O processo de beatificação de D. António Barroso, «encontra-se bloqueado», afirmou, ontem, o vice-postulador da causa, durante uma alocução no encontro organizado pela Associação Amigos de D. António Barroso que prestou homenagem ao bispo, natural de Remelhe (Barcelos), e que é tido como «infatigável missionário, grande pacificador e admirável educador». O acto solene teve lugar no Largo da Estação dos Caminhos de Ferro com a presença de centenas de pessoas que se dirigiram, então, para o monumento levantado em honra daquele bispo. Lá chegados, foi colocada uma coroa de flores junto à estátua. Foi então que o vice- -postulador da causa de beatificação de D. António Barroso, Ferreira Gomes, fez uma breve alocução sobre o exacto estado do processo. Em declarações ao Diário do Minho, o vice- postulador disse que «o processo está bloqueado» porque «a graça apresentada para ser considerada milagre e servir ao processo diz respeito a um doente “miraculado” que não tinha ficha médica no serviço de oftalmologia do Hospital de Santo António, no Porto». Em vez da ficha do doente, disse Ferreira Gomes, «um funcionário da secretaria elaborou apenas um documento para fins estatísticos ». Inquirido sobre a possível falha no serviço hospitalar, o vice-postulador retorquiu que «pouco podem fazer quando há listas de espera que ultrapassam as duas centenas de utentes». Apesar de tudo, salienta que a «lei diz que se deve fazer uma ficha de cada doente que dê entrada no hospital». O documento que foi elaborado «não tinha qualquer interesse» para o processo de beatificação «por não haver acesso aos despachos que negavam cirurgias quando os médicos entendiam não advir nenhum êxito para o paciente». Ferreira Gomes, desconhecendo estes factos, pediu à secretaria uma certidão da ficha, «convencido que esta existia » recebendo como resposta a certidão do referido documento que «acabou por se tornar prejudicial ao andamento do processo». Neste momento, o vice-postulador está empenhado a tentar rever no Tribunal Diocesano do Porto o problema da ficha médica hospitalar «visto que outros dados podem suprir os elementos que faltavam no documento existente (testes, exames, observações)». O doente “miraculado” em questão é natural de Barcelos mas reside em Vila Verde e chama-se Eduardo António Gonçalves. Usava, segundo informação do vice-postulador, óculos com 15 dioptrias e não lhe era permitido receber qualquer cirurgia ocular (recorde-se que a partir das 12 dioptrias já não é possível fazer qualquer cirurgia). «Os seus olhos são lixo» ouviu o paciente dos médicos como resposta à sua insistência para que o operassem. «O Eduardo é um devoto de D. António e acreditava piamente ter a sua protecção. Por isso, pedia a desejada e arriscada operação. O facto é que ele recuperou a visão a 100 por cento e quer ele, quer nós que preparamos o processo de canonização do nosso bispo, acreditamos que a cura se deveu à intercessão de D. António Barroso». No final da alocução, os presentes seguiram para a igreja de Remelhe onde se celebrou eucaristia que foi presidida pelo pároco, padre Adílio Macedo, também ele homenageado pela Associação Amigos de D. António Barroso na passagem do 50.º aniversário da ordenação sacerdotal.