A Vitalidade do CADC

Novo número da nova série da Revista «Estudos» é “uma edição notável” – sublinha Marcelo Rebelo de Sousa “Uma edição notável” foi assim que Marcelo Rebelo de Sousa definiu o número três da nova série da Revista «Estudos», editada pelo Centro Académico de Democracia Cristã (CADC). Este número tem dois tomos e reflecte sobre uma panóplia de temas ou “uma riqueza temática” como lhe chamou Marcelo Rebelo de Sousa, na sessão de lançamento, dia 3 de Maio, na Livraria Almedina, em Lisboa. O CADC foi fundado nos alvores do século XX como Associação de Estudantes mas depressa se distinguiu pela defesa do humanismo cristão e afirmou-se durante décadas como instituição de primeira importância na vida académica de Coimbra e na vida cultural e social do país. Os seus sócios promoveram uma inconfundível intervenção no plano da cultura (através da revista Estudos e de outras publicações, através de colóquios e palestras) e no plano Sócio-Caritativo (através do lactário, das conferências vicentinas, da Obra dos Presos, e de outras acções). Na apresentação do volume, Marcelo Rebelo de Sousa – apoiado “numa preciosidade encontrada num alfarrábio” (1º Sermão do Cardeal Cerejeira) – relata o ambiente vivido nos primórdios do século passado. “Tempos onde o espírito radical e anti-clerical” dominavam a época e o CADC é “uma resposta da Igreja Católica à Maçonaria” – sublinha Marcelo Rebelo de Sousa. E acentua: “também serviu de apoio à Imprensa Católica”. Pelo CADC passaram, e nele em parte se formaram, gerações sucessivas de estudantes de Coimbra; por outro, inúmeros sócios desta instituição destacaram-se depois em todos os sectores da vida pública nacional (política, magistratura, magistério, ciência, arte e sacerdócio). Todos eles, mesmo os que chegaram a assumiu as mais altas responsabilidades no Estado, na Igreja e na Sociedade Civil, testemunharam sempre quanto haviam ficado a dever à experiência juvenil no CADC. “Imaculada Conceição; Cardeal Ratzinger e Habermas; Cristianismo e Europa; Fé e Ciência; Kant, Congar e Rahner; Concordata, Educação e Universidade, Família e Trabalho; Artes e CADC na História” são os pilares do n.º 3 da nova série da Revista. Em Janeiro de 2004, a Academia Católica na Baviera promoveu um encontro entre o Cardeal Joseph Ratzinger, agora Bento XVI, e o filósofo Habermas. Pertencendo a uma mesma geração – profundamente marcada pela tragédia da Segunda Guerra Mundial – Ratzinger e Habermas trilharam caminhos distintos mas são dois intelectuais da sociedade contemporânea. Nesse diálogo cultural, o cardeal Ratzinger realça que no ritmo acelerado do desenvolvimento histórico “que nos é dado viver, creio que se destacam, antes de mais, dois factores como indícios de uma evolução que, outrora, só lentamente se fazia sentir. O primeiro deles é a constituição de uma sociedade mundial, em que os poderes particulares da política, da economia e da cultura surgem cada vez mais interdependentes, tocando-se e interpenetrando-se mutuamente nos seus diferentes espaços vitais”. (Revista Estudos n.º 3, pág. 57) No fundo, o CADC assumiu este papel nas primeiras décadas do século: espaço de diálogo e reflexão cristã. O CADC foi fundado para dar uma “resposta moral, e não uma resposta política, à questão social que, na altura, na viragem do século, se agudizava também em Portugal” Concebido desde o início como um Centro de Estudos, “semelhante aos que existiam lá fora também lançados pelo movimento democrata cristão”, para dobrar e reforçar, “através da reflexão doutrinária, os Círculos Católicos de Operários” (In: «Origens e primeiros tempos do CADC», em «O CADC na vida da Igreja e da Sociedade Portuguesa» de Manuel Braga da Cruz ). Num dos blocos temáticos – Cristianismo e Europa –, o ex-Presidente da Comissão Europeia, Romano Prodi, refere que a Europa “não é o berço original do Cristianismo”, no século III (ano 245), quando a maioria dos europeus professava ritos pagãos, “já existiam 24 episcopados no vale do Tigre e do Eufrates”. Não nasceu na Europa mas “não se pode duvidar que o Cristianismo tenha contribuído para a composição dos valores, dos ideais e das esperanças que hoje são pertença da cidadania europeia” (In «A Europa das Instituições e a Europa dos Carismas trabalham em conjunto» pág. 76 e 77). Os pais do continente europeu foram “cristãos convictos e inspiram-se na sua fé para construir a Europa”. Com espírito ecuménico, de tolerância, respeito pela diferença e pelo outro, “o fermento religioso pode dar à Europa a alma que o nosso continente não pode deixar de ter” (ibidem). Se o Cristianismo ajudou a crescer e a moldar a Europa, o CADC ajudou a crescer e moldar muitas personalidades portuguesas do século XX. Os tempos são outros mas o CADC ainda está vivo e pretende “animar espaços de tertúlia e convívio”; “exercitar a formação humana e espiritual” e “organizar conferências e debates” – refere o programa de actividades. Com mais de um século de vida, o CADC ocupa um lugar privilegiado no campo cultural.

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