião de Cardeais acontece antes do Consistório e não tem, propriamente, uma ordem de trabalhos estruturada ou um tema preciso. A imagem das Congregações Gerais, que durante vários dias de Abril de 2005 precederam o Conclave, é de alguma maneira reavivada neste encontro de hoje. Como recordou o Secretário de Estado do Vaticano no seu discurso de abertura, dos Cardeais é esperado que “assistam o Papa”, como determina o Código de Direito Canónico. As funções dos membros do Colégio Cardinalício vão, de facto, para além da eleição do Papa. Assim, ao longo do dia de hoje – segundo um modelo testado no último Sínodo dos Bispos – há lugar para uma série de intervenções livres, que o Papa escutará em silêncio para depois tirar as suas conclusões. As recentes mudanças na Cúria Romana e o facto de apenas três dos novos Cardeais estarem ligados à mesma deixam adivinhar que uma reforma mais profunda está a ser preparada. Ao unir, ainda que provisoriamente, os Conselhos Pontifícios da Cultura e do Diálogo Inter-Religioso, bem como o da Pastoral dos Migrantes com o da Justiça e Paz, o Papa parece querer mostrar uma vontade de aligeirar uma máquina que muitos consideram extremamente burocratizada. As mudanças na estratégia de Bento XVI indiciam um afastamento, por outro lado, da linha defendida pelo Secretário de Estado, Cardeal Angelo Sodano. A abertura ao diálogo com a China, Israel e o Patriarcado Ortodoxo de Moscovo, bem como o aumento das reticências relativamente a uma aproximação com o mundo islâmico são traços marcantes da nova diplomacia do Vaticano. Para lá das eventuais propostas ou mudanças, esta reunião do Colégio Cardinalício manifesta a vontade de Bento XVI em cumprir uma das indicações que mostrou desde o início do pontificado: valorizar a colegialidade no governo da Igreja.

Partilhar:
plugins premium WordPress
Scroll to Top