Ano «Amoris Laetitia»: Papa oferece oportunidade para redescobrir documento fundamental, diz padre Francisco Ruivo

Assistente do Departamento Nacional da Pastoral Familiar destaca necessidade de reforçar acompanhamento dos casais jovens ou em dificuldades

Santarém, 19 mar 2021 (Ecclesia) – O padre Francisco Ruivo, assistente do Departamento Nacional da Pastoral Familiar (DNPF) disse à Agência ECCLESIA que o ano especial ‘Família Amoris Laetitia’, que começa hoje, é uma “oportunidade” para redescobrir este documento fundamental do pontificado.

“Haverá um olhar diferente, com outras repercussões párticas na Pastoral Familiar”, assinala o sacerdote da Diocese de Santarém, em entrevista que é emitida esta sexta-feira no Programa ECCLESIA, na Antena 1 da rádio pública (22h45).

O ano especial dedicado à família foi convocado a 27 de dezembro de 2020, dia em que a Igreja Católica celebrava a festa litúrgica da Sagrada Família (primeiro domingo depois do Natal).

A iniciativa começa hoje, solenidade de São José, e decorre até à celebração do X Encontro Mundial das Famílias, em Roma (26.06.2022).

Em Portugal, várias dioceses que publicaram documentos sobre a aplicação das propostas para a pastoral familiar, após as duas assembleias sinodais (2014 e 2015) sobre o tema, nomeadamente no que respeita ao capítulo VIII da ‘Amoris Laetitia’.

O padre Francisco Ruivo defende que a convocação do Papa deve levar as comunidades católicas a “ler o documento na íntegra, fazer um caminho de descoberta”, indo além do foco mediático na questão dos divorciados.

“Houve uma leitura muito redutora, como se existisse apenas um capítulo”, adverte.

O assistente do DNPF considera que, neste documento, o Papa deixa clara a necessidade de que as famílias sejam “protagonistas” na ação da Igreja Católica.

A entrevista aborda a experiência da pandemia, em que se falou várias vezes da “Igreja doméstica”, em cada casa.

Para o padre Francisco Ruivo, “uma família torna-se família na medida em que se encontra na comunidade, a grande família”.

A Igreja, assinala, é um espaço privilegiado para que cada um assuma a própria “missão”.

“Corremos o risco de as famílias se acomodarem a este modelo e ficarem numa bolha de conforto, com dificuldades em ultrapassar essa fronteira”, aponta o assistente do DNPF.

O responsável assume a necessidade de rever as propostas de preparação, com estruturas de “acompanhamento” nos primeiros anos de casamento e para situações de “risco, dificuldade”.

“A grande lacuna, num campo difícil, são a preparação no caminho dos namorados e a criação de gabinetes de apoio para casais jovens”, indica.

O assistente do DNPF elogia a valorização dos mais velhos que marca o início do ano dedicado às famílias.

O Papa instituiu em janeiro o “Dia Mundial dos Avós e dos Idosos”, que se vai assinalar no quarto domingo de julho, junto à celebração litúrgica de São Joaquim e Santa Ana (26 de julho).

A Santa Sé preparou, para o ano especial dedicado às famílias, um conjunto de propostas espirituais, pastorais e culturais, além de 12 percursos de reflexão.

OC

Francisco publicou a 8 de abril de 2016 a sua exortação apostólica sobre a Família, ‘Amoris laetitia’ (A Alegria do Amor), uma reflexão que recolhe as propostas de duas assembleias do Sínodo dos Bispos (2014 e 2015) e dos inquéritos aos católicos de todo o mundo.

Ao longo de nove capítulos, em mais de 300 pontos, o Papa dedica a sua atenção à situação atual das famílias e os seus numerosos desafios, desde o fenómeno migratório à “ideologia de género”; da cultura do “provisório” à mentalidade “antinatalidade”, passando pelos dramas do abuso de menores.

A exortação apresenta um olhar positivo sobre a família e o matrimónio, face ao individualismo que se limita a procurar “a satisfação das aspirações pessoais”.

O Papa observa que a apresentação de “um ideal teológico do matrimónio” não pode estar distante da “situação concreta e das possibilidades efetivas” das famílias “tais como são”, desejando que o discurso católico supere a “simples insistência em questões doutrinais, bioéticas e morais”.

Nesse sentido, propõe uma pastoral “positiva, acolhedora” e defende, no seu capítulo oitavo, um caminho de “discernimento” para os católicos divorciados que voltaram a casar civilmente, sublinhando que não existe uma solução única para estas situações.

«Amoris Laetitia»: Igreja quer chegar às famílias em crise, num ano especial

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