A luz de Luiza

Pe Joaquim Ganhão, Diocese de Santarém 

Percorrer a história de Santarém no século XX leva-nos por variadíssimas vielas onde se cruzam acontecimentos extraordinários e cheios de luz, com outros tantos desencontros que, para os crentes, se tornam desafio e oportunidade.

Luiza Andaluz vai na dianteira daqueles para quem o acontecer da história se torna o lugar do concreto de Deus, o espaço de oportunidade certa e concreta para anunciar, oportuna e inoportunamente o Evangelho, com uma invulgar capacidade de ler os sinais dos tempos e de lhes responder com arrojadas ousadias.

A memória ainda hoje bem viva na cidade que lhe deu berço narra-nos, com o encanto de discípulos, a sua presença cheia de uma luz contagiante, jamais apagada na vida daqueles que a conheceram ou que têm usufruído do seu carisma através das Congregação que fundou e aqui permanece.

Qual o segredo de Luiza Andaluz?

O segredo de Luiza foi ter-se deixado conduzir. A busca permanente da vontade de Deus no concreto da vida, conduz ao acolhimento do dom da santidade. E os Santos são aqueles que experimentaram de modo intenso o Amor misericordioso de Deus, que não puderam viver senão nesse amor e desse amor, seguindo a Cristo no caminho das Bem aventuranças. Como Ela afirmava: “não temas e segue o Cordeiro. Coloca os teus pés nas suas passadas e caminha confiante. É ele que te conduz”.

Vemos na vida da Madre Andaluz que a santidade é Dom de Deus mas exige disponibilidade da nossa parte para nos deixarmos transformar continuamente pela sua graça. Na sua experiência de fé afirmava: “É feliz quem sabe abraçar a Cruz que o

Senhor Lhe envia. O amor tudo transforma!” Porque “se quisermos saber quem é Deus, devemos ajoelhar-nos aos pés da cruz”.

A luz que brilha na vida Luiza é a luz do Ressuscitado que brilha nas trevas. Ela entendeu bem o convite do Mestre Divino. Entendeu-o e concretizou-o: Brilhe a Vossa Luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o Pai que está nos céus (Mt 5,16). Vemos hoje com clareza as boas obras de Madre Luíza Andaluz. Vemos essas boas obras espalhadas pelo mundo na irradiação missionária da congregação que nos deixou, vemo-las e gostaríamos de as ver ainda mais nas nossas dioceses e comunidades. Mas vemo-las também na concretização daquela conhecida exclamação de Jesus no Evangelho: tenho pena desta multidão (Mt 9,36)… Luíza Andaluz teve pena da multidão e soube olhar para ela com os sentimentos e a determinação do coração de Cristo. Intuiu o desafio das periferias do seu tempo e não se poupou nas respostas. Vivendo uma profunda comunhão com a Igreja, na pessoa do seu bispo e dos sacerdotes com quem cooperava ativamente, estimulou as vocações sacerdotais.  Amou a Cristo, Amou a Igreja, serviu os irmãos. Deixando os aconchegos do palácio tornou-se, Ela mesma, o aconchego dos pobres e a resposta oportuna às necessidades concretas da Igreja. Como o Senhor Jesus, compadeceu-se da multidão e deu-lhe de comer, deu-lhe instrução, deu-lhe afeto, mas também exigência de vida para que a dignidade sempre se retome e permaneça. Luiza é a mulher verdadeiramente transfigurada, que irradia aquela luz que penetra os espaços todos, onde o evangelho jamais chegaria apenas com palavras.

S. João Paulo II, lembrava-nos no início do novo milénio que “é hora de propor de novo a todos com convicção, esta medida alta da vida cristã: toda a vida da comunidade eclesial e das famílias cristãs deve ser conduzida nesta direção da santidade, isto é, da união com Cristo” (NMI, 31). A recente proclamação das virtudes heroicas da Serva de Deus Luiza Andaluz, na esperança da sua futura beatificação, estimula-nos a assumirmos esta missão que é nossa. Porque, como afirmava nestes dias o Papa Francisco, “Para um cristão, não é possível imaginar a própria missão na terra, sem a conceber como um caminho de santidade, porque «esta é, na verdade, a vontade de Deus: a [nossa] santificação» (1 Ts 4, 3). Cada santo é uma missão; é um projeto do Pai que visa refletir e encarnar, num momento determinado da história, um aspeto do Evangelho” (Gaudete et exultate 19).

Luiza entendeu isto de modo sublime e tomou para si esta orientação: “Passar fazendo o bem à imitação do Mestre Divino, tornar felizes os que nos rodeiam, que doce programa de vida!”

 

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