Padre Miguel Peixoto, Diocese de Lamego
O mês de agosto é por tradição um mês preenchido por inúmeras festas e romarias, cujas celebrações procuram centrar a vida do cristão na vivência da sua identidade de filho de Deus, tendo como referência a vida edificante de alguém, que neste mundo soube dilatar o amor que Deus lhe confiou.
Muitas destas festas e romarias sensibilizam para uma vivência comunitária concretizada na preparação das celebrações onde a dimensão eclesial não é esquecida. Por outro lado, as festas e romarias, são também escolas de crescimento humano e espiritual, procurando acrescentar fervor e amor na vida de quem as celebra. Para tal, basta ver o empenho dos grupos de mordomos que multiplicam atividades de angariação de fundos para que as festas se realizem e os devotos se congreguem para prestar a sua veneração.
A experiência da festa e da romaria é também oportunidade para refletir na condição de peregrino que cada crente deve assumir. De facto, a Sagrada Escritura, ao apresentar o povo de Deus, descreve-o quase sempre como um povo em caminho, movimento esse que simboliza o processo de conversão a que somos chamados.
Esta experiência de saída, de ir ao encontro do outro, tem a sua fonte na própria Trindade, onde as relações intratrinitárias se operam num percurso que tem como meta a outra pessoa divina e que é impulsionado pela plenitude de amor que cada uma possui.
Assim, a experiência de saída enriquece a vida do cristão na medida em que dá o melhor que tem em si, num processo que é sempre comunitário e que favorece a evangelização. A este propósito, o Papa Francisco, no número 124 da sua Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, refere que “a espiritualidade popular é um modo legítimo de viver a fé, um modo de se sentir parte da Igreja e uma forma de ser missionários”, pois “comporta a graça da missionariedade, do sair de si e do peregrinar: o caminhar juntos para os santuários, levando os filhos ou convidando outras pessoas, é em si mesmo um gesto evangelizador”.
Caminhar para um santuário é colocar-se em atitude de saída, derrubando muros de indiferença e egoísmo, predispondo-se para uma atitude de abertura em relação a Deus e ao irmão.
Ao chegar a um santuário, esse processo não está concluído. Aí é possível fazer uma experiência de paz que brota do encontro com o Senhor ressuscitado, que desde a manhã de Páscoa partilha com todos os que reconhecem, pela fé, a Sua vitória sobre a morte e o pecado, mas também do borborinho da oração do irmão que marca o ritmo cardíaco do santuário e que estabelece o compasso da vida de piedade de todo aquele que entra neste lugar sagrado.
Em pleno mês de agosto, são muitas as propostas para alcançar a tão desejada paz, que ao longo do ano não é possível, vivendo um período de férias. Entre estas destaca-se, na vida do cristão, a peregrinação a um santuário e a vivência das suas novenas e celebrações. A diocese de Lamego mantem a secular novena a Nossa Senhora da Lapa (Sernancelhe), que decorre entre o dia 6 e 14 de agosto, onde o crente pode fazer uma experiência pessoal de encontro com Deus, sem nunca esquecer a dimensão eclesial que esta devoção proporciona.
Que este período seja oportunidade de experimentar essa paz, que um santuário sempre nos traz, renovando as nossas forças, ao mesmo tempo que consolidamos a nossa identidade de filhos de Deus.