Liga Operária Católica/Movimento de Trabalhadores Cristãos
Nesta época natalícia multiplicam-se as mensagens: de bispos, de políticos, de organizações, de pessoas em particular. E há mensagens belas no conteúdo e na forma de as apresentar. Falam quase sempre de acolhimento do outro, de solidariedade, de proximidade, de alegria. Então na forma de comunicar é uma variedade infinita! Até pelas possibilidades que a tecnologia nos oferece hoje. Mas cabe-nos perguntar se nessas mensagens vai a PALAVRA, o VERBO feito CARNE, o Filho de Deus feito homem.
O Natal não é só uma experiência humanitária, é também encontro com Deus, feito homem. E sem esta experiência a passar pelo coração de cada um de nós, as nossas mensagens não passam de palavras, pois não comunicam a PALAVRA. Acolher o outro é mais do que acolher o pobre, o desempregado, o faminto, o doente, o deficiente, o estrangeiro. É acolher Jesus Cristo presente no pobre, no desempregado, no faminto, no doente, no deficiente, no estrangeiro: “O que fizerdes ao meu irmão, é a Mim que o fazeis”. Experiencias e emoções fortes que contam a beleza da aventura humana que o mesmo Deus quis compartilhar e abraçar…
Jesus continua a nascer na vida de cada um de nós e no mundo actual, mundo em ruptura, dizem alguns, mundo em constante mutação, dizem outros. Comunicar a PALAVRA é, pois, crer e convidar a crer, amando este mundo em mudança. “Deus amou de tal modo o mundo…”, este mundo! Diante do presépio, é necessário meditar que Deus se fez homem por amor-dos-homens, vindo viver a nossa vida.
As palavras são muitas, as mensagens deslumbram, mas só serão significativas se indicarem um caminho, uma opção fundamental, se comunicarem a PALAVRA, se fizerem nascer algo de novo, se provocarem um caminho de libertação.
O encontro com Deus feito homem é uma PALAVRA de alento, ajuda a erguer e a pôr-se em marcha. Marcha para a libertação, marcha pela dignidade. Marcha feita de ESPERANÇA. O caminho de libertação é uma marcha complexa e difícil ao mesmo tempo, um empreendimento quase impossível, um combate desigual. Vê-se entre quem trabalha e as suas organizações, por um lado, e o aparelho do poder do império do dinheiro, por outro. Vê-se entre o Norte e o Sul. Vê-se entre os grandes “lobbys” ideológicos e o povo simples com menos instrução. Vê-se entre gerações no uso das novas tecnologias.
Contemplamos esta marcha nos nossos dias em tantos povos no meio da angústia, da violência, da guerra, da fome e da miséria. Tomam o duro caminho da imigração, do exílio, atravessando o mar ou o deserto, atravessando países e continentes em condições extremamente precárias, divididos entre a esperança e o desespero.
Contemplamos esta marcha nos movimentos de trabalhadores, nos nossos bairros, em movimentos espontâneos, nas nossas pequenas comunidades.
Muitas vezes parece impossível. Ainda mais quando somos nós próprios a colocar obstáculos: dando acolhimento a ideologias contrárias aos movimentos migratórios e fomentando grupos de cristãos que vêem nos estrangeiros um perigo, uma ameaça. Mas para quem acolhe a PALAVRA, como Maria, o impossível realiza-se. A PALAVRA só encontrou obstáculos no imperador de Roma e seus braços políticos e nas pessoas que habitavam em Belém, entre os seus,… a ponto de O conduzirem à morte. Mas de Deus veio, novamente, o impossível. A PALAVRA crucificada, ressuscita, vence a morte.
Habitados pela PALAVRA é também esta a marcha que os trabalhadores cristãos vivem e propõem aos seus semelhantes, nestes tempos de incerteza, da era digital e da revolução industrial 4.0.