Ano C – 4º Domingo da Quaresma

Deus abraça-nos num olhar de amor

Neste quarto domingo da Quaresma, a Palavra de Deus oferece-nos o episódio do pai e dos dois filhos, na conhecida parábola do filho pródigo. Lembro-me de meu pai contar esta história repetidas vezes à volta da lareira, quando era miúdo. Só mais tarde descobri que era do Evangelho.

Alguém dizia desta parábola: “Quem a ouve pela centésima vez, é como se a ouvisse pela primeira vez”. Conhecemo-la de cor, mas precisamos de parar com tempo, para a saborear agora e sempre.

Podemos ficar na seguinte frase: “Bem desejava ele, o filho mais novo, matar a fome com as alfarrobas que os porcos comiam, mas ninguém lhas dava”. Parece que não se diz nada de importante. Mas esta pode ser a frase-chave da parábola. A verdadeira miséria do filho mais novo é não ter ninguém que esteja atento a ele, que o olhe simplesmente. Para os seres humanos, o olhar é vital. Quando este não é transparente, acontecem desvios, recusa de amor, as pessoas tornam-se hostis e inimigas em vez de serem irmãs e irmãos, acontece desconfiança, inveja, indiferença.

O filho mais novo tem falta de um olhar de amor, sente fome de amor. Jesus quer mudar esta situação, renovando relações para que o amor possa circular de novo. Jesus lança o seu olhar de amor sobre cada um de nós. Um olhar do qual não podemos fugir, um olhar que é fonte de vida!

Claro que somos livres de continuar a ser e a fazer como o filho mais velho, imagem dos fariseus e escribas, que se recusa a entrar em casa para a festa, julgando-se puro. Consideramo-nos os únicos observantes das normas, fazemos o que deve ser feito, armamo-nos em vigilantes morais dos outros, mas depressa podemos mostrar-nos duros: quando fechamos a porta ao filho que navega noutras ondas, quando cortamos as pontes com um familiar por questões de bens, quando olhamos de lado quem anda nas chamadas situações irregulares, quando fazemos etiquetas das irmãs e irmãos da comunidade…

Deus, que afinal é o único juiz, não julga. Ele é paciente e misericordioso, suplica-nos para compreender: “Tu, meu filho, estás sempre comigo”. Este pai tinha feito a partilha dos seus bens, respeitando a liberdade do filho que decide partir. Este mesmo pai suplica ao filho mais velho para se juntar à festa, respeitando também a sua liberdade. Talvez um dia sinta a alegria do seu regresso. A cada um dos filhos, hoje a cada um de nós, o pai continua a dizer “meu filho”. Dizer-lhe “meu pai” com palavras que brotam do coração deve ser a nossa resposta livre e decidida.

Procuremos levar no coração a atitude deste pai, fecunda de amor e misericórdia, de paciência e perdão, de ternura e compaixão. Deus abraça-nos num olhar de amor. Deixemo-nos purificar e converter por esse terno e eterno abraço de amor.

Manuel Barbosa, scj
www.dehonianos.org

 

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