Açores: Deus, natureza e diversidade marcam espiritualidade, sublinham padres naturais do arquipélago

Catolicismo de festa, penitência e caridade está exposto ao decréscimo da prática religiosa e à indiferença

Lisboa, 29 mai 2012 (Ecclesia) – A natureza, a perceção da divindade e a diversidade cultural das nove ilhas dos Açores são fatores que marcam a festa, a penitência e a caridade associadas à espiritualidade católica, sublinham dois sacerdotes naturais do arquipélago.

“Existe uma certa imagem da religiosidade açoriana de que os sismos, os vulcões, o isolamento, a imensidão por vezes medonha do mar, facilmente faz o povo dobrar os joelhos e levantar a voz diante de um Ser, Omnipotente”, escreve o cónego António Rego na edição de hoje do Semanário Agência ECCLESIA.

O jornalista e anterior diretor do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais da Igreja anota que os açorianos têm “uma propensão para o sobrenatural” que lhes oferece a “capacidade para integrar o divino na sua vida”.

Esta espiritualidade, baseada nos primeiros evangelizadores do arquipélago, ganhou “uma extensão cosmopolita pelos muitos açorianos que se espalharam pelo mundo e levaram na sua identidade pessoal essa relação com o divino tanto na expressão penitencial como na festiva”.

O sacerdote lembra as festas do Espírito Santo, nascidas “e quase apagadas” em Portugal continental, com as suas pequenas igrejas chamadas impérios e os seus rituais dirigidos pelo povo, onde o sacerdote “entra minimamente”.

“O sentido profundo da ‘caridade’ para com os necessitados, expressa hoje de outras formas, mantém a genuinidade do respeito profundo pelo Divino Espírito Santo e o cumprimento rigoroso dos ritos populares anexos à distribuição da massa, do pão e do vinho”, assinala.

A vertente penitencial manifesta-se por exemplo nos romeiros, homens que na Quaresma percorrem a pé a ilha de São Miguel, parando em todas as igrejas e capelas dedicadas à Virgem Maria: Durante uma semana ouve-se “o rosário em canto chão doce e comovido, repetido e desenhado no alto de montanhas e ribeiros serenos”.

O bispo de Angra, D. António Sousa Braga, considera que a religiosidade popular determina a programação da diocese e constitui “um ótimo ponto de partida” para o anúncio da mensagem cristã.

“Estou convencido que a nova evangelização tem muitas oportunidades no reconhecimento dos valores reais da fé cristã que existem nas manifestações de religiosidade popular”, acentua o prelado em entrevista publicada neste número do Semanário.

Para o padre Cipriano Pacheco, membro do Conselho Episcopal da Diocese de Angra, a “natureza arquipelágica” dos Açores “constitui uma oportunidade de catolicidade, na medida em que permite conjugar dimensões como identidade, unidade e diferença ou diversidade”.

O catolicismo é uma “prática religiosa comum a todas as ilhas, mesmo se cada uma delas possa representar alguma diversidade no que toca às formas de expressão”, salienta o sacerdote nesta edição do Semanário, cujo tema central é dedicado à Diocese de Angra.

A religiosidade insular está exposta às mesmas influências e alterações de outros lugares: “Também nos Açores, se assiste ao decréscimo da prática religiosa, à ocorrência da indiferença e à adoção de posicionamentos, modos de pensar e de viver em consonância com as influências do tempo presente”, refere.

RJM

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