«Apetites» sobre bens da Igreja sob olhar atento da Arquidiocese

Conselhos económicos paroquiais sensibilizados A Arquidiocese de Braga tem-se mostrado preocupada com a preservação do património imóvel das paróquias que tem estado ao longo dos tempos sujeito a inúmeras pressões e “apetites” do poder político local. Por diversas vezes este tema tem sido abordado pelo Arcebispo Primaz, D. Jorge Ortiga, nas suas intervenções públicas, concretamente, nas visitas pastorais. Esta preocupação voltou à agenda dos responsáveis diocesanos, agora, numa altura em que está a ser dada posse aos Conselhos Económicos Paroquiais. Apesar de todos os avanços e esclarecimentos em matéria da separação dos bens da Igreja do património, a verdade é que a nível da administração paroquial subsistem dúvidas que muitas vezes geram situações desagradáveis e conflitos de interesses entre os responsáveis paroquiais e as Juntas de Freguesia. Na noite da passada sexta-feira, o tema foi abordado por D. Antonino Dias, Bispo Auxiliar de Braga, na reunião da tomada de posse dos Conselhos Económicos Paroquiais, do Arciprestado de Barcelos. Perante uma assembleia com perto de 300 participantes, reunida no Centro Paroquial de Galegos S. Martinho, o prelado explicou exaustivamente as diferenças entre a realidade do que é paróquia e freguesia, concelhos e arciprestados, dioceses e distritos. No aspecto mais local, D. Antonino Dias salientou que subsiste ainda a ideia errada que os bens da paróquia «são do povo», ou seja, de todos os habitantes da freguesia e que, por esse facto, têm de estar ao serviço de todos. O bispo indicou que a transformação verificada na sociedade nos últimos tempos resultou no surgimento de pessoas seguidoras de outras religiões, agnósticas ou ateias, que «nada têm a ver com a comunidade paroquial». Por isso, «paróquia não é freguesia», frisou o responsável diocesano, acrescentando que a comunidade paroquial é formada apenas por aqueles que, de forma consciente, professam a fé católica. «Na freguesia, entendida como comunidade mais alargada, cabe toda a gente – protestantes, muçulmanos, Testemunhas de Jeová, ateus e agnósticos – mas a paróquia é apenas formada pelos católicos», explicou D. Antonino Dias. Aliás, o prelado recordou que, apesar de muitas paróquias coincidirem com o ordenamento territorial das freguesias, existem paróquias que não são freguesia, assim como freguesias que comportam diversas paróquias. «Trata- se de realidades completamente distintas pois, ouvidas as devidas instâncias eclesiais, é ao bispo que cabe a criação ou extinção das paróquias», lembrou o Bispo Auxiliar. E porque se trata de dimensões diferentes mas que ainda subsiste alguma «confusão » é que «têm surgido algumas agitações em certos locais que têm provocado mal– estar entre paróquias e juntas de freguesia», indicou D. António Dias. Juntas querem mostrar obra com bens da Igreja Tentando esclarecer todos os elementos que vão integrar, nos próximos anos, os conselhos paroquiais que zelarão pela gestão dos bens da Igreja, D. Antonino Dias lembrou alguns exemplos de «exageros » e erros que se cometeram em algumas localidades. «A confusão que ainda persiste no conhecimento da tutela do património imóvel da Igreja tem resultado em alguns mal entendidos», frisou o prelado. «Chegamos por vezes ao extremo de ver juntas de freguesia exigirem que as paróquias tenham de ceder gratuitamente propriedades que são suas para que os autarcas possam mostrar obra», acusou o Bispo Auxiliar, sem referir, contudo, onde isso se tenha verificado. Por outro lado, D. Antonino Dias indicou que «há em algumas paróquias uma tendência em alienar algum património, por se considerar que já não terá interesse». Ora, o prelado salientou que tal atitude «é errada» uma vez que «a Igreja tem bens que lhe foram doados com muito sacrifício pelos fiéis, para que esta pudesse pôr em prática a sua missão». Políticos eleitos não devem integrar conselhos Assim, D. Antonino Dias exortou os Conselhos Económicos Paroquiais a «gerir os bens da paróquia como bons pais de família, sem os desbaratar ». Lembrou ainda que os elementos que constituem tais conselhos paroquiais «não devem estar comprometidos com cargos políticos», para que não se acentue as referidas confusões. Porque, regra geral, ficam situados no coração das freguesias, «há uma grande apetência pelos bens da Igreja para que aí se faça obra pública», afirmou o prelado, acrescentando que, «por vezes chegasse ao ridículo de ver paróquias a dar de graça terrenos às juntas de freguesia enquanto que têm as crianças da catequese pelos cantos, a casa paroquial a cair e a igreja a necessitar de obras». Por isso, D. Antonino Dias recomendou: «se as juntas o querem e a paróquia entende que pode colaborar, então que se negoceie e se chegue a um acordo e a um preço».

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