Artistas, Bíblia e transcendência

Joaquim Carreira das Neves destaca relação privilegiada

O biblista português Joaquim Carreira das Neves considera que ninguém melhor do “que os artistas, pintores, poetas e escultores poderia apresentar o transcendente no imanente”.

“Se a Bíblia continua a ser o grande códice e o maior best-seller da humanidade, as artes têm de participar nesta literatura do Livro dos Livros”, defendeu.

Intervindo no colóquio “As Artes da Bíblia”, que decorreu esta semana na Universidade Católica, em Lisboa, o exegeta franciscano afirmou que a Bíblia “começou por ser uma revolução na geografia das ideias religiosas de então”, apresentando a ideia do “monoteísmo”, que surge “necessariamente misturada com imagens de religiões do passado”.

“Um Deus único, Senhor do céu e da terra, só se compreende ao nível das ideias através de imagens, retóricas, apologéticas e performativas”, defendeu.

Nesse contexto, surgem “analogias do compreensível e imanente” para falar do “incompreensível e transcendente”.

No Novo Testamento (NT), explicou, as parábolas de Jesus vêm “reapreciar e redesenhar a pessoa de Deus, à luz da pessoa do seu filho e Messias”, que determina “o mundo novo do Reino de Deus, da gratuidade e do espírito”. Desta maneira, o NT deve ser entendido numa linha de “continuidade”.

“Se a linguagem da Teologia, o discurso sobre Deus, é linguagem das imagens, quem melhor do que os artistas, pintores, poetas e escultores poderia apresentar o transcendente no imanente, o mistério na vida real?”, questionou o Pe. Carreira das Neves.

Para este especialista, “o mundo da cultura é o mundo das ideias e respectivas imagens”.

Durante este colóquio, José Tolentino Mendonça, exegeta e tradutor, defendeu que “a Bíblia é um património da humanidade que reflecte a condição humana do ponto de vista crente, nos seus dramas, interrogações e alegrias”.

“Neste grande teatro humano que é a Bíblia – refere o poeta madeirense – existe uma fonte de inspiração ininterrupta sobre gerações de artistas, que ao longo dos séculos, e também na contemporaneidade, têm visitado o texto bíblico para o recriarem com grande liberdade, mas também com verdade e respeito pelo texto”.

“A interpretação que a arte faz, sobretudo quando é espiritual ou quando é feita com uma grande abertura, é sem dúvida um grande contributo  para a relação com a Bíblia”, acrescentou.

 

Vídeo disponível no site do SNPC

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