Arrependei-vos e acreditai na Criação

Paulo Rocha, Agência ECCLESIA

Os dias de preparação para a Páscoa acontecem, no ambiente católico, com propostas de arrependimento, mudança de vida, silêncio, escuta, conversão. No horizonte de todas as transformações está o ideal de perfeição apresentado no Evangelho, o exemplo de Jesus Cristo, a Vida. É essa a meta proposta logo no primeiro dia desse itinerário, a Quaresma: ao mesmo empo que se impõem cinzas, os católicos ouvem a advertência: “arrependei-vos e acreditai no Evangelho”. Muitas vezes, são pouco mais do que palavras ditas, no decorrer de um rito, sem que se atinja e se siga o significado de tal afirmação, dita por Jesus no início da sua vida pública.

Diante do “desgaste” da expressão, a que não corresponde a relevância que sempre tem e a centralidade que ocupa no percurso crente, interessa declinar o seu significado em tantas perspetivas quantas as que se incluem no seu significado.

Na mensagem para esta Quaresma, o Papa Francisco sugere uma delas, de urgência inquestionável e de surpresa incómoda, que poderá ser assim formulada: “arrependei-vos e acreditai na Criação”.

Ao propor um programa de preparação para a Páscoa, para a passagem de todas as mortes à Vida plena, Francisco indica o cuidado da criação, que está ao alcance de todos os humanos. Um programa do quotidiano, sem moralismos ou apelos doutrinários, mas com uma dimensão prática muito clara. Também quando em causa estão propostas reafirmadas em cada percurso quaresmal. Na Mensagem para a Quaresma, o Papa diz que jejuar é “passar da tentação de ‘devorar’ tudo” para a “capacidade de sofrer por amor”;  orar é “renunciar à idolatria e à autossuficiência do nosso eu”; dar esmola é “sair da insensatez de viver e acumular tudo para nós mesmos, com a ilusão de assegurarmos um futuro que não nos pertence”.

E se dúvidas existem quando ao modo de concretizar as propostas do Papa nesta Quaresma, a Comissão Nacional Justiça e Paz deixa sete indicações igualmente pragmáticas: respeitar a Criação, porque o jardim do Éden está a ser transformado num deserto; descentrar cada pessoa de si própria numa crescente consciência do coletivo; afirmar direitos, sem esquecer as responsabilidades; propor hábitos de frugalidade e comportamentos “minimalistas” diante do consumismo desenfreado; praticar a “hospitalidade global” no quotidiano; participar na política enquanto “serviço ao bem público”; e… rezar!

Uma proposta para cada dia da semana certos de que a afirmação “arrependei-vos e acreditai no Evangelho” passa também pelo desafio “arrependei-vos e acreditai na natureza”.

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Agência ECCLESIA

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