Aveiro: Homilia de D. António Moiteiro na Missa Crismal

Foto Diocese de Aveiro

Deus caminha connosco

1. O Espírito do Senhor está sobre mim

        Jesus regressa à Galileia, após o seu Batismo, e ao sábado vai à sinagoga para cumprir o mandamento da lei, que obrigava todo o bom judeu a prestar culto a Deus.

A leitura do texto do profeta Isaías é uma reflexão sobre a pessoa e a missão de Jesus e permite-nos afirmar que Jesus é o profeta sobre o qual desceu o Espírito do Senhor, e ler o seu Batismo como uma consagração. S. Lucas apresenta Jesus como o Salvador messiânico enviado por Deus aos pobres, aqueles que a sociedade rejeita. Os pobres, no mundo antigo, são um numeroso grupo que inclui os doentes crónicos, os inválidos, os cegos, os entrevados e os leprosos. Eles pertencem às classes sociais mais baixas e só podiam sobreviver pedindo esmola. A atividade e as palavras de Jesus destinam-se prioritariamente a eles. Faz parte da pedagogia de Deus: quando Javé quis manifestar-se aos israelitas como Pai, libertou-os da escravidão do Egito.

Hoje cumpriu-se a palavra que acabais de escutar”. Jesus não dá uma explicação exegética do texto, mas chama a atenção para o acontecimento que o faz cumprir: a sua vinda. A atenção passa, assim, da Escritura para o pregador. O ´hoje´ é a novidade de Jesus, para nos dizer que começaram os últimos tempos e que a história da humanidade está a passar por um momento excecional de graça. Este ‘hoje´ não diz respeito apenas a Jesus, mas prolonga-se no tempo da Igreja. O nosso tempo é o ´hoje´ de Deus.

O Espírito, que acompanhou Jesus durante a sua vida e que Ele prometeu aos seus discípulos antes de subir aos céus (Lc 24,49), torna-se presente no começo da Igreja, no dia do Pentecostes, e depois na vida dos discípulos de Jesus, na sua ação missionária. Tudo se faz e acontece a partir de uma experiência de comunhão e de fraternidade.

É o Espírito de Deus que desce até cada um de nós e nos envia a anunciar o Evangelho. Sem o ministério ordenado não há Igreja. Hoje, queremos agradecer o dom do sacerdócio dos nossos irmãos que

celebram os 25 anos de ordenação P. Ivanil José Portela (29-6-2024), os 50 anos de ordenação do P. António de Almeida Cruz (22-9-1974), os 60 anos de ordenação do P. José Henriques da Silva (15-8-1964), os 70 anos de ordenação do Mons. João Gonçalves Gaspar (3-1-1954) e do Cónego António Henriques Freitas Guimarães, da arquidiocese de Évora, mas a viver entre nós (8-12-1954) e os 25 anos dos Diáconos Amaral da Silva Mota, Armindo Manuel Simões Parracho, José Cardoso de Abreu, José Ferreira Alves e Manuel Augusto Dias da Silva (11-7-1999).

Também recordamos aqueles que o Senhor chamou a si ao longo deste ano: os padres Georgino Rocha (9-5-2023), Manuel de Pinho Ferreira (4-8-2023), José Augusto Pinho de Nunes (23 -9-2023), João Creoulo Prior (13-1-2024), da diocese de Coimbra, mas a viver entre nós, e, há menos de uma semana, o nosso padre Vitor Gabriel Valente dos Santos (22-3-2024). Agora que já contemplam o rosto de Deus, pedimos que se lembrem de nós e das necessidades da nossa Igreja de Aveiro.

2. O Ano jubilar

A celebração desta Missa Crismal acontece em pleno Ano Jubilar, efeméride que toda a Diocese foi convidada a viver como um momento de graça. Na Carta Pastoral que anunciava e preparava este jubileu, foram traçados alguns caminhos sobre os quais devemos fazer um profundo exame de consciência:

1º Vivemos num tempo em que se torna necessário que os cristãos, iluminados e guiados pela fé, conheçam a Igreja como ela é, em toda a sua beleza e santidade, mas também nas suas misérias e pecados, para a sentir e a amar;

2º As profundas e rápidas transformações das sociedades e das culturas do nosso tempo fazem com que a Igreja se sinta chamada a reviver com um novo empenho tudo quanto o Mestre fez com os seus apóstolos;

3º Devemos suscitar, em cada crente, o anseio de confessar a fé plenamente e com renovada convicção, com confiança e esperança. Para isso, propõe-se um período de mais intensa reflexão e oração em torno da Eucaristia, e também de renovação das nossas comunidades cristãs, de modo que estas não se fechem em si mesmas, mas ganhem uma cada vez maior consciência evangelizadora. 

3. A nossa caminhada em Igreja

No passado mês de dezembro, terminei a Visita Pastoral a todos os arciprestados e paróquias da nossa diocese de Aveiro. Neste momento, já tivemos a peregrinação de sete dos nove arciprestados à Catedral, aos quais indiquei caminhos de renovação e comunhão. Senti a alegria dos sacerdotes e dos leigos neste dar as mãos e todos caminharmos em comunhão. Não podemos baixar os braços, porque a messe é grande e os trabalhadores são poucos.

Desejo apontar apenas alguns dos desafios que fui indicando durante a visita pastoral: ser testemunhas de Cristo ressuscitado – da consulta sinodal realizada na nossa Diocese, há uma ideia sempre presente: não ter medo de arriscar quando se trata de fazer opções pastorais; A corresponsabilidade na Igreja – a comunhão nos vários serviços e ministérios é fundamental para o todo da comunidade cristã; A formação cristã – sem uma paixão pela Palavra de Deus e a pessoa de Jesus não teremos o fogo necessário para sermos evangelizadores; Uma verdadeira cultura vocacional – temos de empenhar as nossas paróquias numa verdadeira cultura vocacional: promoção de vocações à vida matrimonial, sacerdotal e de consagração.

Este é o décimo ano em que celebro convosco a Eucaristia de Quinta-Feira Santa, reitero as mesmas palavras que o Papa Francisco dirigiu aos sacerdotes e diáconos na Missa Crismal do ano passado: Obrigado pelo vosso testemunho, obrigado pelo vosso serviço; obrigado por tanto bem escondido que fazeis, obrigado pelo vosso ministério, que muitas vezes se desenrola no meio de tantas fadigas, incompreensões e pouco reconhecimento.

Irmãos, o Espírito de Deus, que não desilude quem coloca n’Ele a própria confiança, vos encha de paz e leve a bom termo aquilo que em vós começou, para sermos profetas da sua unção e apóstolos de harmonia e fraternidade. Amen.

Aveiro, 28 de março de 2024.

† António Manuel Moiteiro Ramos, Bispo de Aveiro

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