Arte religiosa combate esquecimento do Douro

No âmbito das comemorações dos 250 anos da criação Região Demarcada do Douro terá início amanhã (dia 7 de Dezembro) uma exposição sobre «A montante do tempo – arte sacra das aldeias vinhateiras». A diocese de Lamego deu o seu contributo para este evento comemorativo visto que das seis aldeias vinhateiras (Salzedas, Ucanha, Trevões, Barcos, Favaios e Provesende) quatro delas são deste território eclesial. Com as comemorações desta efeméride, a região duriense volta a um lugar central e o estilo de vida deste homem – “sempre trabalhador mas esmagado por um comércio que nunca o respeitou devidamente” – volta a ser recordado. Em declarações à Agência ECCLESIA o Cón. Eduardo Russo, Vigário Geral de Lamego, lamenta a “exploração do homem do Douro”. Produzindo ele um produto de qualidade – uma mais valia para Portugal – “nunca recebeu qualquer compensação” – disse. Os párocos das aldeias vinhateiras (quatro de Lamego e duas de Vila Real) estão preocupados com a situação actual. Os pequenos produtores deste produto ao contrário dos grandes “tiram o lucro todo”. O agricultor não pode comercializar o preço e, muitas vezes, “tem que pedir por favor para lhe ficarem com o vinho” – avançou. A exposição – patente ao público até dia 22 de Dezembro – mostra aos visitantes obras de arte religiosa escolhidas destas aldeias vinhateiras. Nuno Resende, Comissário da exposição – abre amanhã na Casa do Poço, Frente à Sé de Lamego, – realçou à Agência ECCLESIA esta mostra tem “imaginária, pintura (dois quadros do Grão Vasco), escultura e ourivesaria”. Metaforicamente as obras estão relacionadas com o mundo vinícola. “Temos cálices e galhetas que, indirectamente, estão ligadas ao mundo cristão” – acrescentou Nuno Resende. De várias formas, as obras conseguem atingir o “mundo do vinho”. Daí o nome da exposição «A montante do tempo». Uma espécie de crítica – “sem sentido negativo” – porque o Douro “está longe”. E nesse sentido, arte desta região ainda “está mais longe”. E adianta: “é o parente pobre do património cultural português” – desabafou Nuno Resende O esquecimento deste património é uma lacuna. A tendência notada é a “concentração da arte em Lisboa e no Porto”. Para alterar a situação, Nuno Resende salienta que “a diocese de Lamego está a realizar a segunda fase do programa de inventário do património religioso móvel”. Uma “boa forma” de colocar o património religioso para “a discussão pública” e “sensibilizar os cidadãos”. A arte religiosa é uma componente importante da história de Portugal. “A forma de mostrar estes objectos é uma catequese viva” porque “as igrejas não são museus” – afirmou. Arte duriense em exposição A exposição está dividida em três módulos – cada um corresponde a um grupo cronológico (desde a Idade Média ao Douro Contemporâneo) – e “procuramos abordar o percurso do Rio Douro (de montante para jusante)”. O espaço tem duas janelas manuelinas viradas para a exposição catequética visto que o património móvel é “de extrema importância” – enfatizou o comissário. Com peças de vários séculos, este evento tem patente uma imagem de Santo António – “em calcário com inscrições góticas” -; um núcleo de ourivesaria dos séculos XVII a XX – “peças que mostram figurações da uva e do vinho mas também o símbolo da riqueza”; imagens barrocas – “o Douro Barroco é o Douro dos Santuários”; alusões às quintas do Douro – “exibição de um oratório” e ex-votos desta região – “dá-nos a ideia da religiosidade popular nestas aldeias”. Sendo o Santuário dos Remédios um dos ex-libris da diocese, a devoção à Senhora dos Remédios está “bem viva no Douro” e o vitivinicultor não “está ausente desta devoção”. E acrescenta: “estes homens pediam protecção a Senhora dos Remédios, Senhora da Piedade e também a S. Salvador do Mundo”. A partir do Século XVIII, o vinho do Douro possibilita que se “dêem estes gestos de devoção”. Notícias relacionadas • Crise no Douro preocupa padres de Vila Real

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