Amor: sinónimo do desenvolvimento

Comunicação de D. Jorge Ortiga, Presidente da CEP, aos participantes do Encontro das Igrejas Lusófonas 1 – “Nós cremos no amor de Deus – deste modo pode o cristão exprimir a opção fundamental da sua vida” (D.C.E. 1). “Uma vez que Deus foi o primeiro a amar-vos (cf. Jo 4,10), agora o amor já não é um “mandamento” mas é a resposta ao dom do amor com que Deus vem ao nosso encontro” (Ib.1). Num tempo de ambiguidades e uma certa confusão no interpretar o fenómeno religioso, o cristianismo é interpelado a centralizar-se no essencial: uma vida resultado do amor de Deus Pai que só pode encontrar a sua verdadeira identidade no deixar-se possuir pelas exigências desse amor para o visibilizar numa transparência que confunde egoísmo e indiferenças. 2 – A Igreja, em todas as suas expressões, comunidade local, passando pela Igreja particular, até a Igreja universal na sua globalidade – deve assumir o amor como o primeiro dever. Não basta que o façam os fiéis individualmente. Toda a comunidade eclesial tem este caminho. “A Igreja, enquanto comunidade, também deve praticar o amor” (D.C.E. 20). Duas verdades convergentes aparecem como conaturais ao ser do cristianismo. É-se cristão pelo amor; é-se Igreja pelo amor. 3 – Característica fundamental do amor pode ser a humildade e o silêncio. As coisas pequenas adquirem a mesma importância que aquelas de grande alcance; o concreto do quotidiano pode parecer desapercebido e silencioso. Tudo adquire valor de imensidade se expressa o amor. 4 – Aparece, porém, outra dimensão. O mundo torna-se uma aldeia e os males avolumam-se exigindo respostas devidamente organizadas e estruturadas. O amor, regra geral, nasce do improviso. Acontece no momento que passa com a espontaneidade de quem escuta a voz de quem amou primeiro a sugerir o que deve ser feito. Sendo maravilhoso este hino da caridade no concerto inesperado, as carências hodiernas estão já verdadeiramente definidas e conhecem-se no seu dramatismo alucinante. Isto supõe a concretização dum outro princípio. “O amor também precisa de organização, enquanto pressuposto para um serviço comunitário ordenado” (D.C.E. 20). A organização supõe objectivos, meios e consciência dos destinatários. Tudo numa interpretação de discernir as causas dos males, um adiar respostas. Os estudos da mais variada ordem podem ser um alicerce dum trabalho devidamente organizado. Nunca poderemos ficar aí. Importa deixar-se partir conduzidos pelas asas do Espírito para que as vidas não se percam ou encontrem limites no imediato das situações. Isto supõe uma organização da Igreja como resposta ao imediato ousando procurar chegar em primeiro lugar e a capacidade de estruturas estáveis com capacidade concreta sem gastar todos os dividendos com as pessoas que “servem” estas instituições. O importante é a pessoa que sofre e os intermediários são apenas isso. Se estes se procuram “abastecer” em vez de servir confundem-se com organismos onde falta o “espírito”, ou seja, o amor. Trata-se dum problema sério que nunca nos pode tranquilizar. Há, ou pode haver, sempre surpresas. Só um permanente exame de consciência e confronto com os objectivos das instituições, com a coragem de rectificar ou de afastar mal intencionados pode dignificar o espírito cristão. Um amor organizado, e o que afirmo pode ser discutível, deve assumir-se como diferente. Não pode ser meramente filantrópico; terá de ser agápico. Só que diferente pode não querer dizer separado doutros serviços. A identidade não se perde quando se assume a dinâmica da incarnação. Ser capazes de estar com os outros, numa verdadeira parceria fraterna, oferecendo a nossa originalidade e recebendo as mais valias ou sinergias complementares. Não basta uma relação utilitarista ou oportunista. Aí devemos ser o que somos e importa verificar se não podemos ou devemos dar a esses “companheiros de jornada” o nosso específico. 5 – Concluindo, recordo duas ideias/síntese de Bento XVI. 5.1 – “A natureza íntima da Igreja exprime-se num tríplice dever: anúncio da Palavra de Deus (Kerygma-martynia), celebração dos Sacramentos (liturgia), serviço da caridade (dakonia). São deveres que se reclamam mutuamente, não podendo ser separado dos outros” (D.C.E. 25). Tudo orientado e de maneira igual para manifestar Deus como amor e/ou o Amor de Deus. 5.2 – “A Igreja é a família de Deus no mundo. Nesta família, não deve haver ninguém que sofra por falta do necessário. Ao mesmo tempo, porém, a caritas-agape estende-se para além das fronteiras da Igreja” (D.C.E. 25). O amor é universal – dentro e fora da Igreja. A parábola do Bom Samaritano é paradigmática. “Mas, ressalvada esta universalidade do mandamento do amor, existe também uma exigência especificamente eclesial – precisamente a exigência de que, na própria Igreja enquanto família, nenhum membro sofra por passar necessidade” (D.C.E. 25). Este encontro das Igrejas Lusófonas tem esta motivação. Tornar o amor força para um desenvolvimento integral – de todo o homem e do homem todo. A língua pode ser um pretexto não para separar dos dramas universais mas por fortalecer os laços dum amor visível entre nós. Com o amor o desenvolvimento apressa-se e a paz e a harmonia permitem um alento especial para partirmos, como Igreja dum país ou colegialmente, ao encontro das coisas incompreensíveis do mundo hodierno. D. Jorge Ferreira da Costa Ortiga, Arcebispo Primaz

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