A cruz escondida

Padre salesiano esteve 18 meses em cativeiro no Iémen


O poder da oração

Esteve em cativeiro durante 554 dias. Foram 18 meses de sofrimento sem saber o que iria acontecer depois do violento ataque de um grupo de terroristas à casa das Irmãs Missionárias da Caridade em Áden, no Iémen. Durante o tempo de cativeiro, uma verdadeira eternidade, o Padre Tom agarrou-se a Deus e celebrou a Missa todos os dias. Em silêncio.

O dia 4 de Março de 2016 poderia ter sido banal, quase sem história para a cidade de Áden, a capital do Iémen, se um comando jihadista não tivesse irrompido pela casa das Irmãs da Caridade faltavam exactamente vinte minutos para as nove horas da manhã. Na casa funcionava um asilo para idosos e pessoas com deficiência. O Padre indiano Tom Uzhunnalil, que pertence à comunidade salesiana, haveria de recordar uma e outra vez tudo o que aconteceu nesse dia. Ao escutar o primeiro tiro apercebeu-se que a casa estava a ser atacada. Sem ter tido tempo para esboçar uma resposta, o Pe. Tom foi logo agarrado por um dos jihadistas que o amarrou a uma cadeira. Enquanto isso, quatro das cinco Missionárias da Caridade que tomavam conta do lar foram assassinadas a sangue-frio pelos jihadistas. Duas delas foram mortas mesmo ao lado do Pe. Tom. “Eu só rezei a Deus para ser misericordioso para com as irmãs e ter piedade dos perseguidores. Não chorei, nem tive medo da morte.” O ataque foi brutal. Impiedoso. Além das quatro religiosas, os terroristas assassinaram ainda outras 12 pessoas. Eram utentes do asilo. Eram velhos e pessoas com deficiência. Foram mortos como se fossem adversários, como se fossem inimigos. O Pe. Tom Uzhunnalil foi enfiado na bagageira do carro da missão e levado dali. “Senti grande angústia. Rezei a Deus para perdoar os assassinos e pedi ao Senhor que me desse a graça e a força de aceitar a sua vontade e permanecer fiel a Deus, para ser fiel à missão para a qual Ele me quis aqui, nesta terra.”

 

Orações de memória

Tinha começado o cativeiro do Padre Tom. Um cativeiro que se iria prolongar por um total de 554 dias. Os terroristas queriam um resgate. Obrigaram o Pe. Tom a fazer vídeos, dando a ideia de que estaria a ser maltratado e fizeram até correr a notícia de que pretendiam crucificá-lo. Sozinho, mal conseguindo comunicar com os seus captores, que falavam árabe entre si, o Pe. Tom passou a maior parte do tempo amarrado de mãos e pés. “Era prisioneiro e estava o dia todo sentado no chão, com as mãos e pernas amarradas.” Aos poucos, o Pe. Tom perdeu até a noção do tempo. Preso, sem qualquer possibilidade de fuga, sabendo que a sua vida dependia apenas da vontade dos terroristas, o Padre Tom concentrou-se na oração. “Todos os dias rezava o Angelus; três ou quatro terços; um Pai Nosso, Ave-Maria e Glória pelas irmãs falecidas; a Oração da Divina Misericórdia, meditava a Via-Sacra e celebrava a Santa Missa de maneira espiritual… rezava as orações de memória.” No dia 12 de Dezembro de 2017, o Pe. Tom haveria de ser libertado graças ao empenho pessoal do Papa Francisco e à intervenção do Sultanato de Omã. No dia seguinte, 13 de Dezembro, o Padre Tom seria recebido pelo Santo Padre. “Chorei profundamente diante dele, compartilhei a minha experiência. Foi muito empático, compassivo e preocupado por mim e beijou as minhas mãos duas vezes.” O rapto acabaria por transformar o Pe. Tom. De alguma forma ganhou uma vida nova. Os terroristas tiveram-no preso, debaixo da mira das armas. Durante o tempo de cativeiro, 18 meses de uma verdadeira eternidade, o Pe. Tom agarrou-se a Deus e rezou todos os dias. Em silêncio. “Fui testemunha do poder da oração.”

Paulo Aido | www.fundacao-ais.pt

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