Alagoa quer conservar painel de frescos redescoberto

Foi encontrado um painel de frescos na parede do altar-mor da igreja de Nossa Senhora da Alagoa, em Argomil, uma anexa da freguesia de Pomares, no concelho de Pinhel. A descoberta foi feita pelo restaurador de arte António Barreiros, durante as obras de recuperação do retábulo do altar do templo religioso. A pintura com 4,10 metros de largura e 3 metros de altura apresenta cinco passagens do Novo Testamento, referentes à Virgem Maria. Na parte central do painel está representada a Assunção de Nossa Senhora e nos laterais aparecem a Anunciação, a visita de Maria a sua prima Santa Isabel, o Nascimento de Jesus Cristo, e a Adoração dos Reis Magos. “São peças magníficas, apesar de algumas estarem em adiantado estado de degradação”, salienta António Barreiros. O painel que se encontra bastante danificado, embora as representações sejam perfeitamente visíveis, foi posto à vista após um minucioso trabalho desenvolvido por António Barreiros. “Estava tudo completamente coberto de cal”, conta o restaurador, acrescentando que foi necessário ter muito cuidado na operação de retirar a camada que tapava o “tesouro”. “O fresco apareceu depois de serem movidos uns madeiramentos que estavam na tribuna a nível do altar, e ao serem retirados esses madeiramentos começam a aparecer aspectos parciais de figuras pintadas. Este fresco foi executado sobre um outro pré-existente, isto terá acontecido porque houve necessidade de fazer obras ou porque tenha havido uma derrocada do edifício”, explicou António Barreiros ao Jornal A Guarda, acrescentando que já informou o pároco sobre a sua existência. O retábulo de madeira, que está a ser recuperado, vai ser colocado no sítio original, mas o fresco ficará à vista. “Acho que é imperioso, nas zonas onde houve incisão de caibramento, devido às obras que decorreram ao longo dos tempos, regularizar a superfície. Nada de interferir nas policromias, mas preencher esses buracos com argamassas próprias. Seria importante que fossem feitas algumas intervenções principalmente no que concerne ao suporte do fresco”, opina. “Vou libertar as entradas de luz pela parte lateral do altar, que vão ficar agora com vidros para receber a luz directa, a luz do dia”, explicou António Barreiros. Em relação a este achado, o presidente da Comissão Diocesana de Arte Sacra, cónego Cunha Sério, diz que: “As contínuas evoluções de gostos e possibilidades vão mudando estilos e formas de comunicar entre os homens. Também nas maneiras de construir e ornamentar os templos tal se verifica. Se, entre nós, as estátuas sagradas enchem as igrejas, nem sempre, nos tempos antigos, se optava pela escultura. Ainda hoje no Oriente Cristão, dificilmente se encontrará qualquer imagem esculpida. Os ícones são a representação habitual dos mistérios divinos ou dos santos”. Cunha Sério acrescentou que “o afresco merece, agora, um estudo aprofundado”, adiantando que a sua descoberta será comunicada à delegação do IPPAR – Instituto Português do Património Arquitectónico de Castelo Branco. “Deve ser comunicado ao IPPAR que tem pessoas mais competentes para estudar essas coisas porque nós, na Comissão de Arte Sacra não temos pessoas que estejam muito habilitadas à arte antiga”, refere. O mesmo responsável diz também que, tendo em conta a descoberta da pintura, “é normal, por causa do gosto pelas coisas antigas, que tenha mesmo que proceder-se a uma reconstrução diferente, mesmo do retábulo que cobre este achado, pondo-o ainda mais à vista, porque são coisas bastante raras e nós gostamos de as ver”. O presidente da Comissão Diocesana de Arte Sacra diz ainda que este caso, vem redobrar os cuidados a ter em relação às intervenções efectuadas nos templos religiosos. “É necessário estarmos muito atentos a todas estas descobertas e às reconstruções que se vão realizando”, opina. Os habitantes de Argomil estão satisfeitos com a descoberta, pois segundo António Barreiros, “as pessoas interessaram-se e acarinham esta peça de uma forma muito interessante”. As obras de restauro do retábulo do altar começaram em Maio e vão estar prontas no dia 8 de Setembro, quando é realizada a festa anual de Nossa Senhora da Alagoa. A igreja está implantada no alto de um planalto e no altar-mor está a imagem de Nossa Senhora da Alagoa, vestida de manto e túnica de cor azul. Na origem da edificação do templo religioso está uma lenda que fala de uma pequena pastora e de uma imagem da Virgem que a ajudou a sair de uma situação muito aflitiva, após ter caído numa lagoa que existiu nas proximidades.

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