Às portas do Mundo: a noite dos sonhadores

O salão nobre da Reitoria da Universidade Nova de Lisboa foi pequeno para abrigar todos os que aceitaram o convite das Organizações Não Governamentais empenhadas na promoção dos direitos dos refugiados em Portugal e no mundo. Ao som de música “pop” portuguesa, límpidas vozes da Ucrânia e frenéticos ritmos africanos, “acordar as consciências e sensibilizar a opinião pública” para o drama de 20 milhões de pessoas desprotegidas, das quais 35% são jovens refugiados, consistiu um dos objectivos da iniciativa. As comunicações de Teresa Tito Morais do Conselho Português para os Refugiados, de Teresa Nogueira da Amnistia Internacional, de Fernando Nobre da AMI, de Catarina Furtado, embaixadora da Boa Vontade da UNFPA e os testemunhos de dois refugiados em Portugal – uma ruandesa e um angolano – e ainda de quatro crianças de uma Escola de Leiria, não deixaram ninguém indiferente. A uma só voz, diante de “um fenómeno humano que não pára de crescer”, exigiram que Portugal mude de atitude, deixe de ser aquele país pouco acolhedor, e se torne “terra de asilo para quem é perseguido”; que aplique com uma maior “profundidade” de análise e “auscultação” das ONG portuguesas “na avaliação dos pedidos de asilo, na prorrogação do estatuto de refugiado e na renovação das autorizações de residência por razões humanitárias”, expressão de uma política de acolhimento digno e de partilha de responsabilidades com a União Europeia e países terceiros. E isso, sem perder a “memória colectiva” do que outros fizeram para acolher os portugueses exilados e do exemplo ímpar do cônsul de Bordéus, Aristides de Sousa Mendes. Durante a Gala Comemorativa do Dia Mundial do Refugiado, o director do Núcleo de Estudos para a Paz (NEP) da Universidade Coimbra, José M. Pureza, disse que naquela noite de 20 de Junho, estava ali “a melhor parte do Portugal desenvolvido: o Portugal das causas e das pessoas”. Denunciou-se ainda que, ao contrário do que muitos pensam, a Europa acolhe apenas 5% da população refugiada no mundo. A União Europeia, em sintonia com a elite do G-8, deve acompanhar as acções de perdão da dívida externa pública dos países pobres, com o congelamento das contas bancárias de muitos dirigentes políticos corruptos e impunes, com o pôr termo à ocultação vergonhosa do negócio de armas que alimenta tantos conflitos que causam a maioria dos fluxos de refugiados, deslocados e imigrantes. A uma só voz estes activistas dos direitos humanos pediram que seja revista a política de asilo e imigração europeia abrindo as portas da “fortaleza”, que se intensifique a luta contra a crescente xenofobia, e que não haja dois pesos e duas medidas no tratamento dos pedidos dos requerentes de asilo. Sem dúvida mais uma voz a juntar a outras, como o Colectivo de Organizações Católicas e a maioria da Associações de Imigrantes, que reclamam justiça e humanidade, num momento em que em Portugal se aguarda com “apreensão” a Regulamentação da Lei de imigração. Uma noite em que, inspirados pela canção “Imagine” de John Lennon, lutadores dos direitos humanos – crianças, jovens, adultos, religiosos, políticos, voluntários, activistas – sonharam um Mundo melhor porque “herdeiros” de um profundo amor pela Humanidade. Manuel Silva

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