Acção Católica Portuguesa: 75 anos da Carta de Pio XI

“A Acção Católica (AC) é a forma de apostolado que melhor se adapta às necessidades do tempo actual” – lembrava o Papa. Dias da Fundação da AC Dias depois da Carta de Pio XI ao Cardeal Patriarca de Lisboa, o Episcopado Português reúne-se e aprova as bases em que deve assentar a Acção Católica Portuguesa. Num dos pontos deste documento sublinha-se que os católicos para entrarem neste organismo deve inscrever-se numa das seguintes organizações nacionais: Liga dos Homens da Acção Católica (LHAC); Associação da Juventude Católica Masculina (AJCM); Liga das Mulheres da Acção Católica (LMAC) e Associação da Juventude Católica Feminina (AJCF). “Só se consideram de pleno direito militantes da Acção Católica Portuguesa, os católicos inscritos em alguma das quatro organizações nacionais” – lê-se no comunicado do Episcopado. O documento refere também que promover-se-á também a “organização das crianças, em ordem a serem enquadradas na Acção Católica Portuguesa”. As bases indicam que o Dia da Festa de Cristo Rei será, “por excelência, o Dia da Acção Católica”. Critérios de actuação Ao dirigir ao Cardeal Patriarca de Lisboa, Manuel Gonçalves Cerejeira, a 10 de Novembro de 1933, a carta «Ex officiosis litteris», relativa à constituição e critérios de actuação da Acção Católica Portuguesa (ACP), Pio XI lembrava que, embora “muitos fiéis ainda o ignorem, o apostolado é um dever necessário da vida cristã; e que a Acção Católica (AC) é a forma de apostolado que melhor se adapta às necessidades do tempo actual” (Cf. Moniz, Jorge Botelho – Presença da Acção Católica em Portugal. Boletim da Acção Católica Portuguesa. (1958) 287.). Nesse mesmo mês de 1933, na Conferência Plenária do Episcopado português foram aprovadas as bases orgânicas da AC e definindo-a como “o conjunto das organizações do laicado católico português que propõe a difusão e a defesa dos princípios católicos na vida individual, familiar e social, sob a directa e inteira dependência da hierarquia e por mandato desta recebido” (Ibidem). Uns meses antes (2 de Fevereiro), o cardeal Gonçalves Cerejeira foi nomeado Director Nacional da Acção Católica “por delegação do episcopado português” (Cf. Vieira, Joaquim – Fotobiografias Século XX – Cardeal Cerejeira. Lisboa: Círculo de Leitores, 2002.) Se a doutrina da Igreja Católica for bem conhecida, “não duvidamos que um novo entusiasmo pelo apostolado os venha a inflamar e a impelir a uma acção intensa” – escreve Pio XI na carta endereçada ao Cardeal Patriarca de Lisboa. Linhas mestras da Carta de Pio XI Nestas Bodas de Diamante da carta enviada por Pio XI ao Patriarca de Lisboa convém recordar três pontos fundamentais dessa missiva para o sucesso da ACP: “preparação de dirigentes”; “preferência da qualidade à quantidade dos associados” e “a manutenção de uma posição acima e à margem das actividades e dos partidos políticos”. Apesar destes apelos de Pio XI, Jorge Botelho Moniz acrescenta que estes não devem obstar a que cada um dos católicos “possa e mesmo deva participar na vida política, inspirado nos princípios cristãos, e procurando contribuir para que eles informem as relações sociais”. Estes princípios são condições essenciais para a sua eficácia visto que a AC, tal como a Igreja, da qual é colaboradora, não busca directamente um fim próprio da vida terrena, mas sim da vida sobrenatural. (Cf. Boletim da Acção Católica Portuguesa (1934-35) 5-11.) A eficácia das boas leituras (livros e periódicos) tanto nas famílias como na sociedade civil a “ninguém passa despercebido” – lê-se na carta de Pio XI. Na missiva, Pio XI alerta também para a “particular necessidade da assistência às classes operárias, do ensino da doutrina cristã às crianças” e da defesa e difusão “da imprensa católica”. Esta “união de forças” deve superar todos os motivos de divisão puramente temporais e, através da formação apostólica, resultará naturalmente a acção. Por boa imprensa, entende-se aquela que não só não ataque a religião e os bons costumes, “mas a que, como arauto, proclama e ilustra os princípios da fé e as regras da moral”. Uns anos de depois, Pio XII – numa mensagem enviada ao Congresso dos Homens Católicos (1950) – reforça os mesmo apelos: “os filiados da Acção Católica devem ser “católicos de fé e de mandamentos” para serem eficazmente católicos de acção. O seu zelo – lembrava ainda Pio XII – tem, naturalmente, imediato campo de “acção no seio da própria família”, onde os pais devem ser os primeiros educadores, pela palavra e pelo exemplo. As horas difíceis Numa entrevista concedida ao jornal «Novidades», a propósito dos 25 anos da ACP, D. José Pedro da Silva, Assistente Geral deste organismo, sublinha que o maior benefício do apostolado da A.C foi “ter despertado nos católicos o sentido de Igreja. Operou também a renovação cristã de um escol, ainda proporcionalmente reduzido, mas que, à semelhança do fermento, tem exercido uma influência directa ou indirecta no meio católico português”. Apesar do caminho feito e do contributo para uma “nova florida Primavera na vida da Igreja em Portugal”, Pio XII alerta que “a hora actual é uma hora crítica e muito difícil”. D. José Pedro completa: “a hora é, na verdade, de luta, e o mundo vai-se definindo cada vez mais em dois blocos irredutivelmente opostos, o dos que afirmam e o dos que negam Cristo”. Num texto escrito no Boletim da ACP de 1944 – «Mentalidade Católica e Acção católica» – salienta-se que o cristão não pode entregar-se “àquele quietismo inoperante, que a Igreja condena como contrário à fé”. Na caminhada terrena, “o fiel tem igualmente de fazer da vida milícia contínua, por vezes corajosa e áspera” porque “o apostolado é um corolário da vida interior”. Fátima e a Acção Católica Desde os primeiros tempos, a evan-gelização nos mais variados meios foi apanágio da ACP. Todavia, desde a primeira hora, a ACP timbrou em manifestar a sua devoção, “sincera e comovida a Nossa Senhora de Fátima” (Cf. [Salgueiro], Manuel [Trindade], bispo de Helenópole – Nossa Senhora de Fátima e a Acção Católica. Boletim da Acção Católica Portuguesa. (1942) 1.). Neste mesmo texto realça-se que é “dever filial da AC prestar a Nossa Senhora de Fátima as suas homenagens”. Desde o começo da ACP que o episcopado português colocou sob o patrocínio de Maria este “movimento de reconquista cristã” e “facilmente se reconhece que Nossa Senhora não tem abandonado a obra”. (ibidem).

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