A Educação nos Meios de Comunicação

A escolha e tratamento de temas de educação tem clara relevância no desenvolvimento do nível educativo da sociedade A Educação é um assunto que interessa a um leque alargado de pessoas e sobre o qual todos têm algo a dizer. Por isso, o seu tratamento na comunicação social estimula o protagonismo, tanto quanto clama por sentido de serviço. Em Portugal, sendo bem conhecidos os múltiplos atrasos que ainda carregamos, não se vislumbram modos de recuperarmos deles sem um forte contributo do desenvolvimento educativo. Mas a palavra educação tem significados diversos e pode facilmente ser usada em contextos e com fins muito distintos. A educação é, assim, um bom desafio para quem quiser buscar a verdade para partilhá-la. O tema da próxima Jornada Mundial das Comunicações Sociais é «Os meios de comunicação social: na encruzilhada entre protagonismo e serviço. Buscar a verdade para partilhá-la». Trata-se de um bom incentivo a que encontremos modos de analisar a encruzilhada em que se encontra a educação para que possamos encontrar o que é essencial. O assunto surge em notícias e artigos de opinião, em editoriais, imagens, sons e outras formas de tratamento nos media. Aí se reconhecerão usos, explorações, inscrições, reveladores de grande diversidade de “autorias”. Umas estarão mais centradas no protagonismo, outras tenderão a mostrar mais a consciência de serviço. Assim, os órgãos de comunicação cumprem o seu dever de informar reflectindo a diversidade social, política, económica, cultural, de interesses, que caracteriza os tempos que vivemos. Portugal e os portugueses precisam de mais serviço dos meios de comunicação à Educação. Procurarei identificar algumas questões em que um tal desenvolvimento se justificaria. Num sentido restrito, a educação pode confinar-se à aquisição de conhecimentos e técnicas a que se atribui valor num dado momento na sociedade. É esta ideia de educação que prevalece quando o foco é posto unicamente nos resultados académicos e se organizam “rankings” baseados em classificações de exames ou quando apenas nos preocupamos com as matérias ensinadas. Contudo, a atenção dedicada recentemente à indisciplina em salas de aula está posta numa outra ideia de educação. Trata-se, então, de uma concepção ampla de educação centrada na formação do carácter, no ensino e na aprendizagem de princípios e valores, na aquisição de saberes e de atitudes que orientem as nossas relações em comunidade e a participação na sociedade. São dimensões que estiveram, sobretudo, na esfera de responsabilidade das famílias durante séculos e que nos últimos cinquenta anos se têm vindo a transferir para o universo da escola. Nesta concepção ampla, temos duas questões básicas, essenciais, em que os media deveriam “procurar a verdade e compartilhá-la” : – Que princípios fundamentais e finalidades essenciais de educação nos interessaria partilhar (pais, professores, educadores sociais, políticos, profissionais de informação e comunicação)? – Que valores deve a escola ensinar e praticar no seu quotidiano, por serem a matriz do tipo de sociedade em que concordámos, democraticamente, viver? Sabemos que a procura da notícia neste domínio conduz facilmente ao relato do episódio insólito, ao tratamento do assunto em termos de interesse imediato, ou da actualidade política em que se inscreve ou dos conflitos que enchem as agendas. E os artigos de opinião, as cartas, as imagens, as crónicas obedecem a uma lógica noticiosa e dificilmente podem sair da agenda dos media. Não surpreenderá, assim, que também a agenda política seja frequentemente condicionada por este pano de fundo, deixando para segundo plano a busca do interesse geral, a partir do estudo, consulta e debate, usando livros brancos, por exemplo. Por isso, seria tão importante que os meios de comunicação social gerassem oportunidades para pensar, analisar e debater questões educativas fora da agenda noticiosa. Três exemplos ilustrarão esta via. A vida das famílias e o entendimento que os pais têm das suas responsabilidades educativas mudaram profundamente. A relação das escolas com os encarregados de educação, em Portugal, é muito incipiente. As condições de trabalho não ajudam ao desenvolvimento de contextos facilitadores de parcerias sólidas e construtivas entre escolas e famílias. Como podemos estimular a discussão desta questão? A recuperação do nosso atraso educativo está numa fase em que se exigem respostas de natureza distinta das que usámos até aqui. Um dos problemas mais difíceis que temos de resolver tem a sua origem na diversidade das crianças que as escolas recebem hoje. Como será possível ter uma escola que responda a esta diversidade com mais equidade, maior eficiência e melhor qualidade? Os media são, cada vez mais, poderosos meios de formação. A cultura já não é o resultado de processos em que a educação familiar e escolar são convergentes e os seus únicos agentes. A comunicação social, em especial a televisão, é um importante agente de mudança cultural, a que se associam os novos media, com destaque para o telemóvel, a internet e o you tube. Será possível despertar o interesse e envolver na análise desta questão todos os interessados – pais, professores, profissionais de comunicação, educadores sociais, instituições? Sabemos que a escolha e tratamento de temas de educação nos meios de comunicação social tem clara relevância no desenvolvimento do nível educativo da sociedade, o que constitui elemento essencial para a afirmação da dignidade humana, da liberdade e da justiça social. Será que esta é uma verdade que os media podem ajudar a partilhar? Júlio Pedrosa de Jesus, Presidente do Conselho Nacional de Educação e Professor catedrático da Universidade de Aveiro

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