Bênção dos Barcos dos emigrantes portugueses anima Cidade do Cabo

D. Januário Torgal Ferreira em vista à África do Sul No domingo 3 de Outubro, em plena Primavera africana e após 10 anos da queda do sistema do ”apartheid”, aconteceu a Festa da Bênção dos Barcos dos emigrantes portugueses da Cidade do Cabo. Este ano contou com as presenças de D. Januario Ferreira e do director da OCPM, delegados da Comissão Episcopal de Migrações em visita pastoral as comunidades da África do Sul. Esta é, sem duvida, a grande festa anual da Comunidade Católica Portuguesa radicada no extremo sul do Continente africano que mobiliza Igreja, Associações portuguesas e Organizações locais. Os 25.000 portugueses e suas famílias aqui residentes, na sua maioria originários da Região Autónoma da Madeira, trabalham, sobretudo, na faina do mar – pesca do atum, lagosta e pescada – e no ramo do comercio local. A festa começou no ano 1989, por vontade de algumas “mulheres do mar” e è hoje apoiada pelo Centro Português de Cultura e Beneficência e pela Capelania Portuguesa do Cabo que tem no Pe. Rogério Bettú, brasileiro, o seu capelão actual. Todo o programa da festa realizou-se dentro das velhas docas do porto de pesca, mesmo em frente á “Roben Island” onde este preso Nelson Mandela, facto este que deu aos actos liturgicos, civicos e musicais uma beleza marítima invulgar e significação única nesta cidade portuária. O Porto do Cabo e a zona turística nobre da cidade e são os portugueses que a animam, com a sua fé, uma vez por ano com esta manifestação em honra do trabalho, da vida, do mar e da fé. È um dos momentos de maior visibilidade da sua religiosidade popular e identidade cultural. Estavam perto de 800 pessoas reunidas para a Eucaristia onde D. Januário convidou os presentes a “lançar as redes mais em profundidade” na defesa dos valores da paz, da família, da educação e do trabalho digno; na abertura ás outras culturas, na solidariedade para com os mais pobres – sejam portugueses ou sul-africanos; dirigiu ainda um forte apelo á comunidade para continuar a empenhar-se no progresso social e moral e no processo de reconciliação desta nação – ferida pelo apartheid – que os acolhe há mais de cinquenta anos e que agora precisa de todos as comunidades emigrantes para a consolidar a paz e facultar pão para todos. Após a Eucaristia, celebrada em português e inglês, os barcos zarparam em procissão rumo ao mar, com os andores de S. Pedro e de N. Sra. do Rosário de Fátima. Os barcos de pesca estavam engalanados e o Bispo das Migrações, da proa do “Antoniette”, benzeu os barcos um a um à medida que a frota dobrava o estreito da “doca este” para se fazer ao mar. A procissão prosseguiu. A meio da viagem foi lançada ao mar uma coroa de flores pelas vitimas do trabalho no mar e também pelos emigrantes e refugiados, muitos africanos, que em varias partes do mundo, como por exemplo no Mediterrâneo, morrem afogados no mar em busca de uma pátria de liberdade e de trabalho. De ano para ano, a festa torna-se na grande festa popular do Porto do Cabo (por ela passaram perto de 2.000 pessoas!) e de todos aqueles que a ela se associam por motivos de fé e de encontro com a cultura, musica e gastronomia madeirense e portuguesa. A habitual presença do Arcebispo, D. Lawrence Henry, é precisamente sinal do modo como a Igreja local estima esta manifestação de fé, fiel á religiosidade madeirense, numa cidade multicultural e multireligiosa, com traços “europeus” acentuados, onde os católicos rondam o 9% da população. Este ano, pela primeira vez, houve a presença de um bispo português, facto que mobilizou ainda mais as organizações da Comunidade e toda o numeroso grupo de voluntários que prepararam e participam na festa. A receita da festa popular que, este ano coincidiu com a Visita pastoral de 2 a 5 de Outubro, reverte a favor dos mais desfavorecidos da comunidade: actividades com idosos carenciados, jovens toxicodependentes, situações de carência familiar e doentes. Entre estes carenciados também se encontra um grande grupo de refugiados das guerras africanas esquecidas – no Congo, Sudão, Ruanda, Burundi, Angola, Zimbabwe… -, também eles presentes na festa da bênção dos barcos, que um grupo de leigos cristãos voluntários portugueses acompanham e auxiliam social e juridicamente, com o apoio dos missionários Scalabrinianos.

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