Aristides Sousa Mendes: «Há valores de humanismo que nos unem a todos» – D. José Ornelas (c/vídeo)

Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa disse que «foi muito grato» participar a cerimónia de concessão de Honras de Panteão ao antigo Cônsul-Geral de Portugal

 

Lisboa, 19 out 2021 (Ecclesia) – O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) afirmou hoje que conceder honras de Panteão Nacional a Aristides de Sousa Mendes significa celebrar valores de humanismo que “unem todos” e considerar “atitudes de vida que vão para além de ser português”.

“Foi muito, muito grato estar presente nesta celebração, primeiro como português, como pessoa, e depois como presidente da conferência episcopal: senti uma emoção muito grande, cantar-se o Hino Nacional para celebrar pessoas destas”, disse D. José Ornelas em declarações à Agência ECCLESIA, acrescentando que “há valores de humanismo que nos unem a todos”.

Foto presidencia.pt

O presidente da CEP participou hoje na cerimónia de concessão de Honras de Panteão a Aristides de Sousa Mendes, o antigo Cônsul-Geral de Portugal em Bordéus (França), que concedeu milhares de vistos a judeus e outros refugiados para fugirem do regime nazi, na II Guerra Mundial, à revelia do governo português de António Oliveira Salazar.

Para o bispo de Setúbal, é necessário “reagir” e “rebelar-se contra as ditaduras” que querem transformar uma comunidade nacional em “nacionalismo contra outros”, desvirtuando “valores sagrados para pô-los ao serviço dos seus valores”.

“Todos os ditadores quando falam de nacionalismo não estão falando do bem do povo, estão falando do seu bem e de assegurar o seu domínio sobre esse povo. Hoje o que transparece é que este homem, que em nome precisamente do ser homem, do ser humano, é capaz de rebelar-se contra ordens que são injustas porque há valores que se sobrepõem aos interesses passageiros e contextuais de quem quer que seja”, desenvolveu.

D. José Ornelas destacou que ser homem, ser mulher, nesta terra “é a base de todos os direitos” e sobre o qual se constrói a “especificidade de cada povo e de cada grupo, de cada credo”, mas onde o “respeito é fundamental” para que possam viver, “construir um mundo mais justo, mais fraterno, mais capaz”.

“Foi um bom testemunho, este que fomos celebrar hoje e foi bom ver a nação, nos seus representantes, a celebrar aquilo que nos dignifica”, realçou o também bispo de Setúbal.

A cerimónia no Panteão Nacional contou com a presença do presidente da República, do primeiro-ministro e do presidente da Assembleia da República, e membros da família de Aristides de Sousa Mendes.

Foto presidencia.pt

“É uma atitude não é simplesmente de um passado, que se dignifica com este gesto, mas é também criar uma mentalidade para que seja possível atendermos aos grandes temas que a humanidade apresenta hoje, em termos de ecologia, em termos de justiça, em termos de saúde, de respeito, de acolhimento”, referiu o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa.

A homenagem realizada hoje foi simbólica, o túmulo vai estar vazio – o cenotáfio – e o corpo do antigo cônsul está em Carregal do Sal (Distrito de Viseu).

Foi descerrada uma placa na sala dois do Panteão Nacional, onde estão sepultados o general Humberto Delgado, a poetisa Sophia de Mello Breyner, o escritor Aquilino Ribeiro e o futebolista Eusébio da Silva Ferreira.

Aristides de Sousa Mendes, que nasceu a 19 de julho de 1885, morreu em abril de 1954, no Hospital Franciscano para os Pobres, em Lisboa.

Marcelo Rebelo de Sousa condecorou o antigo cônsul, a título póstumo, com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade, a 3 de abril de 2017.

O ‘Yad Vashem’ distinguiu Aristides de Sousa Mendes com o título de “Justo entre a Nações” do Memorial do Holocausto, a maior distinção para não-judeus que pode ser emitida em nome do Estado de Israel.

HM/CB/PR

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