A relevância da fé perante mundo em descrença

Octávio Carmo, Agência ECCLESIA

A primeira encíclica de Francisco é, como o próprio admite, um texto escrito a quatro mãos, com uma marca significativa deixada pelo agora Papa emérito Bento XVI. Associando reflexão teológica, a análise bíblica, o contributo da literatura e os questionamentos da filosofia, a ‘Lumen fidei’ surge como um roteiro para os católicos em defesa da relevância da fé num mundo em que a descrença e, sobretudo, a desconfiança face à verdade vão ganhando terreno.

O objeto deste documento magisterial é claro: a palavra fé surge na encíclica mais de 350 vezes, sendo definida na sua relação com Deus e a Igreja, bem como em contraposição a várias ideologias ou preconceitos relativamente ao que é professado pelos católicos.

Para o Papa, na senda do seu antecessor, a fé uma proposta válida que ultrapassa os riscos do relativismo e visões individualistas, sem se limitar a uma visão estática da espiritualidade, a uma espécie de alienação da realidade.

A fé, escreve Francisco, não se impõe, não deve alimentar fundamentalismos, mas deve ajudar a dar sentido à vida humana e abrir horizontes para a construção de uma sociedade com esperança no futuro, mais justa e fraterna.

Esta primeira encíclica dirige-se sobretudo para o interior da Igreja e para a necessidade de assumir a memória e o património da fé, uma experiência transformadora e libertadora que ninguém está dispensado de transmitir, segundo o Papa.

O texto, aproximadamente do mesmo tamanho da primeira encíclica de Bento XVI – ‘Deus caritas est’ – vai marcar por certo as análises aos primeiros meses do atual pontificado, mas fica também como um testemunho ao magistério do Papa emérito, cujo pensamento é perfeitamente reconhecível ao longo da encíclica, desde logo na referência inicial a Nietzsche e aos “tempos modernos” que questionam a fé como algo do passado, limitando o alcance da existência humana.

A resposta a este desafio é plenamente assumida por Francisco, que lança a Igreja ao encontro desta “crise” da verdade com a luz da fé, capaz de iluminar toda a existência, como escreve.

“Longe de nos endurecer, a segurança da fé põe-nos a caminho e torna possível o testemunho e o diálogo com todos” – uma constatação do Papa argentino que é também um pedido, fundamental num cenário internacional marcado pelas crises, os extremismos e a falta de esperança.

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