África: Bispo de Pemba alerta que «grande parte» dos terroristas «são jovens moçambicanos»

Responsável católico sublinha que «injustiça da corrupção é muito grande»

Foto: Fundação AIS

Pemba, Cabo Delgado, Moçambique, 16 set 2022 (Ecclesia) – O bispo de Pemba, diocese do norte de Moçambique, disse que “grande parte” dos terroristas são jovens locais, que se deixaram “aliciar para a violência”, alertando para a “injustiça da corrupção”.

“Facilmente se escondem, vigiam os movimentos das Forças de Defesa de Moçambique e vão agindo quando estão distantes. E quando aparecem as forças, eles já não estão”, explicou D. António Juliasse, em entrevista à Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), enviada hoje à Agência ECCLESIA.

O responsável católico assinalou que é importante perceber as causas que levam à adesão aos grupos extremistas e se deixaram “aliciar para a violência” pelos que promovem a radicalização, como grupos terroristas que se identificam com os jihadistas do autoproclamado Estado Islâmico, o Daesh.

A Igreja Católica já identificou algumas razões para esta adesão, como a pobreza, a corrupção e a falta de perspetivas de futuro, e, segundo o entrevistado, os bispos e algumas pessoas da sociedade civil defendem que “a solução miliar não será a única, porque estes jovens são moçambicanos”, pelo menos a maioria.

Há uns privilegiados, porque estão no centro da decisão, no centro do poder, e os seus filhos podem ter mais privilégios do que os outros, e os jovens sentem essas injustiças. A injustiça da corrupção é muito grande e os jovens protestam contra tudo isso”.

O bispo de Pemba, na Província de Cabo Delgado, realçou que toda a sociedade moçambicana deve estar envolvida, as lideranças, inclusivamente a Igreja, “na mobilização para que se semeiem sempre atitudes, pensamentos, e visões para a paz e estabilidade no país”.

“Nós ainda não fomos abordados oficialmente para a necessidade de colaborar. Fazemos o nosso esforço, como é próprio da natureza da Igreja, de transmitir o amor e a paz entre todos, mas não estamos ligados às outras forças da sociedade numa ação conjunta. Nós temos feito os nossos encontros religiosos, com líderes cristãos, líderes muçulmanos”, observou.

Os ataques terroristas começaram em outubro de 2017, no norte de Moçambique, mas, desde o verão, têm registado novos ataques, “cada vez mais para o sul”, como na província de Nampula, “agravando ainda mais a já profunda crise humanitária”, como na Diocese de Nacala, onde, segundo o bispo local, D. Alberto Vera, estavam em movimento, “provavelmente, 100 mil pessoas”.

Na Diocese de Nacala, na noite de 6 de setembro, foi morta a tiro a irmã Maria de Coppi, freira italiana comboniana de 83 anos de idade, num ataque terrorista à missão católica de Chipene, e já é vista “como mártir”.

“Que o seu testemunho dê força e coragem aos cristãos e a todo o povo moçambicano”, desejou o Papa Francisco, a 11 de setembro, desde a janela do apartamento pontifício, após a recitação do ângelus.

À fundação pontifícia AIS, D. António Juliasse, que esteve em Portugal no contexto da colaboração que existe entre a Diocese de Pemba e a Arquidiocese de Braga – um projeto missionário na paróquia de Ocua, distrito de Chiúre – deixou um alerta para a urgência da ajuda humanitária em Moçambique, para que o mundo não se esqueça deste país, dos deslocados e das vítimas do terrorismo, por causa da guerra na Ucrânia.

CB/OC

 

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